Por Marília.
Maraisa estava inquieta, não sei se falar sobre o que sinto foi uma boa ideia, acho que não era o momento pra isso.
- Tá tudo bem? - a observo no canto - tu tá quieta.
- Tá sim - sorriu fraco - é só uns problemas em casa que está me deixando assim, mas não se preocupa.
- É sobre seus pais?
Maraisa me olha intensamente por um tempo.
Droga, eu deveria ter ficado quieta.
- Quem te falou isso?
- A Luísa, mas desculpa tocar nesse assunto.
- Tá tudo bem - sorriu fraco novamente - vamos falar sobre outra coisa? Afinal, estou aqui pra te animar e não te encher com problemas.
- Como quiser - abaixo a cabeça - sobre o que quer falar?
- Tu disse que acha que gosta de mim, achei esse assunto interessante pro momento - sorriu pra mim.
Interessante? Eu tô com medo de tudo isso.
- Eu sei que tu nunca fez nada disso, mas se tu gosta de mim, tu deveria falar com mais clareza - me olhou atenta - entende?
- Luísa disse que eu deveria falar, mas eu não sei como explicar - fico um pouco sem jeito - eu me sinto bem quando estou contigo, quando tu não vem, eu sinto falta, eu te acho linda e quero estar sempre contigo, não sei o que tudo isso significa mas é isso.
Maraisa sorri, apenas sorri me deixando aflita.
- Tu não vai dizer nada? - abaixo a cabeça.
Ela continua em silêncio, coloca a ponta dos dedos em meu queixo e me faz olhar pra ela, aos poucos ela vai se aproximando seus lábios dos meus, eu estava nervosa e com medo mas não recuei. Quando eu pensei que finalmente iria dar meu primeiro beijo Maraisa recuou me deixando totalmente sem graça.
- Eu não posso - ela me olha chateada - aqui é meu local de trabalho e uma das regras e não ter nenhum tipo de relação com pacientes, me desculpa.
Ela se afasta me deixando chateada e volta pro canto que ela estava, eu entendo que ela não possa naquele momento, mas só o fato dela se afastar me deixou muito chateada.
- Tudo bem - abaixo a cabeça.
- Eu não vou mentir pra ti, eu quero muito poder te beijar mas aqui não podemos, se me pegarem aqui além de responder processo por quebrar as regas, ainda posso responder por pedofilia pois tu ainda é menos de idade.
Mais uma vez minha idade acabando com minha esperança de viver.
- Tá tudo bem, já disse - continuo cabisbaixa.
Maraisa dá início a um silêncio que me deixa cada vez mais chateada, eu não queria que nossa noite fosse assim, mas parece que não temos opção. Depois de um tempo inquieta, Maraisa tomou iniciativa de puxar outro assunto.
- Acho que tu vai gostar da Maiara - ela sorri fraco.
- Eu gosto de todo mundo, as pessoas que não gostam de mim - lancei um olhar sobre ela e abaixei a cabeça.
- As vezes tem pessoas que não gosta da gente como a gente queria que gostasse, mas saiba que isso não acontece somente contigo, comigo já aconteceu muito também.
Haha, duvido.
- Eu sei que ficou chateada por eu não poder te beijar.
De novo esse assunto?
- Mas saiba que eu queria muito - sinto ela olhar pra mim mas continuo de cabeça baixa - eu não sei por que mas quando eu estou contigo eu me sinto bem, minha vida tá de cabeça pra baixo e quando seu nome surge um sorriso meu escapa, eu gosto de ti Marília, gosto muito, eu não sei se isso vai dar em algo mas eu preciso ser sincera contigo - ela faz uma longa pausa antes de prosseguir.
Mesmo que eu não queira negar, sinto o mesmo.
- Eu queria muito poder ter algo contigo, tipo, além da amizade pois quando não estou contigo, parece que não tem graça viver.
Olho intensamente pra ela enquanto uma felicidade toma conta de mim, não digo nada apenas permaneço em silêncio, Maraisa sorri pra mim e abaixo a cabeça com isso, ela se levanta e vem até mim, coloca a ponta dos dedos em meu queixo e me faz olhar pra ela.
- Não fica em silêncio, diz algo por favor.
- Eu gosto de ti Maraisa, eu não sei como explicar mas o que eu sinto por ti eu nunca senti por ninguém.
Ela permanece em silêncio, olha em volta em busca de algo mas parece não encontrar.
- Eu sei que não deveria mas...
- Mas?
Maraisa não diz nada, apenas se aproxima juntando seus lábios nos meus, eu nunca havia beijado alguém na vida então aquela sensação foi meio estranha mas eu gostei, em um movimento lento, abri minha boca e dei passagem pra sua língua invadi-la e explora-lá por dentro.
Maraisa era delicada, o beijo dela era calmo e muito bom, sentir aquela sensação nova estava me enlouquecendo e tornando tudo mais interessantes. Ouço batidas na porta e me assusto, Maraisa se afasta rápido e olha pra porta assustada, o trinco abaixa e uma enfermeira entra.
- Licença - ela olha em minha direção - como está Marília?
- Bem - sorrio fraco pra ela enquanto Maraisa se afasta e vai pro canto novamente.
- O médico vai vir te ver amanhã, se continuar bem assim a noite toda, terá alta logo.
- Graças a Deus - sorrio pra ela - não aguento mais esse hospital.
Ela sorri simpática e me examina mais um pouco, ela sai e olho pra Maraisa que ainda permanece no canto.
- Essa foi por pouco - sorrio fraco e olho pra ela que ainda permanecia no canto.
Maraisa não diz nada, apenas fica distante, como se tivesse pensando em algo ou se arrependido do que fez.
- Tá tudo bem? - pergunto chateada.
Ela assente e permanece em silêncio me deixando aflita, eu não sei se ela está quieta pelo beijo ou há algo a mais que isso pra deixá-la dessa forma do nada. A ansiedade toma conta de mim por não saber o que estava acontecendo, minha respiração começa a ficar pesada e Maraisa percebe.
- Tá tudo bem? - ela se aproxima rápido - o que tá acontecendo?
- Chama a enfermeira - faço uma pausa e seguro o choro - por favor.
Maraisa sai correndo do quarto e eu tento não chorar, mas minha falta de ar aumenta me deixando com medo ali sozinha, eu não sei o que está acontecendo pois nunca fiquei assim por ninguém, Maraisa foi a única mulher que me fez sentir a melhor sensação do mundo e a única que me deixou mal desse jeito em poucos minutos.
A enfermeira entra correndo e Maraisa para na porta, ela me olha fixamente enquanto a enfermeira me examina e me põe a máscara de oxigênio. Aquele olhar assustado da Maraisa me deu medo, eu não conseguia distinguir o por que exatamente ela estava daquela forma, mas decidi relevar pelo menos no momento pra conseguir ficar bem logo.
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Até meu último dia (MALILA)
FanfictionApós descobrir um câncer terminal, Marília Mendonça de 17 anos, decidiu que não se apaixonaria de novo por ninguém, além de não querer ver sua amada sofrer com sua partida já esperada, ela não tinha como mandar em seu coração e nem nos seus sentimen...