Entre tantas cartas de amor, ali estavam as minhas mais sinceras confissões, dedicadas ao meu doce de caju, fruto que sequer florescera. Com as letras mais delicadas, eu te contava o quanto te sentia inteiro quando nos deitávamos sob os lençóis, onde agíamos como rios que desaguam suas águas em versos intermináveis. Cada toque, cada suspiro, era uma estrofe que escorria de nós, dissolvendo as fronteiras entre corpos e poesia. Nas minhas palavras, tudo fluía como o vento que acaricia a pele, e mesmo sem concretizar teu amor, eu já flutuava nas tuas nuvens, como uma folha entregue ao céu.
Eu fantasiava teu cheiro na quietude da noite, teus olhos caramelos, o toque das tuas mãos, tão suave quanto veludo, e o tumulto doce dos teus lábios que, ao tocarem os meus, me transformavam num lago, transbordando com a tua chegada. Em cada linha que escrevia, eu derramava pétalas e pólens, como uma flor que busca por uma abelha. Eu te implorava, em todas elas, que me regasse se eu murchasse, que me levasses contigo onde quer que teus pés fossem, e que compreendesse as minhas raízes mais profundas.
Cada carta carregava o peso doce de um desejo, a dor suave de esperar pela tua chegada, até que o momento se fez real. Quando finalmente saboreei do teu mel, cada palavra que escrevi antes parecia ter se enraizado em mim, e senti-me leve, polinizada pela tua presença, disposta a florescer ao teu lado, como sempre almejei em minhas escritas.