Ninho

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Certa vez, um pardal decidiu fazer seu ninho na janela de um senhor. Acordava com o sol, suas pequenas asas batendo como um coração ansioso, e voava em busca de aventuras pelos horizontes mais distantes, onde cada sopro de vento o deixava ofegante, fraco e arranhado pela ânsia de viver. Por vezes, uma cobra, uma coruja ou até mesmo um gavião se lançavam em sua direção, mas ele resistia, desafiando os vendavais e sempre voltando para o aconchego do seu ninho.
Ao final de cada dia, o pardal trazia consigo um galho, como se cada um fosse um toque de cuidado para aperfeiçoar o seu lar. O senhor, com um sorriso sempre estampado no rosto, todas as manhãs lhe desejava boas viagens, mas aos poucos o passarinho começou a ignorá-lo, às vezes até saindo antes do amanhecer, como se quisesse escapar de correntes e gaiolas inexistentes.
Com o tempo, o peso do medo tornou-se sufocante, e o pardal, cansado de voar, deixou de se importar com seu ninho e de trazer os galhos mais bonitos da floresta. O senhor, percebendo essa mudança, também cessou seus cumprimentos. Entre eles, a conexão, como uma rosa no sertão, murchava, embora ainda dividissem o mesmo metro quadrado. O pardal permanecia ali por conveniência, abrigando-se em um espaço seguro, onde nenhum predador o alcançaria, afinal o velho os tangeria para bem longe do pássaro.
Em uma de suas fugas da águia, o pássaro foi seguido até seu ninho. A furiosa ave observou-o por noites, madrugadas, feriados, fins de semana e datas comemorativas, como uma sombra amedrontadora. O homem, percebendo tal movimentação, decidiu proteger o pardal, mesmo que ele parecesse distanciar-se do senhor. Mas, o pássaro apenas se aproveitava da segurança do lar, roubando a esperança que o senhor nutria em seu coração, a ideia de um amor que se tornava cada vez mais destroçado.
Diariamente, o homem trazia alpiste e um galho de presente, como quem tenta conquistar um coração desconfiado, mas o pardal rejeitava. O medo o dominava, mesmo sabendo que a monstruosa águia já havia partido. Ele se sentia como um prisioneiro dentro da caverna, convencido de que todos os que se aproximavam tinham a intenção de capturá-lo, como feito anteriormente.
Então, repentinamente, o senhor partiu deste mundo. O pardal, agora desprovido de proteção, sem alpiste, sem galhos novos e sem o bom dia acolhedor todas as manhãs, sentiu-se desossado. Olhando para as estrelas, pedia perdão, quase que implorando, mas já era tarde. O vazio preenchia o espaço que antes era repleto de esperança, e a saudade se tornava sua única companheira, ecoando em cada aresta da casa, que agora estava vazia.

Do silêncio ao solOnde histórias criam vida. Descubra agora