Double or nothing

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O rapaz abriu a porta para a mulher, que agradeceu com um aceno discreto

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O rapaz abriu a porta para a mulher, que agradeceu com um aceno discreto. Ela se sentiu como se estivesse de volta aos anos 2000, dentro de uma cena de *Cassino Royale*. Sentou no banco, observando o bartender ocupado em impressionar um rapaz asiático do outro lado do bar.

— Achei que não viria — o homem colocou a mão no ombro dela. Ela sorriu de canto. — Cadê a Camila?

— Eu gosto de chegar na hora. Ela não pôde vir. Estou no lugar dela. — Estendeu a mão, deixando que ele a ajudasse a descer do banco.

— E você sabe como funciona?

— Por que eu estaria aqui se não soubesse?

Ele apenas assentiu, guiando-a pela cintura até a mesa no fundo do bar. Lá, dois homens e duas mulheres esperavam. Um deles era o senador John, sempre impecável, e a mulher ao seu lado era uma congressista. Seus cabelos grisalhos sugeriam uma autoridade que não precisava ser questionada.

Dinah tomou seu lugar enquanto o dealer embaralhava as cartas e iniciava o jogo. Não havia limite de tempo naquela mesa. O limite era o dinheiro, e isso nunca foi um problema para ninguém ali.

Observou as fichas à sua frente, mas sabia que o jogo naquela mesa ia além das apostas comuns. Não era só pôquer. Havia algo mais em cada movimento, algo silencioso que passava despercebido aos outros jogadores, mas estava lá, pulsando por debaixo de cada jogada.

Os outros jogadores eram cuidadosos. A congressista olhava para suas cartas como quem analisava uma proposta de lei, sem pressa, sem emoção. O senador ajeitava os óculos, tentando manter a compostura de quem controlava o ritmo da mesa. Os outros dois eram apenas figurantes, sombras que faziam parte do cenário, mas sem o mesmo peso que os outros carregavam.

— Camila não veio? — Dinah olhou para a congressista que perguntou sem entender rodando duas fichas de cem dólares na mão.

— Não há necessidade — Respondeu olhando novamente para as três cartas viradas para cima e encarando as da sua mão.

— Você já sabe o que ela iria apostar? — a mulher perguntou jogando quatro fichas de mil dólares - Aumento a aposta.

— Não se preocupe com isso — Dinah respondeu jogando suas cartas na mesa, aquela rodada não era uma boa rodada — Out.

Dinah manteve o olhar enquanto as cartas eram distribuídas novamente. Suas mãos tocavam levemente as fichas, o nervosismo camuflado por uma expressão de completa serenidade. As apostas começaram tímidas. Seus olhos cruzaram os da congressista do outro lado da mesa, e ela não conseguiu decifrar nada além de um leve sorriso que parecia estar sempre presente. Nada era claro ali.

Primeira rodada. Duas cartas. Um 8 de espadas e um 9 de espadas. Dinah segurou o ar por um segundo, seu coração batendo mais rápido. Promissor. Na mesa, o senador apostou primeiro, mantendo as fichas baixas. A congressista o seguiu, com um movimento quase casual. Dinah olhou para suas próprias cartas e aumentou a aposta, desafiando os outros a acompanharem.

O dealer virou as próximas três cartas comunitárias: 7 de espadas, 10 de espadas e Valete de copas. Dinah mal conseguiu conter o sorriso. Um straight flush começava a se formar em suas mãos, e isso a fez se inclinar levemente para frente. Ela tinha o jogo praticamente ganho, mas sabia que não poderia se precipitar. Precisava manter a calma.

As apostas subiram, o senador saiu da jogada, desistindo, enquanto a congressista a seguiu, como uma sombra. "Ela está blefando", pensou Dinah. Não tinha como alguém segurar algo mais forte do que o que ela tinha em mãos.

Terceira rodada. O dealer revelou a quarta carta comunitária: Dama de espadas. Perfeito. Seu coração acelerou mais. Um straight flush completo, do 7 à Dama, e ela sabia que dificilmente perderia. A congressista manteve o mesmo ritmo, aumentando ligeiramente a aposta, enquanto Dinah, confiante, a acompanhou. Ela podia sentir a vitória se aproximando, o barulho ao redor desaparecendo aos poucos enquanto focava completamente no jogo.

Quarta rodada. O dealer virou a última carta: Rei de espadas. Dinah quase riu. A mão era praticamente invencível. Straight flush, de 7 a Dama, e ela estava certa de que a congressista não teria nada tão forte. O suor frio nas costas a fez se ajustar na cadeira, mas por fora, nada denunciava seu estado interno. Ela lançou um olhar discreto para a congressista, que permanecia impassível.

O silêncio reinou por um momento enquanto todos aguardavam as últimas apostas. A congressista aumentou mais uma vez. Dinah acompanhou, jogando suas fichas restantes no centro da mesa. "É isso. Acabou."

Os dois revelaram suas mãos. Dinah soltou um suspiro aliviado ao mostrar seu straight flush, esperando a reação da mesa.

Mas a congressista virou suas cartas com a mesma calma calculada que manteve o tempo todo: Ás e Rei de espadas. Royal straight flush. Dinah sentiu o peso do momento. O impossível acabara de acontecer. O tipo de derrota que você só lê sobre, mas nunca espera presenciar.

O silêncio que se seguiu foi cortado pelo som das fichas sendo arrastadas para o lado da congressista, que finalmente deu aquele sorriso completo que Dinah não tinha conseguido decifrar antes.

Não tinha apenas perdido a mão, tinha perdido algo que nem todos ali sabiam que estava em jogo. Não havia sorrisos nem comentários. Apenas um silêncio desconfortável. O tipo de silêncio que você só percebe quando algo importante escapa, mas ninguém ousa falar sobre o que realmente aconteceu.

— Vamos? — A congressista apontou a mão para uma porta ao lado.

— Não quer uma desforra? — A loira sugeriu e a congressista apenas negou sorrindo.

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