Set me on fire | Romance Sáfico

11 - Bomb

" Só pelo seu amor, eu irei
Te dar mundo
O sorriso de Mona Lisa
E eu pegarei de 25 à perpétua"

All of us ~ Labrinth, Zendaya

Narrador

Há dois anos.

A noite estava silenciosa, o céu noturno se espalhava acima delas, carregado de estrelas que pareciam observar com curiosidade a dupla de herdeiras das máfias mais poderosas da Itália. O vento frio da Sicília sussurrava pelas mohas enquanto Luna e Lexia estavam em um galpão isolado, afastado de suas respectivas famílias e de qualquer interferência. Era um lugar onde podiam ser elas mesmas, sem as máscaras que sempre precisavam usar.

Dentro do galpão, uma mesa improvisada estava coberta de componentes químicos, ferramentas e fios. O cheiro de óleo e metal era forte, mas não tanto quanto o da pólvora. Luna estava de pé, seus olhos focados em uma pequena cápsula metálica em suas mãos, enquanto Lexia observava de braços cruzados, um misto de curiosidade e tomando conta de seu rosto.

- O que é isso exatamente? - Lexia perguntou, sua voz dura, mas com uma ponta de interesse. Ela sabia que Luna era uma das melhores quando o assunto era tecnologia e explosivos, mas o que estava diante dela parecia... diferente.

Luna ergueu o olhar por um segundo, seus olhos faiscando com a excitação que só surgia quando falava de seus projetos. Ela sorriu de lado, aquele sorriso que sempre deixava Lexia com uma sensação estranha no estômago.

- Isso, - Luna começou, segurando a cápsula com delicadeza, como se fosse a coisa mais preciosa e perigosa do mundo - é o meu mais novo bebê. Um explosivo superinflamável, tão instável que se alguém respirar errado ao lado dele, ele vai pelos ares.

Lexia franziu o cenho, seus olhos escurecendo de receio e ceticismo.

- E você está me mostrando isso por quê? Porque, pelo que parece, esse é o tipo de coisa que deveria ser destruída, não guardada.

- Mas, não é você que ama fogo?

Luna riu baixinho, mas não havia humor em seu tom. Era uma risada de satisfação intelectual, como se tivesse resolvido um quebra-cabeça complexo e agora estivesse ansiosa para mostrar o resultado.

- Fogo que eu possa controlar - respondeu Lexia.

- Eu sei, eu sei. Por isso não posso comercializar isso. É instável demais. Nem os nossos melhores homens conseguiriam manusear essa belezinha sem... bem, se explodirem junto. - Ela deu de ombros, girando a cápsula nos dedos com uma habilidade que fez o coração de Lexia apertar.

- Então por que você criou? Qual o sentido se não pode ser usado? - Lexia deu um passo à frente, agora interessada não apenas pelo explosivo, mas pela lógica que estava por trás da criação de Luna.

Luna parou de brincar com a cápsula, seu olhar ficando mais sério, mais sombrio. Ela a colocou cuidadosamente sobre a mesa e se virou para encarar Lexia, seus olhos brilhando com uma intensidade rara.

- Isso é o futuro, Lex. - Ela deu um passo mais perto, a energia em sua voz quase palpável. - Esse explosivo provavelmente é o ápice do que eu posso criar. A ciência por trás dele é estranha. Mas eu ainda preciso refiná-lo, entender melhor sua composição. Há uma maneira de controlá-lo, de manuseá-lo sem que ele exploda. Eu só...- Luna fez uma pausa, como se medisse suas palavras. - Ainda não é perfeito. Mas estou perto.

Lexia ergueu uma sobrancelha, claramente não convencida. - E como exatamente você pretende manusear isso sem que exploda esse rosto lindo? - perguntou tirando uma mecha de cabelo do rosto de Luna.

Luna puxou um pequeno dispositivo do bolso de sua jaqueta. Era simples, quase discreto, mas o brilho em seus olhos deixava claro que havia algo a mais.

- Este é o controlador, - ela explicou. - O explosivo é extremamente sensível ao calor e à pressão, certo? Então, eu criei esse dispositivo para neutralizar essas variáveis enquanto a pessoa estiver segurando a cápsula. Basicamente, ele cria um campo ao redor do explosivo, diminuindo drasticamente a chance de uma explosão enquanto estiver ativo. Mas tem um problema... - Luna hesitou.

Lexia bufou.

- Sempre tem um problema. Qual é?

- O campo só funciona por um curto período de tempo. Cerca de dez minutos. Depois disso, o dispositivo se desativa, e a coisa volta a ser uma bomba relógio. É arriscado, para dizer o mínimo.

Luna respirou fundo, a expressão no rosto de Lexia claramente esperando mais detalhes.

- Mas enquanto estiver dentro desses dez minutos, pode ser transportado com relativa segurança.

- "Relativa"?- Lexia repetiu, sua voz agora mais grave. - Luna, você está me dizendo que criou uma arma que pode explodir a qualquer segundo se você perder o controle do dispositivo? Isso não é relativo, isso é suicídio.

Luna estreitou os olhos, seus lábios comprimindo-se em uma linha fina.

- Ah, que fofa. Preocupada em me perder - brincou, mas Lexia continuava séria. Luna revirou os olhos - Não é suicídio se você souber o que está fazendo. Eu sei o que estou fazendo.

Lexia deu um passo à frente, o olhar dela penetrante.

- Você acha que eu vou permitir que você continue mexendo nessa coisa? Já não chega todas as merdas desse mundo, você ainda quer tentar se matar. Pelo amor de Deus.

O ar entre elas ficou pesado, a tensão aumentando. Luna ficou em silêncio por um momento, seus olhos agora presos nos de Lexia. Ela sabia que a preocupação da mulher era válida, mas o orgulho e a responsabilidade pela sua criação a impulsionavam.

- Eu criei isso para nós, - Luna disse, sua voz mais suave. - Vai que sei lá, um dia podemos precisar. Se estivermos encurraladas, se não tivermos outra escolha... Isso ajudaria, sabia? Claro, em uma potência menor. Uma que ninguém vai ver chegando. É tão pequeno que é basicamente imperceptível. Seria... Útil.

- Contanto que você não se exploda junto - Lexia sussurrou, aproximando seu rosto do de Luna.

Luna apenas sorriu.

- Não vou.