Flashback— Ela ainda está jogando, senhora. — Tomaz anunciou ao se acomodar no banco do motorista. Camila, no banco traseiro, deixou escapar um suspiro pesado, tamborilando os dedos impacientemente na coxa.
— Faz quantas horas? — A irritação fez sua voz soar mais dura do que pretendia.
— Três horas e... — Ele conferiu o relógio no pulso, lançando um olhar para o retrovisor. — Vinte e dois minutos.
Camila balançou a cabeça, impaciente, o pé direito começando a se mover num ritmo constante contra o tapete do carro.
— Não deveria demorar tanto. — Ela murmurou, o olhar fixo na janela, mas sem realmente ver as ruas.
— Jogos podem ser demorados... — Tomaz murmurou, os olhos se fixando no céu cinzento. — Parece que vai chover.
— Vai mesmo. — Ela olhou para fora, sem se importar com o tom casual dele observando as nuvens escuras que começavam a se acumular.
— Vai chegar a tempo do seu voo? Não era hoje? — Ele perguntou, observando-a pelo retrovisor.
— Se ela não demorar... — respondeu.
— Camila... — Tomaz chamou suavemente, e ela levantou o olhar para o espelho retrovisor. — Amanhã é o aniversário do meu filho. Se eu pudesse...
— Vai. Deixe alguém de prontidão se Rogger precisar. — Seu tom foi direto, mas havia um eco de cansaço na última palavra.
Tomaz assentiu, engolindo o que ia dizer. A chuva começou a cair devagar, pintando o vidro do carro com pequenas gotas que escorriam como o tempo que se arrastava.
Quando Dinah finalmente entrou no carro, sacudindo a jaqueta para afastar o frio, Camila sequer olhou para ela diretamente, os olhos ainda fixos nas gotas que caíam.
— Como foi? — A pergunta veio num tom indiferente, mas o dedo indicador dela traçava círculos pequenos e impacientes no joelho.
— Perdi. — Dinah suspirou, sem esconder o cansaço, e lançou um aceno para Tomaz, que só respondeu com um breve movimento de cabeça.
Camila piscou, incrédula, o corpo se inclinando levemente para frente.
— Como assim, perdeu?
— Eu perdi, Camila. É pôquer, não matemática. — A resposta de Dinah veio acompanhada de um rolar de olhos, tirando a jaqueta com um gesto brusco, como se quisesse livrar-se do peso da derrota.
Camila fechou os olhos por um segundo, os dentes se apertando, as unhas cravando na palma da mão.
— Perdeu? — Repetiu, como se as palavras não fizessem sentido. — Como isso aconteceu?
— Todos estavam lá... a senadora, inclusive. — Dinah resmungou, tirando a jaqueta com um movimento brusco.
— Eu te disse para esperar a jogada certa! — A raiva de Camila se manifestou em pequenos chutes no chão, acompanhados de murmúrios irritados.
— Eu esperei! — Dinah rebateu. — Três horas, Camila. Eu esperei, e quando apareceu um straight flush, era óbvio que era a jogada certa.
— E mesmo assim, você perdeu?
— A senadora tinha um royal flush. — A derrota estava estampada no rosto de Dinah. — Vai contar para Lauren?
— Não. — Camila respondeu rapidamente, sem hesitar, com os olhos fixos na janela. — Quando é as próximas eleições?
— Em seis meses — Tomaz interveio, cortando o silêncio pesado no carro.
Camila passou as mãos pelos cabelos, frustrada
— Isso vai complicar as coisas... até em Dubai.
— Como assim?
— Acho que vou precisar estender mais...
Dinah bufou e se virou para ela, a paciência claramente esgotada. — Você está agindo como uma criança, Camila. Criança. — Sua voz aumentou. — Isso tudo... — Ela apontou para trás referindo-se ao jogo de poker. — São negócios. O que você quer fazer agora é imprudente, e você sabe disso.
— Dinah, isso já aconteceu antes. Não finja que não sabe como as coisas funcionam. — Camila respirou fundo, ainda evitando o olhar da amiga.
— O que não aconteceu antes foi você ter um caso com sua funcionária em Dubai. Mais uma vez. — Dinah gritou, a frustração borbulhando. Camila lançou um olhar para Tomaz, que mantinha os olhos firmemente na estrada, como se não estivesse ouvindo nada.
— Nós vamos ser cuidadosas. — A voz de Camila saiu baixa, quase um sussurro, como se dissesse para si mesma.
— Chegamos. — Tomaz anunciou, estacionando o carro. Ela observou pela janela o temporal que havia se formado, o jatinho já preparado à sua espera na pista.
Camila saiu do carro primeiro, a chuva batendo forte contra seu corpo, ensopando-a em segundos. As portas do carro fecharam com um estrondo abafado pela tempestade. Dinah, apressada e irritada, chamou sua atenção.
— Você sabe que tem outras pessoas envolvidas nisso, certo? — Dinah aumentou o passo, alcançando Camila com um olhar feroz.
— E o que você quer que eu faça? — Camila se virou abruptamente — Que eu suba lá e fale tudo?
— Sim, Camila! — Dinah gritou. — É exatamente isso que você deveria fazer!
Camila não respondeu de imediato. Ela sabia que o silêncio carregava mais peso do que qualquer justificativa vazia. Por fim, respirou fundo, desviando o olhar da amiga.
— Eu não posso.
— Não, Camila. Você não quer. — Rebateu com ao dedo apontado para ela no tom de mágoa — Eu não vou mais acobertar isso.
Sem esperar resposta, Dinah se afastou, deixando ela ali, no meio da chuva. A água escorria pelo rosto de Camila, misturando-se ao cansaço.
— Mia! — chamou a aeromoça, ajeitando a postura. — Pode me trazer uma muda de roupa e avisar que já podemos decolar?
— Sim, senhora.
Enquanto aguardava, Camila subiu as escadas do jatinho e passou pela tripulação sem dizer nada, o rosto inexpressivo, o corpo molhado. No fundo, sentiu a presença de Lauren, deu um sorriso amarelo e passou. Era como se tudo ao seu redor estivesse em movimento, menos Camila.
O avião decolou, e o silêncio entre elas permaneceu. O que viesse a seguir, fosse o que fosse, seria uma decisão a ser adiada mais uma vez.
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Solstice
FanficK. Camila Estrabao é a empresária por trás da renomada rede de hotéis Palazzo em Dubai e Las Vegas. Sua vida toma um rumo inesperado quando Lauren Jauregui, uma brilhante especialista em energia limpa, é contratada para reduzir os custos dos hotéis...