𝘆𝗼𝘂 𝗮𝗴𝗮𝗶𝗻?! - 𝗄𝖺𝗀𝖾𝗁𝗂𝗇𝖺

8. regras.

Já parou pra imaginar como seria viver uma situação digna de uma comédia romântica dos anos 2000?

Tobio Kageyama achava que era impossível esse tipo de situação acontecer consigo até se encontrar na posição atual: em uma sessão de fotos com o cara que jurou que nunca mais veria após o ensino médio. Não poderia ter se enganado mais.
Observando o ruivo ao seu lado posar, não conseguia evitar que seu coração agisse de maneira equivocada às vezes. Hinata usava uma camisa verde que destacava naturalmente a cor de seus cabelos. Já ele, utilizava um tom de bege muito bonito que contrastava com o cabelo escuro. Os dois perfeitamente encaixando-se na paleta de cores da mesma marca que patrocinou o comercial culinário.

Há uma semana atrás, quando a notícia do beijo eclodiu, os dois imaginaram que dificilmente a empresa conseguiria tantos patrocínios quanto antes. Porém, para a surpresa deles, foi o efeito oposto. Um contrato foi fechado, um cronograma estabelecido e lá estavam eles, seguindo uma rotina que nunca imaginavam que fosse acontecer. Porém, haviam cuidados que precisavam ser tomados se não quisessem que a verdade viesse à tona.

Naquele momento, os dois se encontravam sentados no tapete do apartamento de Kageyama. Outra jogada de marketing, claro. O plano envolvia que eles estabelecessem regras e limites no relacionamento falso, e aproveitassem para se exibir um pouco por aí dando uma volta juntos.

- Tá bom, vamo adiantar isso logo. - suspirou o ruivo, dando um gole no copo d'água. - Principais regras?

- Primeira: não tomar atitudes por impulso, segunda: não estender histórias sem conversar com o outro e...?

- Terceira: não ser pego saindo com outra pessoa. Acorda, Kageyama. Não é tão difícil.

- Tanto faz. E as informações?

- Eu recebi uma pasta com informações importantes suas na empresa. Você não?

O moreno balançou a cabeça negativamente, fazendo Shoyo suspirar.

- Eles devem ter esquecido. - passou a mão pelos fios ruivos. - Tá bom, o que você quer saber de mim?

- Quais informações minhas você recebeu? - questionou, ignorando a pergunta.

- Bom, que você mora sozinho aqui. - abriu os braços, apontando para o apartamento ao redor. - E que sua família mora em outra cidade. Coisas básicas. Só achei sem sentido eles não terem acrescentado coisas realmente importantes, como sua alergia por camarão, obsessão por Jogos Vorazes ou o gosto estranho por Jazz.

Hinata riu, abraçando de leve os joelhos enquanto observava Tobio corar. Tudo aquilo eram as coisas mais básicas que conhecia do moreno na época do ensino médio. A lembrança fazia seu coração doer mais do que esperava.

- Certo, então acho que já sabemos o suficiente. - ele limpa a garganta, abrindo a agenda no celular. - Sobre os compromissos, pode repassar?

- Na terça-feira temos outro vídeo culinário, na quarta trabalho normal, na quinta uma reunião com o pessoal do marketing e na sexta uma entrevista e trabalho normal. - resmungou, jogando-se no chão.

- Puta que pariu, não tem um descanso?

- Não reclama, pelo menos não sofremos com escala 6X1.

- Tô me sentindo um influencer. - reclama Kageyama, deitando no tapete também.

- Eu também. Por que caralhos a internet se importa tanto com dois caras de uma empresa alimentícia que supostamente tão namorando?

- Tudo isso por conta de um comercial.

- Que nem era pra eu ter participado. - os dois dão risada, se lembrando do ocorrido.

De repente, o silêncio dominou o ambiente, fazendo-os sentir um frio na barriga.

- Hinata, eu queria falar com você que-

- A gente deveria acrescentar mais uma regra. - interrompeu, levantando-se com rapidez.

Até o momento, não tiveram oportunidade para conversar sobre o ocorrido, mas não por falta de tentativa. Sempre que Tobio tentava introduzir a conversa, o ruivo dava um jeito de escapar de alguma forma.

- Qual?

- Quarta: não confundir as coisas. - acrescentou, um tanto desconcertado. Ele observou Kageyama abrir a boca para acrescentar algo e fechando logo em seguida. Por algum motivo, parecia mexido.

- Coloca mais uma aí então. - o desânimo em sua voz era evidente.

- Por quê?

- Não gosto de número par. - concluiu com desdém.

- Meu Deus, você é bizarro às vezes. - zombou. Naquela hora da noite o vento era forte, fazendo barulhos ao atingir a janela da sala.

- E você é sempre. Sempre foi. - os dois trocaram um olhar levemente afetuoso, desviando em seguida.

- Certo, fala logo qual vai ser a última. Tá cansativo passar tempo contigo.

- Sugestão de quinta regra: quando a gente terminar, vamos falar que eu que acabei com tudo. Quero sair por cima. - Shoyo o encarou, desacreditado.

- Eu não ouvi isso, Kageyama. É óbvio que eu que vou terminar, vai ser muito mais icônico, todo mundo vai gostar mais.

- Me dê um argumento que comprove isso.

- Ué, desde que eu cheguei todo mundo te tratava como um 'deus intocável". Vai ser engraçado se o queridinho da G.C. levar um pé na bunda.

O moreno revirou os olhos, cruzando os braços.

- Sem falar que... você me deve isso, não acha? - Hinata continuou, sorrindo fraco. O coração de Kageyama parecia ter sido pisado e destruído em pedaços. - Já passei por isso uma vez, você pode passar nessa pra compensar. Não é de verdade, de qualquer forma. - seu tom era triste. Sem enrolação, pegou suas coisas e levantou, pronto pra ir embora. Kageyama ficou de pé.

- Tá ficando meio tarde e provavelmente vai chover. - assim que ele cita o fato, eles percebem que a chuva lá fora já está presente. - Já tá chovendo, na verdade. Se quiser ficar mais um pouco até a chuva passar, é melhor.

- Já fiquei o suficiente. Eu não derreto com a água, não se preocupa.

- Posso te levar de moto.

- Não esquenta com isso. - caminhou até a porta, abrindo-a.

- Quer guarda-chuva?

- Kageyama. - o ruivo virou-se pra trás, seus olhos frios fitando seu rosto. - Eu sei me virar. Me virei por todo esse tempo, isso não vai mudar agora. - suspirou, acenando enquanto partia.

No corredor do prédio, Tobio encarava a cena, sentindo mais frio do que deveria e o apartamento mais vazio do que nunca.