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pov narrador

Cecília estava perdida em pensamentos enquanto o grupo continuava a conversar animadamente ao redor dela. As vozes se misturavam em uma cacofonia de risadas e discussões sobre a escola, relacionamentos e os últimos acontecimentos da cidade. Ela sentia que estava sendo levada pela correnteza da conversa, mas, por algum motivo, tudo isso parecia distante e irrelevante. As palavras das pessoas à sua volta se tornavam um ruído de fundo, enquanto sua mente divagava, lutando para encontrar clareza em meio ao turbilhão de sentimentos conflitantes que a consumiam. Ela estava distante, imersa em uma espiral de emoções sobre Lorenzo, a relação estranha e intensa que os dois haviam começado a criar.

Quando finalmente decidiu que precisava de um pouco de ponche para clarear a mente, ela levantou-se e disse ao grupo, em um tom que esperava ser animado:

— Gente, vou fazer o refil do meu ponche!

Josh, que estava a poucos passos dela, imediatamente se ofereceu para acompanhá-la.

— Eu vou com você! — ele disse, como se não pudesse conceber a ideia de que ela pudesse ir sozinha e deixar ele para trás. Era como se a presença dele estivesse sempre ali, como uma sombra, tentando compartilhar cada momento e decisão com ela.

Cecília revirou os olhos mentalmente, tentando conter a frustração que crescia dentro dela. Ele sempre estava por perto, sempre querendo fazer tudo junto com ela. Às vezes, isso a fazia sentir-se sufocada. Era como se cada movimento dela fosse examinado, cada decisão fosse discutida em voz alta, e, naquele momento, ela só queria um pouco de espaço para respirar, para pensar e, quem sabe, até para explorar os próprios sentimentos sem a constante vigilância de Josh.

— Não, não precisa não — respondeu, tentando manter um tom amigável, mas sua voz transparecia um leve cansaço. Ela sabia que ele apenas queria ajudar, mas a insistência de Josh a deixava irritada e incomodada.

Josh hesitou, parecendo surpreso e desapontado, mas acabou se sentando novamente, cruzando os braços em um gesto de resignação. Cecília soltou um pequeno suspiro de alívio ao ver que ele não insistiu mais. Ao se afastar do grupo, ela sentiu um misto de liberdade e culpa. Caminhou em direção à mesa onde a famosa tigela de ponche estava, uma grande tigela de vidro que brilhava sob a luz da festa, refletindo as cores vibrantes da decoração ao seu redor. O líquido vermelho dentro dela parecia vibrante, quase hipnotizante, convidando-a a se aproximar.

Cecília se aproximou e observou o conteúdo da tigela com curiosidade e um toque de desgosto. O cheiro doce e alcoólico a envolveu, fazendo-a lembrar que, embora o ponche não fosse seu favorito, o momento era especial e ela merecia um pouco de diversão. Entretanto, ela não conseguia deixar de pensar em como aquele gosto era, na verdade, uma mistura de xarope com suco de cereja e licor de cereja. Era enjoativo, uma experiência gustativa que ela não estava certa se realmente apreciava, mas naquele dia, a ideia de um pouco de álcool parecia tentadora. Ela precisava de um pouco de coragem, um pouco de despreocupação, uma forma de escapar do turbilhão emocional que a cercava.

Com as mãos firmes e decididas, ela pegou a concha e começou a servir o ponche em seu copo. Colocou duas, talvez três conchadas, e estava prestes a saborear quando um toque frio a fez saltar. O líquido quase escorregou de suas mãos, mas ela rapidamente se recompôs, colocando a concha de volta na tigela. Quando se virou, seus olhos se encontraram com os de Lorenzo.

Ele estava tão perto que ela podia sentir a presença dele, intensa e magnética, quase como se um campo elétrico tivesse se formado entre os dois. O coração dela disparou, acelerando em resposta à sua proximidade, e Cecília teve que se esforçar para manter a compostura diante daquela situação inesperada.

Lua escura - Lorenzo ZurzoloOnde histórias criam vida. Descubra agora