Em meio a tempestades que jamais cessavam, acreditei que teu abraço seria o refúgio que acalmaria todos os ventos que me rasgavam. Esperava que em você se dissipassem os medos e o vazio de afetos que me consumiam. No entanto, foste tu quem me fez duvidar: seria tua a culpa por abrir novas feridas mais profundas, ou minha por entregar-te a chave da minha cura?
Hoje, depois de tanto navegar nessas águas turbulentas, teu peso parece ter se dispersado, mas o que restou foram as marcas — cicatrizes esculpidas em meus seios, boca, e entre as coxas. Assim como o rastro da onça na mata, deixaste tuas pegadas cravadas em minha pele, vestígios de uma violência tão cruel, quanto disfarçada.
Caminho pelas ruas e sinto tua sombra, sempre à espreita. O medo de estar só se entrelaça com o desespero da tua presença. Às vezes, corro, como se buscasse um lugar onde tua lembrança não pudesse me atingir, onde finalmente encontraria espaço para me reconstruir sem ser destruída.
Esse livro é o relato da minha travessia pelas sombras da tua violência, numa tentativa de traduzir o que me aconteceu. Cada palavra é uma semente arrancada das feridas que deixaste em mim, uma forma de desvendar o silêncio que carrego, para, quem sabe algum dia, alcançar o sol e a luz que ele irradia.