Faunillan

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A noite com todo o seu mistério e beleza prevalecia naquele momento. Claryssa acordou no meio desta e se dirigiu a pequena estante de livros no quarto.

- Vamos ver, vamos ver... - ela dizia baixo, procurando nos mais diversos títulos, desde A Fábula do Coelho a Clarêncio Faunillan: Vida e obras.

Ela passou os dedos pelos livros e parou sobre um deles o retirando da estante. A garota, que estava sentada no chão do quarto, pôs o livro sobre as pernas e passou os dedos sobre a capa dura do livro.

- Clarêncio Faunillan: Vida e obras. - ela leu o título e então abriu na primeira página. - Pintor renomado da cultura da Terra de Ninguém, onde nasceu e cresceu. Infelizmente não há registros do dia de seu nascimento, porém estima-se que tenha nascido durante o período de separação da Terra de Ninguém de Curminate, pois seus quadros de maior sucesso foram no período Heitoriano (período em que Rei Heitor I comandava Terra de Ninguém, para os jovens leitores que não conhecem a história, Rei Heitor I foi o primeiro rei após a separação de Curminate). - Claryssa pulou algumas páginas, encontrando uma ilustração de uma de suas obras.

A menina se surpreendeu ao reconhecer a pintura, uma grande árvore. Mas nunca havia ouvido falar desse pintor antes, ela pensou durante um momento e se lembrou de onde havia visto o quadro, na casa em que estava.

A menina se levantou rápido, e levando o livro consigo saiu do quarto. Olhou para os lados no corredor, nenhum sinal de Lígia, nenhum barulho sequer, o que a assustava. Ela seguiu e desceu as escadas, e então encontrou pendurado a uma parede o mesmo quadro do livro.

Ela levantou o livro, o colocando ao lado do quadro para comparar, não haviam dúvidas de que eram o mesmo. Claryssa então virou a página novamente, e sentiu que já havia visto antes aquela ilustração. Ela caminhou observando outros quadros até que achou o quadro do livro.

Será que todos os quadros dessa casa são dele? - Claryssa pensava. A menina via um quebra-cabeça se formando em sua mente, agora ela só precisava encaixar as peças certas. Então ela continuou passando as páginas e olhando ao redor, e todos os quadros no livro estavam ali. Ela voltou ao quarto pensando sobre aquilo, se deitou novamente e continuou folheando o livro, até que caiu no sono novamente.



Lígia observava tudo ao seu redor ainda sem entender o que aquilo significava. Ela podia tocar em tudo e sentir, como se fossem reais, mas eram pinturas. Ela rodeou uma das árvores, e a encarando estava a garota que a havia recebido.

- Isso não é possível... - Lígia disse a si mesma. - Qual o seu nome? - ela finalmente olhou para a garota, que possuía longos cabelos loiros trançados em uma trança, olhos azuis e sua face lembrava uma boneca de porcelana, usava um longo vestido cheio de camadas.

- Eu sou Jeanne. - Ela fez uma breve reverência segurando a saia do vestido. - Qual o seu nome?

- Me chamo Lígia. Mas, Jeanne, tem algo que eu não entendo.

- O quê? 

- Como isso tudo é uma pintura? - Lígia arqueou a sobrancelha. 

- Eu não estou entendo. O que é uma pintura?

- Isso tudo é uma pintura, Jeanne, Citra é uma pintura. Você é uma pintura.

Jeanne olhou para seus braços e uma ruga se formou em sua testa.

- Eu não entendo, não sou uma pintura. Sou uma garota. Eu sou Jeanne.

- Sinto muito, Jeanne. Mas você é uma pintura. Tudo isso é uma pintura. - Lígia fez um gesto amplo com as mãos.

- Eu ainda não entendo.

Lígia parou de prestar atenção em Jeanne quando sentiu uma fisgada na perna, e ao olhar para baixo viu que suas pernas começavam a se tornar uma pintura também.

- O que está acontecendo comigo?!

- O quê? - Jeanne perguntou sem dar atenção.

- E-eu preciso ir. - Lígia gaguejou e se afastou da árvore e correu em direção da porta que havia deixado entreaberta, e pulou no corredor caindo no chão. Então suspirou aliviada quando viu que suas pernas voltavam ao normal.

Ela se levantou e encarou o corredor silencioso, ainda confusa. Haviam mais portas, mas nem todas possuíam quadros. Lígia olhou para trás e a porta não estava mais lá, havia apenas a parede. Ela olhou novamente para a frente quando ouviu o barulho de passos.

- Lígia? É você? - Clary perguntou baixo.

- Clary? Você não dormiu? - Lígia se aproximou.

- Sim. Eu dormi, acordei, dormi de novo, e agora acordei. 

- Tudo isso em uma noite? - Lígia riu.

- Sim. - Clary soltou uma gargalhada. - Eu me chamo Claryssa, esqueceu?

As duas continuaram caminhando juntas pelos corredores conversando.

- Eu descobri algo muito interessante... - Claryssa disse enquanto caminhavam se dirigindo ao quarto. 

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