Maçã

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Não lembro quantas horas passei naquele lugar. Meus pés e mãos estavam machucados, e meu corpo ardia, febril, de tanto forçar para retirar aquelas correntes. Eu já não tinha forças para lutar. Queria não desistir facilmente, mas, naquele momento, eu estava impotente. Na verdade, assim fui durante parte da minha vida.

Eu não queria imaginar o que minha progenitora poderia ter feito, ou o que ela faria. Estava com medo, aflita, e o desconhecimento sobre o que estava acontecendo me aterrorizava. Naquele momento, eu estava sozinha, incapaz de ajudar ou sequer buscar ajuda. Talvez esse fosse o preço por nascer; alguns tiveram a sorte de vir ao mundo em um ambiente onde a única preocupação era crescer.

Um ambiente disfuncional transforma pessoas em monstros. Se não fosse por Joohyun e minha paixão quase cega por ela, talvez eu não estivesse aqui, e ela teria morrido desde o início. Eu não sou como minha mãe. Entretanto, eu poderia me transformar em algo próximo do que ela se tornou. Afinal, até algumas semanas atrás, ela era a única pessoa que importava, e eu faria qualquer coisa por ela. Eu tenho alguém por quem lutar, ou pelo menos tinha. Meus esforços agora pareciam em vão.

Olhei ao redor do quarto, em busca de algo que pudesse me ajudar a romper aquelas amarras. Cheguei a pensar em decapitar meu braço ou mordê-lo até que se soltasse. Era impossível escapar. Eu conhecia a capacidade da minha mãe de destruir um ser humano e jogá-lo para os porcos sem qualquer remorso. O que ela faria comigo? Demonstrei clara rebeldia ao recusar matar minha quase namorada. A melhor mãe, um exemplo de maternidade saudável.

Um delírio claro da minha mente confusa e embriagada pelo recente choro me fez ouvir um barulho vindo da janela. Ignorei por um tempo, até ouvir um estalo seco de algo caindo atrás da cama. Fiquei quieta. Eu não conseguia ver e estava com medo de que fosse algum urso que tivesse escalado o castelo para me matar. Improvável, mas por um momento, desejei.

— Seulgi?

Levanto minha cabeça ao ouvir a voz de Yerim, ela estava lá. Em pé, suja de areia e um machucado no braço. Eu não conseguia verbalizar nada e talvez ela tenha percebido isso, ela apenas se ajoelhou com pressa ao meu lado tentando arrancar as amarras do meu braço, suas mãos tremiam e seus lábios batiam como alguém com frio.

— Como você?

— Ninguém me viu, nem sua mãe. Eu saí antes que ela chegasse e… Eu não tenho certeza se eles estão bem..

— Você ouviu algo?

— Tiros. — Meu coração acelera, ela parecia prestes a chorar enquanto tentava arrancar as cordas — Quando você ligou ela já estava próxima, eu só consegui sair porque ela não sabia que eu estava lá, ela falou o nome deles enquanto chegava. Seulgi… A voz da sua mãe não sai da minha cabeça, era como se ela tivesse entrado nas nossas mentes.

— Como assim?

— Não sei, antes dela chegar elas nos chamavam e a gente sentia uma vontade de ir… Era encantador enquanto você estava em transe, mas, depois que você sai dele… É notável que na verdade aquilo é sobrenatural, é horrível.

— Transe?

— Porra Seulgi, eu não sei. Estou tentando tirá-la daqui e você resolver essa merda. Não quero saber que tipo de bruxa sua mãe é ou o feitiço que ela usa.

— A chave — Por um momento ela me encara e penso que irá me xingar e eu aponto para a outra direção — ela derrubou no chão.

Penso que ela vai me xingar, creio que ela também pensou nisso, mas apenas correu buscando as chaves para que removesse aquelas correntes que machucavam meu pulso.

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⏰ Última atualização: Oct 13 ⏰

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