Pov Marília.
Após um bom tempo conversando com a Maraisa, notei alguns olhares dela sobre mim, eu não disse nada mas eles me chamaram a atenção.
- Tu é hétero? - tomou a iniciativa.
- Eu não sei - sorri fraco - nunca fiquei com uma mulher, na verdade nem com homem.
- Tu nunca ficou com ninguém?
- Desde pequena meus pais sempre foram muito rígidos, eu não podia sair de casa por besteira então acabou que cresci sem saber como é ficar com pessoas.
- Mas tu tem uma noção de como é né? - me olhou atenta.
Não.
- Sim, mas nunca tive oportunidade - fiz uma pausa - dizem que beijo tira o fôlego, eu já não tenho muito.
Ri com o que falei fazendo ela rir também.
- Nem sempre tira o fôlego - sorriu - só se o beijo for intenso.
- Nunca fiz essas coisas, então não sei.
- Posso te mostrar se quiser - me olhou nos olhos.
- Eu... - fiquei nervosa - Eu... Eu não sei.
Eu sei sim, eu quero mas estou com medo!
- Tudo bem, se não quiser eu te entendo.
Eu queria, mas estava com medo de não ser bom, medo dela não gostar e me achar desajeitada pois eu nunca havia feito isso. Ir pra festas já era tudo muito novo pra mim, agora ficar com pessoas em festas era além do novo.
- Desculpa tá? - abaixei a cabeça.
- Ei, tá tudo bem, entendo seu medo - colocou a ponta dos dedos em meu queixo fazendo eu a olhar - eu também senti medo no meu primeiro beijo, tá tudo bem.
Se está tudo bem, então me beija.
~•~
Dois meses, dois meses me isolando do mundo, eu já não saia mais de casa, não respondia mensagens, eu simplesmente deixei de viver. Luísa sempre vem aqui me ver, mas nunca tem sucesso pois meus pais a proibiram de entrar devido a festa que fui com ela.
Disseram a ela que ela me levou pro mal caminho quando me levou a aquela festa, apensar de eu nunca ter ido em uma, eu gostei de desafiar meus pais dessa forma, fiquei de castigo por um mês, só saía de casa nos primeiros dias mas com a supervisão de um dos dois mas agora nem pra sair no portão eu tenho ânimo mais.
Apensar de eu não ter feito nada de errado naquela festa, minha mãe disse que quem frequenta esses lugares são pessoas desonestas, que nunca terão um futuro. Que eu não teria um futuro eu já sabia, agora que pessoas assim frequentam boates eu nunca soube.
Desde aquele dia em questão, nunca mais vi a Maraisa, nos primeiros dias eu senti falta dela, mas entendi seu sumiço, afinal, nem nos conhecíamos. Não vou negar que não fiquei triste em não ver mais ela, mas ela é ocupada de mais em relação a faculdade então deixei tudo como tá.
Apesar de me isolar do mundo esteja me afetando muito, eu não estou tendo muitas opções pois meus pais também me proibiram de sair e tiraram meu celular.
Já tem alguns dias que não consigo me alimentar da forma que deveria e isso tem me dado uma certa fraqueza, tive tonturas fortes e faltas de ar frequentes, falei sobre isso com minha mãe mas ela só brigou comigo dizendo que eu estou desandada da vida pelo fato de ter saído aquela noite.
Tudo que acontece comigo, para os meus pais, são consequências de eu ter saído, mas lá no fundo, eu sabia que não era, devido à falta de alimentação, eu parei de tomar meus remédios, eu estava tão mal que eu queria morrer logo, quem sabe eu teria paz.
Devido à falta dos meus remédios, sinto que estou morrendo as vezes, a falta de ar é tanta que o concentrador de oxigênio e as bombinhas não são suficientes, já implorei pra minha mãe me levar ao médico mas ela sempre está ocupada.
Parece até que não se importa que sua única filha está morrendo. Sinto que sou um peso pra ela, mas não tenho como mudar isso, afinal, eu não tive culpa de ter esse câncer, eu não escolhi isso.
Os dias começavam e terminavam, todos eles iguais, eu estava cansada de tudo isso, então tive a brilhante ideia de fugir novamente, mas dessa vez não dar explicação e nem nada, apenas desaparecer.
Meus pais haviam saído então fui até o telefone fixo, tentei ligar pra Luísa mas ela não atendeu então resolvi sair sem rumo por aí.
Peguei algumas coisas e coloquei na bolsa, peguei o dinheiro da minha mesada que eu estava guardando pra quando eu precisasse e sai pela janela. Andando pelas ruas sem rumo, avistei a Luísa de longe, eu tentei correr até ela mas senti muita falta de ar, tive que parar de correr antes de chegar nela.
- Lu - gritei, mas não foi alto o suficiente.
Ela estava de costas então não sabia que eu estava ali, como eu não havia comido nada minha pressão começou a cair, minha visão foi ficando embaçada e eu fiquei com medo, medo de morrer ali sozinha.
Com minha visão um pouco desfocada, vi a Luísa correr em minha direção, eu pensei que ela não iria me ver, mas ela veio até mim.
- Amiga, tá tudo bem?
Eu não consegui responder, apenas cai no chão por estar completamente sufocada e com a pressão baixa.
- Me ajuda aqui - Luísa diz a alguém que eu não consegui ver - amiga, não dorme, vou te levar no hospital, amiga-
Minha audição foi ficando fraca e eu fui perdendo a consciência.
~•~
Abro os olhos de vagar e vejo a Luísa parada na beirada da cama.
- O que - faço uma longa pausa - tô fazendo aqui?
Eu não me lembrava de quase nada então decidi questiona-lá.
- Tu desmaiou na rua amiga, te trouxe pra cá pois não tinha muito o que eu fazer entende?
Antes que eu pudesse falar algo, vejo a porta abrir com força.
- Marília - minha mãe se aproxima.
Luísa olha pra ela e abaixa a cabeça dando um paço pra trás.
- O que tu fez com minha filha sua infeliz? - gritou com a Luísa.
- Eu não fiz nada, ela caiu na rua e-
- Cala a boca, some daqui, eu não quero te ver nunca mais com a minha filha.
Luísa assentiu e foi saindo.
- Não - faço uma pausa - eu quero que ela fique.
- Não Marília, ela vai embora.
- Se ela for, eu quero que tu vai também, afinal, ela estava lá pra me ajudar enquanto a senhora estava na rua sem ao menos lembrar que tem uma filha - respirei fundo pra recuperar o ar - se ela for, eu não te quero aqui.
Minha mãe fica em silêncio e vejo a Luísa parada na porta, eu estava com um pouco de falta de ar mas mesmo assim consegui falar.
- Vem aqui Lu, fica aqui comigo - levantei a mão pra ela se aproximar.
Luísa olha pra minha mãe que abaixa a cabeça, ela se aproxima e segura minha mão, ela é a pessoa que mais me ajuda em relação a tudo que estou vivendo, não vou deixar minha mãe afastar ela de mim dessa forma.
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Até meu último dia (MALILA)
FanfictieApós descobrir um câncer terminal, Marília Mendonça de 17 anos, decidiu que não se apaixonaria de novo por ninguém, além de não querer ver sua amada sofrer com sua partida já esperada, ela não tinha como mandar em seu coração e nem nos seus sentimen...