Capítulo 10

26 9 3
                                    

Pov Maraisa.

Mais uma vez em casa, no meio do caos, as vezes fico perdida em meio tudo isso, mas o que posso fazer? São meus pais, a vontade de pegar minhas coisas e ir embora não falta, mas minha mãe precisa de mim agora.

- Oi mãe - entro em seu quarto - como a senhora tá?

- Onde eu tava Maraisa?

- Na casa da Luísa mãe, eu dormi lá.

Não apenas dormi, mas isso a senhora não precisa saber.

- Tu acha que me engana Maraisa, eu sei que tu estava com alguém lá.

- Quem disse mãe?

Só pode ter sido a boca de sacola da Maiara.

- Sua irmã te ligou, disse que outra pessoa atendeu.

- Tinha que ser a Maiara né? - suspiro pesadamente - o que mais ela te disse?

- Não quero saber o que ela disse filha, quero ouvir de ti, tu sabe que sou sua melhor amiga e tu pode me contar as coisas se quiser.

- Mãe, a senhora sabe que eu gosto de menina né?

- Sim meu amor, o que tem?

- Eu conheci uma garota, ela ainda é menor de idade e os pais dela são muito rígidos, ela está morando com a Luísa agora depois que ela fugiu de casa.

- Tu sabe que isso te põe em risco né Maraisa? Ela é menor de idade, tu pode ser acusada de pedofilia.

- Eu sei mãe, mas eu gosto dela de verdade, eu quero viver intensamente ao lado dela pois ela está morrendo.

Falar essa frase dói muito.

- Morrendo como filha?

Suspiro pesadamente enquanto meus olhos enchem de lágrimas.

- Ela tem um câncer terminal mãe, ela tem menos de cinco anos de vida.

- Oh meu amor, vem cá - ela abre os braços e me acolhe em um abraço apertado - se tu quer viver, vai viver meu amor, não se priva por saber que ela está doente, faz os dias dessa garota ser os melhores possíveis, mas toma cuidado com os pais dela tá? Se algo tiver te afligindo, pode falar comigo que te ajudo viu?

Solto ela do abraço e ela limpa minhas lágrimas.

- Nunca se esqueça Maraisa, sempre terá meu apoio pra tudo e eu quero conhecer minha nora - ela sorri me fazendo rir.

- Pode deixar dona Almira - limpo minhas lágrimas e fico ali com ela por um tempinho.

Minha mãe sempre foi uma mulher incrível, ela sempre me ouviu e me deu conselhos, não posso dizer que ela é uma mãe ruim pois estarei mentindo, a única coisa que tenho a reclamar dela é a falta de conversar com meu pai, por isso o casamento de vinte e três anos deles acabou dessa forma.

Minha mãe sempre foi uma pessoa muito fechada em relação ao seu casamento, meu pai a tratava mal e ela abaixava a cabeça, meu pai sempre foi superior a minha mãe, uma coisa que eu sempre achei muito errado, mas quem sou eu pra me meter, não é?

Quando me assumi pra minha mãe, ela ficou super feliz por eu ter contado a ela primeiro sobre minha sexualidade, apesar de sentir medo, aquela foi a melhor decisão que ja tomei na minha vida. Minha mãe me apoiou, diferente do meu pai que faltou me matar de tanto bater, ele dizia que eu estava desandada e que ele nunca iria aceitar uma filha dele com outra mulher.

Apesar de lidar com esse lado machista do meu pai, aprendi que eu vivo pra mim e não pra ele, não vou me privar das coisas que me fazem bem e feliz pra agradá-lo. Quando disse que queria me tornar uma especialista em pneumologia, meu pai foi contra, disse que mulher deveria trabalhar em casa e não fazer o trabalho de um homem.

Na cabeça dele, médico bom é médico homem, se for mulher ele morre mas não consulta com uma, o machismo dele é tanto que minha mãe nunca teve registro em sua carteira de trabalho pois eles se casaram novos. Ele sempre ensinou a mim e a Maiara que deveríamos nos casar cedo pra não ter que trabalhar, pois homem é obrigado a bancar tudo, não importa a idade, é obrigação do homem ser provedor da casa.

Enquanto meu pai ensinava isso a mim e a Maiara, nossa mãe sempre dizia o contrário, incentivava a gente a seguir nossos sonhos, fazer nossa faculdade e conseguir viver livre, não presa como ela.

Minha mãe sempre sonhou em ser pediatra pois sempre gostou de criança, mas meu pai a impediu, disse que ela já tinha duas crianças em casa pra cuidar, não precisava cuidar de mais, ainda mais no meio de tanto homem.

Eu espero que meu pai seja o último a saber sobre mim e a Marília, não quero que ele estrague o que estamos tendo no momento. Ainda ali com minha mãe, meu celular toca, vejo pela tela que é a Luísa e olho pra minha mãe.

- Atende filha.

Assenti e cliquei no botão ouvindo suspiros pesados.

- Oi Lu.

- Isa, sou eu, a Marília, por favor me ajuda.

- O que aconteceu?

- Meus pais estão vindo pra cá com a polícia, eu não quero voltar para aquela casa, posso ficar na sua casa até meus pais ir embora?

Olho pra minha mãe que está ouvindo tudo e ela assente.

- Pode, mas como tu vai vir?

- Eu chamo um Uber, a Luísa tem que tá aqui pra eles não entenderem que ela me levou pra algum lugar, tu pode me ajudar com o Uber? O dinheiro que tenho não dá - ela termina de falar e ouço a Luísa falando no fundo - não precisa, eu pago, só vai logo pra não acontecer algo.

Eu estava nervosa, com medo de perder ela de uma forma que não quero nem pensar.

- Pede o endereço pra Luísa, vou te esperar no portão.

- Tá bom.

Ela desliga e eu olho pra minha mãe.

- Acho que tu vai conhecer ela logo - sorrio fraco.

- Pois é - ela ri pra mim - vai lá esperar ela, vou preparar um lanche pra vocês.

- Tá bom mãe, obrigada - dou um abraço nela e saio.

Eu estava nervosa e com medo do que podia acontecer se os pais da Marília descobrissem que ela está comigo, mas decidi não pensar muito nisso pra não estragar a vinda dela pra cá.

A caminho do portão, olhei meu celular novamente e pensei em dar um celular a Marília de presente pra ela poder falar comigo sempre, voltei pra dentro e procurei novamente a minha mãe.

- Mãe - me aproximo - a senhora tem um dinheiro pra me emprestar?

- Quanto tu precisa filha?

- Eu preciso de uma boa quantia pra comprar um celular novo, prometo que devolvo depois a senhora.

- Filha, o dinheiro que tenho não dá pra um celular novo, mas ajuda muito na entrada de um, afinal, seu pai foi embora e não deixou mais nada, o dinheiro que tenho é o que sobra nos fins de mês e eu guardo.

- A senhora pode me emprestar amanhã? Prometo devolver.

- Não precisa devolver, agora vai esperar minha nora, ela já deve estar chegando.

Acho tão fofo a forma que minha mãe vê as coisas, ela é incrível.

- Tá bom mãe, eu te amo viu.

- Eu também te amo filha.

Saio e vou novamente pro portão pra esperar a minha loirinha.

Até meu último dia (MALILA)Onde histórias criam vida. Descubra agora