3 - Eduardo

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Encostado na cabeceira da minha cama, após um longo e estressante dia de trabalho que me fez usar mais das minhas mãos do que eu gostaria, bebo uma dose generosa do meu exclusivo whisky Aberfeldy enquanto leio, novamente, Romeu e Julieta. Quem não me conhece de verdade não faz ideia de que tenho a leitura como uma forma de me desestressar. Nem mesmo eu acreditaria se me contassem que o segundo maior empresário e agiota de Forks Falls lê, quem dirá livros clássicos.

Cursei Economia na PUC e, para meu desgosto, na época, entre as matérias optativas, tive que escolher entre Literatura Clássica ou Filosofia. Escolhi, relutante, Literatura Clássica. Sem chances de passar 4 anos em uma sala discutindo quem era o Pensador mais sábio ou querendo criar novas reflexões filosóficas para algo que um bom palavrão resolveria. No meio da matéria, conheci o famoso Shakespeare e me tornei simpatizante de suas obras, principalmente Romeu e Julieta e Sonho de Uma Noite de Verão.

Após me formar e começar com os meus negócios, continuei com o hábito de leitura. Já li todos os livros clássicos que possa imaginar, mas sempre volto para Shakespeare. A forma como ele relata as tragédias, o drama e a intensidade me prendem de uma forma inexplicável. E, falando em inexplicável, até hoje existe um trecho de Romeu e Julieta que nunca consegui entender: o ato 2 cena 6, onde o Frei Lourenço diz que "[...] Esses prazeres violentos têm fins violentos, e morrem em seu triunfo, como o fogo e a pólvora, que, ao se beijarem, se consomem". Já pensei em várias interpretações, mas nenhuma me pareceu certa e, sinceramente, isso não deveria me incomodar mais.

Fecho o livro, saindo de meu devaneio e o guardo na imponente estante que tenho em meu quarto. Quando fecho meus olhos para dormir, me pego novamente pensando naquela frase - O que prazeres violentos teria a ver com fins violentos? O prazer não poderia ser violento e ter um fim satisfatório?

Obrigo minha mente a se silenciar e só desejo que o dia de amanhã traga coisas boas para compensar o péssimo dia que tive hoje.

Achando que meu dia não poderia piorar, quando já estou quase caindo no sono, o celular toca e na tela já vejo que é o Jackson e, provavelmente, pela décima vez neste ano, vai me pedir dinheiro para quitar dívidas de jogo novamente. E eu, claro, sempre acabo emprestando, já que os juros compensam. Sou um cara visionário, a concessionária de motos que tenho até que me dá um bom retorno, mas o que realmente faz a minha vida boa existir é o meu trabalho de agiotagem, esse, sim, me dá um ótimo retorno.

Atendo o telefone impaciente.

— De quanto você precisa? — Sento-me na cama para falar com meu amigo.

— Sempre tão direto. É sempre muito gratificante falar com você. — ironiza.

— Jackson, tempo é dinheiro e estou perdendo o meu com você. Qual o valor?

— Antes de falarmos sobre valores, quero logo adiantar que não é para mim.

— Você sabe como eu trabalho, então deveria ter informado ao seu amigo que deve entrar em contato comigo pessoalmente. Não trato de negócios sem ver a pessoa cara a cara.

— Essa pessoa é uma amiga da minha namorada. Estou fazendo apenas uma ponte.

— Como assim? Está virando garoto de recado agora? Por que ela mesmo não veio falar comigo?

— Eu disse que poderia intermediar a conversa com você, afinal, eu já te conheço, então fica mais fácil, e sem contar que ela já está com tanto problema na cabeça que quis facilitar tudo e, fazendo isso, acabo agradando à Renata que anda desconfiada de mim, ultimamente.

— Qual o motivo do empréstimo? - perguntei revirando os olhos - ela está com dívidas de drogas?

— Não mesmo. Brenda é a pessoa mais careta que eu conheço. Ela está devendo a faculdade. Está no último ano e, se não pagar, não conseguirá concluir a faculdade. E de verdade, cara, a garota já passou por poucas e boas na vida, acho que merece pelo menos essa conquista.

— Não sou de me comover com historinhas tristes, você sabe né? Vou emprestar já que é por um bom motivo, e porque você conhece a pessoa, mas avisa que ela tem 3 meses para me pagar. Se atrasar, vou pessoalmente cobrar, e nós dois sabemos que não sou muito piedoso com quem me dá a palavra e não cumpre, não é?

— Vou transmitir o recado. Ela é muito honesta, pode confiar.

— Me encontra no lugar de sempre. Vou te entregar o envelope com o valor e o contrato para ela assinar. Quero o contato e uma foto dela recente.

Assim que encerramos a chamada, Jackson me envia uma foto de Brenda que, por sinal, é muito bonita, seu contato e a quantia que será necessária. Depois sigo até o cofre, digito a senha e pego o valor do empréstimo.

Acordo Perigoso (+18)Onde histórias criam vida. Descubra agora