Capítulo 24 - 99,9999974%

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Maximiliam Winkle

Olho para o relógio do celular. São cinco e trinta e sete da manhã e faz dez minutos que estou atualizando a página do laboratório na esperança que o resultado do teste saia. Dormi muito pouco, alternando entre um estado de semi-consciência para o de inconciência por alguns poucos minutos.

Me concentrar no trabalho, nas ultimas vinte e quatro horas foi impossível. Fui incapaz de tomar qualquer decisão que dependesse do mínimo de raciocínio lógico, porque todas as minhas sinapses estavam ocupadas em pensar sobre William e Nicole e em como minha vida mudaria.

Deslizo meu dedo pela tela do aparelho novamente, forçando a atualização do site, mas dessa vez há uma mudança. Um arquivo brilha numa sessão que, ate um minuto atrás, encontrava-se vazia. O corpo inteiro treme e é difícil até mesmo manter o celular preso em minhas mãos enquanto me esforço para apertar o local específico.

Passo os olhos pelo documento até chegar no ponto esperado.

"A probabilidade de paternidade foi de 99,9999974%.

O que significa que o suposto pai, Maximilian Konig Winkel, tem uma possibilidade de 99,9999974% de ser o pai biológico de William Muller, que tem por mãe a Sra. Nicole Muller.

Conclui-se que Maximiliam Konig Winkel é o pai biológico de William Muller.

Declaro que o laudo acima é a expressão da verdade."

O documento continua, mas sou não consigo ler as próximas palavras. Elas se tornaram irrelevantes.

O coração bate forte dentro do peito, o quarto gira ao meu redor. Pensei que nada mais poderia mudar, até porque já tinha praticamente certeza de que o bebê era meu, mas não podia estar mais enganado. O mundo parece ter virado de ponta cabeça de vez, tremendo as bases da minha vida e me obrigando a questionar cada maldita decisão que tomei nos últimos anos.

A culpa me atinge como uma enorme onda, me tirando o fôlego. Deixo o aparelho cair ao meu lado, enquanto apenas permito que meu cérebro jogue contra a minha cara as lembranças do momento em que coloquei Nicole para fora desta casa, sem a chance a dúvida. Eu não rejeitei apenas ela, mas o filho que ela carregava também. A criança que é tão minha quanto dela.

A consciência de que não conheço meu próprio filho e de que sou o único culpado por isso vem como uma tortura. Ela queima profundo, criando novas marcas e me obrigando a lembrar dos meus outros tantos malditos arrependimentos. Sinto que a garganta ameaça a fechar, deixando a passagem do ar mais restrita; é o pânico querendo tomar conta de mim, o desespero em saber que vou precisar encarar as conseqüências dos meus atos.

Me levanto, caminhando a passos largos para fora do quarto. Não penso muito em onde meus pés estão me levando, apenas aceito. Não bato na porta afrente, apenas giro a maçaneta, encontrando-a aberta.

— O que...?

Minha mãe acende a luz do quarto, sentando na cama. Seus olhos estão crispados pela claridade e sua feição é confusa. Quatro passos são os suficiente para cobrir a distancia e ela não diz nada quando me sento no colchão, e deixo minha cabeça cair em seu colo.

— Filho? — A voz da minha mãe vem de algum lugar.

A emoção me subjulga, rasgando meu corpo em milhares de doloridos pedaços. Eu, finalmente, convulciono em um choro que não consigo conter. As lágrimas escorrem, adentrando pela minha barba, molhando o travesseiro sob a minha cabeça.

Dói. Tudo dói.

A compreensão do fracasso é como uma bigorna que cai sobre a minha cabeça, me fazendo arfar. Não há nada pior que a dor do arrependimento, de não ser capaz de voltar ao passado e mudar as coisas. Achei que tivesse aprendido com Ingrid e com a nossa filha... mas vejo que não.

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⏰ Última atualização: 8 hours ago ⏰

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