Respiro fundo, seguro o Cássio pelos ombros e o afasto do meu corpo com muita, mas muita, dificuldade.
— Não acho uma boa ideia — o sorriso desaparece do seu rosto perfeito e seus olhos parecem escurecer. — Tenho mesmo que trabalhar.
— Você está mentindo — ele está desapontado.
O Cássio se aproxima mais uma vez, sem encostar em mim, mas perto demais para o meu gosto, cruza os braços e fica esperando eu falar alguma coisa.
— Tudo bem, estou mentindo — não sei mentir. Todo mundo sabe quando estou mentindo. — Tenho plantão sim, mas começa daqui uma hora.
— Então?
— Apenas não preciso me aproveitar do teu corpo mais uma vez para me sentir — paro de falar.
Não sei como explicar. Não sei como me sinto exatamente para descrever.
— Está chateada comigo? É isso?
Olho para ele. Seus olhos demonstram que ele realmente quer saber a resposta, que ele realmente se importa, que ele gostaria muito de saber se estou chateada com ele.
Estou chateada com ele? Tenho motivo para estar chateada com ele?
Penso em mentir para ele, e para mim. Apenas desisto de ficar achando desculpas. Puxo ele para um abraço, enterro meu rosto no seu peito e falo a verdade.
— Não, Cássio, não estou chateada com você. Estou chateada, decepcionada e triste comigo — ele me afasta para olhar nos meus olhos. Continuo sem medo. — Odeio ser como sou, essa mulher romântica, sonhadora e cheia de esperanças.
— Eu te falei que eu não tenho relacionamentos, que...
— Eu sei — um sorriso triste aparece sem permissão no meu rosto. — Por isso não estou chateada com você. Adoro me aproveitar do teu corpo, adoro os momentos que passamos juntos, mas quando acaba, o vazio que sinto, a saudade que me invade e o medo de nunca mais ter você para mim...
Ele me puxa de encontro ao seu peito novamente e me braça com carinho.
— Rebecca, não sei muito bem o que você espera de mim — ele continua acariciando minha costas, o conforto do seu toque e o cheiro de Cássio são perfeitos. — Não sei como agir. Faço de tudo para não criar falsas esperanças, não quero decepcionar as pessoas, muito menos você. Esse é um dos motivos de eu não sair com a mesma mulher duas vezes seguidas. Eu tinha certeza que iria ter problemas quando você apareceu lá em casa quente como o deserto.
Meu riso é divertido e sincero.
— Achei que você não iria me deixar entrar.
— E eu não deveria ter deixado — ele gargalha.
Alguns minutos passam até ele voltar a falar.
— Não gosto de te ver triste. Você tem um sorriso lindo, seus olhos diminuem e sua pinta ao lado da boca sobe quando você sorri. Não consegui resistir mesmo sabendo que poderia dar errado.
— Não se preocupe, se isso te faz melhor, eu já era apaixonada por você.
Ele aperta mais o abraço e um som estrangulado tenta sair de sua boca. Não me importo, falei que ele precisava se acostumar com isso.
Perco a noção de tempo que ficamos apenas abraçados. Eu poderia ficar assim para sempre. Sinto ele beijar meus cabelos, me afastar e deixar um beijo na minha testa.
— Vem, vou te levar para o trabalho — ele tira a chave da minha mão e me conduz até o outro lado do carro, abre a porta para mim e mais uma vez senta ao lado do motorista. — Precisa passar em algum lugar antes ou dirijo direto para o hospital?
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Amizade, Amor e Você - Degustação
RomanceCom 28 anos, formada em medicina e sem nunca ter tido um namorado, Rebecca, está cansada de todos os seus amores. Amores platônicos, amores imaginários, amores literários e amores virtuais, mas nunca namorados e amores de verdade. Com 16 anos teve s...