A felicidade que sinto é algo surreal.
— Vou indo. — O Cássio tenta me dar outro beijo na bochecha e quase cai em cima de mim. — Não deveria ter tomado a última cerveja.
A última? Provavelmente ele deveria ter parado umas seis cervejas antes.
— Como você vai para casa?
Ele se aproxima, abre um sorriso debochado e solta sem piedade.
— Boa tentativa, mas não levo mulheres para a minha casa. Nunca.
Engulo o nó que se formou na minha garganta e antes que eu pense em falar alguma coisa, ele sai caminhando.
Pelo menos não está pensando em dirigir.
Volto para o carro, não preciso entrar no bar, o Cássio não está mais lá.
O que estou fazendo? Por que de todas as minhas paixões platônicas e obsessões, esta está sendo a pior? O que fui fazer em mais da metade das academias da cidade no sábado à tarde procurando pelo Cássio?
Ligo o carro e vou na direção que vi o Cássio indo.
Posso ser ingênua, romântica e CDF, mas acima de tudo, sou persistente.
O encontro duas quadras do bar. Paro perto da calçada, desligo o carro, desço e abro a porta do lado do passageiro antes de chamá-lo.
— Cássio, entra no carro. — Tento uma voz firme.
— Não. — Ele responde sem nem me olhar. — Não vou deixar você se aproveitar da situação para criar intimidade.
— Não sou eu, Rebecca, quem vai te levar para casa.
Ele para, vira e faz cara de quem não está entendendo nada.
— E é quem então?
— Sou eu, doutora, quem vai te levar. Agora entra.
O Cássio ainda parece meio relutante, mas entra.
— Dobra à esquerda, anda três quadras e depois à esquerda de novo. É o prédio com o coqueiro no jardim.
Faço o que ele falou em silêncio, não posso abusar da minha sorte.
Estaciono em frente ao prédio e não dou chance para ele dizer que não precisa mais de mim. Desço e o ajudo a descer, pego a chave que está na sua mão, abro o portão e entro como se estivesse apenas ajudando um paciente realmente.
Entramos no elevador e ele aperta o botão do andar. Sei que estou exagerando, ele não está tão bêbado quanto eu faço parecer, mas não posso perder a oportunidade de ficar mais tempo por perto.
— Você vai entrar e tudo?
— Sim. Você toma banho, eu preparo um chá e procuro um analgésico para mascarar a ressaca.
O Cássio não discute, vai direto para o corredor, que imagino dar acesso aos quartos, e abre a primeira porta. Corro para a cozinha, coloco uma água esquentar e procuro uma caixa de chá, que não existe.
Estou preparando café quando escuto a porta abrir.
Madre Santa! Estou tentando ser apenas a doutora Rebecca, porém sou ginecologista, meus pacientes não ficam desfilando um corpo perfeito e másculo, somente de cueca, por aí.
— Esqueci a toalha, estendi na área de serviço. – Quem é o homem que estende a toalha na área de serviço? — Agora vou para o banho.
Ele volta e entra em outra porta. Espero ouvir o barulho do chuveiro para bisbilhotar pelo apartamento.
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Amizade, Amor e Você - Degustação
RomanceCom 28 anos, formada em medicina e sem nunca ter tido um namorado, Rebecca, está cansada de todos os seus amores. Amores platônicos, amores imaginários, amores literários e amores virtuais, mas nunca namorados e amores de verdade. Com 16 anos teve s...