Não procure o que não quer achar

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Lígia estava num prado, no Grande Prado Encantado – ou Whindertoll, como preferir – para ser exata. Ao longe viu uma garotinha colhendo flores, belíssimas flores laranjas, que mesmo a distância era possível ver o tom forte delas. A garotinha tinha no máximo 10 anos, possuía longos cachos loiro-escuros, olhos castanho escuros, e um belo sorriso.

Lígia se aproximou da garotinha, que estava praticamente do outro lado do prado, e percebeu que era Claryssa. Porém, quanto mais ela andava até ela, mais longe ela ficava. Logo Lígia já estava correndo, e gritando seu nome, mas Claryssa mal dava sinais de que estava escutando.

Até que um grande buraco se abriu no chão, engolindo Lígia no meio da escuridão, e ela acordou assustada.

Ela se sentou na cama e olhou ao redor, a sensação de estar caindo passava lentamente. O esquilo Layloard roncava num sono profundo, emaranhado numa coberta no chão. Lígia o encarou por um momento pensando se conseguiria acorda-lo, então chegou à conclusão de que não conseguiria de forma alguma.

Então se levantou e saiu do quarto, não podia parar de procurar Claryssa, principalmente agora. Ela, diferente de muitas outras pessoas que vivem machucando uma as outras, se importa de verdade com a irmã, podemos chama-las assim, pois é isso que são.

Seguiu por corredores aleatórios, alguns completamente vazios, sem nenhuma porta ou quadro, e outros cheio de portas e o dobro de quadros. Passou direto na frente de um corredor que nunca havia visto, então voltou lentamente e se pôs à frente do corredor.

Era um tanto escuro, porém no final havia algo como uma chama, ela se aproximou devagar, não havia mais nada no corredor, não que pudesse ser visto. Enquanto se aproximava daquela luz estranha pode sentir o calor a atingindo, como se emanasse daquilo. Quando chegou ao final, sentia o calor de uma chama real, porém era apenas um quadro. Ela o encarou por um instante e lentamente dirigiu seu dedo indicador a ele, e quando encostou sentiu a pequena queimadura se formando.

– Au. – Ela soltou, afastando o dedo do quadro.

E num movimento lento o quadro se abriu, literalmente, se dividiu em dois. Mostrando uma pequena porta suficiente para uma pessoa passar se arrastando. Lígia pôs a mão sobre a fechadura, e ouviu um baixo som de madeira sendo raspada, e quando olhou para o centro da porta viu a inscrição "Não procure o que não quer achar".

- Mas eu quero achar. – Ela sussurou, e naquele momento, ela teve certeza que, pela primeira vez, estava no caminho certo.

Ela tentou abrir a porta, mesmo sabendo que estava trancada. Sentiu uma queimação em sua mão, e quando a encarou, percebeu que a queimadura havia se expandido por toda ela, deixando bolhas e a pele completamente vermelha. Estava ardendo, muito. Ela começou a balançar a mão, sem motivo certo, apenas deixou que seu corpo fizesse o que quisesse. Mas se focou, não podia parar agora.

- É só uma queimadura boba, logo sara. – Ela disse a si mesma.

E tentou forçar a porta, e estranhamente, ela se abriu após tocá-la com a mão machucada. Encarou a escuridão que se seguia além da porta, e respirou fundo antes de entrar ali. Pensou em chamar Layloard, mas e se quando voltassem não estivesse mais lá? E se não se abrisse? Ela se arrastou pelo pequeno espaço que tinha, e logo percebeu que o túnel se expandia um pouco mais até que ela já podia ficar de joelhos.

Estava cercada por escuridão, seguindo com as mãos esticadas e tentando abrir os olhos ao máximo, mesmo que não ajudasse com a escuridão. Viu uma luz ao longe e a seguiu esperançosa. Ao chegar lá se deparou com outra porta, com a pouca luz era possível ver que era incrustrada com pedras preciosas, dessa vez não conseguiu abri-la, e quando tentou puxar a maçaneta com a mão machucada apenas sentiu a dor.

Então ouviu pequenos passos atrás de si, olhou rapidamente, mas só conseguiu ver uma luz vindo em sua direção, o que quer que fosse não parecia ser bom. Quando a alcançou, primeiro viu a tocha, e em seguida Layloard, o esquilo.

- Layloard! Me assustou! – Ela disse.

- Deveria ter me esperado, menina tola! – ele balançou a pequena cabeça negativamente.

– Desculpe, não consegui. Como conseguiu isso? – Ela olhou para a tocha.

- Não importa, agora continue andando. – Ele brigou.

- Não dá! Tem uma porta, está trancada.

Ele se aproximou tentando chegar a porta.

- Segure isto por favor. – Ele lhe entregou a tocha, sua única iluminação além da luz estranha que saia da porta, e de alguma forma conseguiu chegar a porta.

Examinou a fechadura um pouco e pediu para que Lígia iluminasse o local indicado com o dedo. Depois de alguns minutos, a porta estava aberta. Lígia apenas viu os dedos dele trabalhando na fechadura rapidamente.

- Como fez isso?!

- Esse é seu problema, se importa com coisas as quais não deveria. – Layloard disse, e abriu a porta ao máximo e entrou.

Lígia o seguiu e seus olhos se assustaram a claridade que se seguiu, percebeu que a tocha não seria necessária ali. Quando seus olhos se ajustaram, viu que estavam numa espécie de atélie de pintura, as paredes e o chão eram brancos, porém estavam ambos manchados de tinta. Os milhares de quadro formavam um labirinto no lugar, o lugar a princípio pareceu pequeno mas conforme avançavam perceberam quão grande era.

- Definitivamente é aqui. – Lígia disse.

- É claro que é, menina tola. – Layloard concordou.

- Pare de me chamar de tola, não sou tola. – Lígia cruzou os braços e fechou a cara, numa atitude totalmente infantil.

- É sim, e neste momento está sendo, pois está perdendo foco. – Ele disse e continuou andando evitando que Lígia dissesse qualquer coisa.

Ao longe ouviram um som de algo sendo jogado na parede, e continuaram andando até o fim. Ao chegar, se depararam com um homem, um senhor, jogando potes de tinta na parede. Ele não os notou e continuou.

- Pintor, é você? – Layloard perguntou, mas não soou como uma pergunta.

O homem finalmente se virou, e os encarou com aquele mesmo sorriso maníaco que mostrara a Lígia. Ele possuía olhos extremamente azuis, cabelos e barbas brancos desgrenhados e longos, parecia nunca ter passado um pente no cabelo.

- Sim, sou eu O Pintor. – Faunillan disse, sua voz era de diferentes formas estranhamente familiar e estranhamente irreconhecível.


Nota da autora:

Ooooie! Muuuito obrigada por lerem, e realmente espero que estejam gostando! Prometo tentar postar um capítulo novo ainda hoje. 

Beijos,

Laryssa.


A Casa no PradoOnde histórias criam vida. Descubra agora