Entre linhas e fardas

8

Os dias haviam voltado a uma certa normalidade após o sequestro de Laura. A família, ainda que sempre em alerta devido às circunstâncias perigosas que envolviam as profissões de seus membros, tentava seguir em frente. Henrique, embora ainda protetor e vigilante, tentava equilibrar sua vida entre o trabalho no BOPE e o relacionamento com Laura. Mas a tranquilidade era sempre algo frágil em suas vidas, e Heloísa, a mãe de Laura, sabia disso melhor do que ninguém.

Foi numa manhã, enquanto Heloísa revisava relatórios em seu escritório na delegacia, que o primeiro sinal de uma nova ameaça surgiu. Seu celular vibrou com uma notificação de mensagem de um número desconhecido. Ela hesitou por um momento antes de abrir, sentindo um pressentimento ruim se formando no estômago. Ao deslizar o dedo na tela, seu coração parou por um segundo.

A foto era de Laura.

Laura, saindo de casa, conversando com uma amiga na faculdade. A data da foto indicava que havia sido tirada dias atrás. Heloísa sentiu o sangue gelar. Aquilo não podia ser coincidência. E então, outra mensagem chegou logo em seguida:

"Se seu marido não defender o chefe da gente no tribunal e sua nora não liberar nosso amigo da prisão, Laura e Luiz vão sofrer. E nada de Henrique, ou o amorzinho dele vai pagar o preço. Estamos de olho."

Heloísa sentiu um frio na espinha. Eles não estavam apenas ameaçando Laura, mas também Luiz, seu neto. Luiz, o pequeno filho de Lucas e Raquel, a joia da família, que mal tinha idade para entender o que estava acontecendo. Heloísa respirou fundo, tentando controlar a adrenalina que corria pelo seu corpo. Ela sabia que as ameaças eram reais, e que as pessoas por trás disso estavam dispostas a tudo.

Seu primeiro instinto foi pegar o telefone e ligar para seu marido, o advogado criminalista da família. Ele sempre fora um homem firme, mas as implicações desta ameaça eram maiores do que qualquer caso que ele já havia defendido. Os bandidos exigiam que ele defendesse um dos maiores chefes do tráfico da cidade, recentemente preso numa operação que envolvia tanto Heloísa quanto Lucas e Henrique.

Ela também queria avisar Raquel, mas sabia que precisava agir com cautela. Raquel era a juíza que tinha o poder de liberar o tal "amigo" do tráfico, mas permitir que o sistema de justiça fosse manipulado dessa forma era algo que ia contra tudo o que Raquel defendia. Além disso, envolver Henrique diretamente poderia pôr Laura em perigo, e Heloísa sabia que não podia arriscar a vida da filha.

Mas o que ela não sabia era que essas mensagens estavam longe de ser um caso isolado.

Naquela noite, sentada na mesa da cozinha com seu marido, Heloísa mostrou-lhe as mensagens e as fotos. Ele olhou cada uma delas com uma expressão sombria, seus lábios se apertando em uma linha fina. Sabia que estava sendo colocado em uma posição impossível.

"Se eu aceitar defender esse chefe do tráfico... pode ser o fim da minha carreira," ele murmurou, segurando a cabeça nas mãos. "E se eu não fizer isso, eles ameaçam a nossa filha e o nosso neto."

"Não podemos ceder," Heloísa respondeu com firmeza, embora a angústia estivesse clara em sua voz. "Mas também não podemos deixar que eles machuquem Laura e Luiz. Precisamos pensar em um plano."

"Raquel jamais iria soltar aquele bandido," ele disse, balançando a cabeça. "Isso vai colocá-la diretamente na linha de fogo."

Enquanto discutiam, o telefone de Heloísa vibrou novamente. Mais uma mensagem do número desconhecido. Desta vez, a foto era de Luiz, brincando no jardim da casa de Raquel e Lucas. O coração de Heloísa apertou. Eles estavam observando cada movimento da família.

"Você tem até amanhã para nos dar uma resposta. Ou começaremos a agir."

Na manhã seguinte, Heloísa encontrou Laura na delegacia, onde a filha estava trabalhando em seu estágio. Heloísa tentou manter o semblante firme, mas Laura, com seu olhar atento, percebeu que algo estava errado.