Quadros

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Claryssa caminhou lentamente até Lígia, seus pensamentos eram como nuvens, naquele momento o fato de que seu pai, um Nemiens, poderia ter morrido na guerra desapareceu de sua mente, e ela estava admirada com o que via.

Seus passos ecoaram por toda a casa, o piso era liso e poderia ver seu reflexo nele, as janelas eram grandes e de vidro, possuíam cortinas grossas as cobrindo, e muitos quadros. Um deles Lígia observava, era algo surpreendente.

A pintura de um pôr do sol na praia era perfeita, as ondas quebrando na areia, os tons certos no céu, porém o que surpreendia era que as ondas realmente quebravam na areia, elas se moviam, e os tons no céu mudavam lentamente, como num pôr do sol de verdade.

E mais surpreendente ainda foi, quando o sol finalmente se pôs e no lugar chegou a noite ao quadro, a lua brilhante, e milhares de estrelas. Se prestassem atenção, até poderiam ouvir o som do mar, e sentir aquela brisa.

Claryssa correu para ver outros quadros, e assim como aquele, pareciam ter vida. O que ela mais gostou foi um de uma grande árvore, que se balançava com o vento, daquelas árvores que ela teria vontade de abraçar.

E ao olhar para o teto, viu um grandíssimo e belo lustre, ela o encarou por alguns minutos fascinada, até que Lígia a chamou.

- Clary? - ela chamou, ainda impreesionada com os quadros, agora observava outro. - Acho que precisa ver isso.

- O quê? - Claryssa se aproximou do quadro e o encarou, ela percebeu do que se tratava depois de um segundo.

O quadro mostrava o reino sendo incendiado pelos Grimes, pessoas sendo levadas como prisioneiras e todo o caos. Mas o que verdadeiramente lhe chamou atenção foi o rosto de seu pai dentre os prisioneiros, ele ainda usava trajes de batalha e parecia muito ferido. Seus olhos azuis mostravam tristeza e preocupação. Claryssa levou a mão a boca, chocada com tudo aquilo.

- Lí? Você... você acha que isso pode ser... - Claryssa não conseguiu terminar.

- Real? Sim, Clary, eu infelizmente acho.

Claryssa dessa vez não conseguiu conter as lágrimas e desabou, chorando lágrimas grossas. Na pintura do reino a chuva começou a cair, e elas também puderam ouvir o som dos raios e trovões.

Lígia se aproximou de Claryssa e a abraçou, acariciando seu cabelo. Lígia também queria chorar, mas sabia que chorar seria como fraqueza, e ela queria ser forte por Claryssa, chorar só faria com que a pequena ficasse pior.

- Que tal procurarmos quartos para dormir? - Lígia sugeriu, e Claryssa apenas balançou a cabeça positivamente.

As duas subiram as escadas, Claryssa abraçava apertado seu ursinho, Gaby, e ainda chorava um pouco.

No andar de cima haviam outros diversos quadros, dessa vez alguns possuiam molduras redondas, e estes estavam presos as portas. Lígia arriscou uma porta à direita, o quadro nesta porta era de um quarto.

Ao abrir a porta se depararam com o quarto da pintura, a cama era larga e, possuía muitas cobertas por cima em tons de azul. As paredes também eram azuis, como o céu. Haviam duas mesas de cabeceira, uma em cada lado da cama, e lampiões sobre elas. No canto esquerdo uma penteadeira com um grande espelho, e ao lado, um pouco afastado, uma pequena estante de livros.

- Você pode ficar com esse. - Lígia disse.

- Tudo bem. - Claryssa disse baixo.

- Vou procurar um outro para mim. Acho melhor você dormir... tudo bem?

Claryssa assentiu, e caminhou até a cama. Deitou se enfiando no meio dos vários cobertores. A cama era macia e acolhedora, e haviam muitos travesseiros fofos e leves.

- Confortável?

- Sim, muito.

- Bom, vou indo. Bons sonhos. - Lígia se aproximou, deu um beijo em sua testa e se afastou.

- Espera. Lí... canta para mim?

- Ai, Clary... melhor não. Minha voz está horrível. - Lígia fez uma careta.

- Por favorzinho. - Claryssa fez sua melhor cara de cachorrinho sem dono.

- Ahhh, está bem! - Lígia se sentou na cama. - Feche os olhos.

- Fechados! - Clary fechou os olhos rápido e se aconchegou abraçando Gaby.

Lígia começou a cantar uma canção calma, envolvente e suave, enquanto acariciava seu cabelo. A menina se deixou levar pelo sono, e logo já estava sonhando. Lígia se levantou e saiu do quarto.

O silêncio nos corredores era acolhedor para Lígia, ela estava acostumada ao silêncio desde que perdera os pais e a irmãzinha quando criança e fora criada pela avó, que morreu a alguns anos a deixando sozinha, até encontrar Claryssa. Lígia cuidava dela como uma irmã, a irmãzinha mais nova que ela perdeu.

Quando o pai de Claryssa foi chamado para a guerra e pediu a Lígia para cuidar dela, já que havia perdido sua esposa anos atrás para uma doença terrível, essa pressão que ela sentia, esse dever de proteger Claryssa só aumentou.
Lígia só se deu conta de que o corredor havia chegado ao fim quando quase deu de cara com a parede. Se afastou da parede dando alguns passos para trás, olhou para trás rapidamente para se certificar que não esbarraria em nada, e quando olhou novamente para a frente havia uma porta.

A porta era majestosa e assim como todas as outras havia um quadro preso a ela, possuía uma moldura redonda, era impossível ver com clareza a pintura pois a imagem mudava rápido demais. Lígia foi tomada pela curiosidade e abriu a porta.

Uma luz forte saiu de dentro, quando os olhos de Lígia se acostumaram ela finalmente viu uma grande árvore, era dia no lugar. Lígia entrou um pouco cautelosa, e observou tudo. Ela não entendia o que estava acontecendo, não entendia o que realmente era aquilo, naquele momento ela não pensava direito.

Ela caminhou até a árvore e começou a subir, os galhos eram grossos mas se balançavam muito. Quando ela finalmente chegou ao topo, pode ver o horizonte, era um lugar enorme, mas era como uma pintura, tudo. Então ela se deu conta de que tudo ao seu redor, menos a árvore, era uma pintura.

- Psiu. - ela ouviu alguém chamar lá embaixo.

Ela olhou para o chão e viu algo que a surpreendeu mais ainda. Era uma garota, mas não era uma garota, era a pintura de uma garota.

- Vejo que é nova aqui. - a garota disse. - Bem vinda a Citra.

A Casa no PradoOnde histórias criam vida. Descubra agora