Capítulo 1

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Os raios de sol invadem meu quarto e percebo que o dia amanheceu lindo, um sol radiante brilha em um azul anil sem nuvens.

Me permito ficar na cama por mais cinco minutinhos imaginando o que eu poderia fazer hoje. Eu poderia colocar um tênis e ir caminhar no calçadão, depois tomar sorvete em uma das sorveterias que têm ao longo da avenida com vista para o rio. Perto do almoço posso trocar o tênis por uma sandália leve com um vestido floreado, fazer compras no shopping enquanto admiro as vitrinas de mãos dadas com meu namorado lindo, moreno, alto, olhos cor de mel, não, olhos cor de mel não.

Meu celular apita novamente e meu tempo para sonhar acordada chega ao fim.

Tomo um banho rápido, coloco uma roupa qualquer, elas vão ficar por baixo do meu jaleco mesmo, pego uma maçã e vou, mais uma vez, para o mesmo lugar que vou há mais de sete anos, o hospital.

Amo meu trabalho. Nunca imaginei ter outra profissão que não fosse ligada a área da saúde.

Na minha vida, o curso de medicina em uma universidade federal, sempre veio em primeiro lugar. Estudava por horas e horas interminável, após o horário do colégio, e meu final de semana se resumia em biblioteca e grupos de estudos. Não que isso tenha mudado muito, hoje se resume em biblioteca e hospital.

Antes de entrar no hospital vejo um casal fazendo um pequeno escândalo, na verdade a mulher está fazendo um escândalo, o homem parece aflito e mudo.

Trabalho aqui faz um bom tempo, comecei ainda quando estava na universidade e sou muito grata por ter sido aceita no quadro de funcionários após a formatura, então, sempre que posso ajudar, faço o possível e o impossível para o bom funcionamento da instituição.

– Bom dia, seu João. Posso ajudar?

Pergunto me dirigindo ao guarda do hospital que parece pronto para chamar o restante da segurança.

– Essa senhora está aflita, ela quer um médico preparado esperando a amiga que está chegando. Alguma coisa a ver com um assalto.

A moça me olha e começa a falar sem parar e segura meu braço.

– Pelo amor de Deus, nos precisamos de ajuda. Você pode nos ajudar? Por favor, chama alguém que possa vir receber a Lili... eles devem estar chegando... ele tinha uma arma... ela é desastrada...

É normal familiares e amigos chegarem ao hospital mais em pânico do que os próprios pacientes. A mulher, de cabelos encaracolados e olhos verdes, continua segurando o meu braço e falando sem parar. Não consigo entender a metade.

– Eu posso ajudar. Você pode se acalmar agora, estou aqui para ajudar vocês. – Vou falando e dirigindo eles à recepção, tentando descobrir mais alguma coisa. O homem que está com ela não fala nada e parece em choque. – Quem precisa de ajuda? O que aconteceu?

– A Alice estava na farmácia e o bandido armado atirou!

Olho para o balcão de recepção e faço um sinal que provavelmente vou precisar de ajuda. Ferimentos à bala provenientes de assaltos normalmente atingem os lugares mais diversos.

– Ela está vindo com alguma ambulância? Ela está consciente? Perdeu muito sangue?

– O Cléo está trazendo ela.

– Você sabe onde ela foi atingida?

– ELA FOI ATINGIDA?

O homem que estava mudo até agora, resolve se manifestar. Uma das recepcionistas chega para me ajudar a contornar a situação. Estamos em um hospital particular muito bem conceituado. Não temos permissão para deixar os pacientes, ou acompanhantes, fazerem escândalos e barracos.

Amizade, Amor e Você - DegustaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora