capítulo 7

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Com Ana

Ana acordou com a mesma sensação de mal-estar que vinha sentindo há semanas. A princípio, achou que era apenas cansaço devido à rotina intensa entre o trabalho e os projetos paralelos que ela tanto amava. No entanto, os sintomas estavam se tornando mais frequentes e difíceis de ignorar. Tonturas repentinas, enjoos pela manhã, um cansaço que não passava nem com horas extras de sono. Algo estava errado, mas Ana ainda não tinha coragem de enfrentar a possibilidade de uma doença.

Enquanto lavava o rosto no banheiro, olhou para o espelho e sentiu uma pontada de ansiedade. Havia uma outra possibilidade, uma que ela vinha tentando afastar de sua mente, mas que agora parecia cada vez mais real. A lembrança daquela noite em que saiu com as meninas para um bar, meses atrás, veio à tona. Ana não era de sair muito, mas quando saía, costumava aproveitar como se fosse o último rolê. Foi naquela noite que ela conheceu alguém, um rapaz atraente, e, envolvida pelo clima e pela sensação de liberdade, acabou dormindo com ele. Desde então, não havia pensado muito sobre o assunto, até que os sintomas começaram.

Enquanto secava o rosto com a toalha, o pensamento finalmente se cristalizou: E se eu estiver grávida?

Ela tentou afastar a ideia mais uma vez, mas o enjoo que a dominava naquele momento a fez encarar a realidade. Os sintomas batiam. Será possível?

Era seu dia de folga, e, em vez de aproveitar para descansar ou encontrar as meninas, Ana decidiu que precisava esclarecer as coisas de uma vez por todas. O medo de estar doente já era grande, mas o medo de uma gravidez inesperada a assustava ainda mais. Respirou fundo, vestiu uma roupa confortável e saiu de casa em direção à farmácia.

Ao chegar lá, Ana disfarçou o nervosismo enquanto procurava os testes de gravidez. Quando encontrou, pegou três deles, como se precisasse da confirmação tripla para aceitar o que quer que viesse. Passou pelo caixa rapidamente, evitando o olhar do atendente e sentindo que o coração batia mais forte a cada segundo.

De volta ao seu apartamento, Ana se trancou no banheiro. Colocou os três testes sobre a pia, abriu as embalagens com as mãos trêmulas e seguiu as instruções com cuidado. Tudo que podia fazer agora era esperar os cinco minutos mais longos da sua vida. A ansiedade tomava conta enquanto ela andava de um lado para o outro no banheiro, sentindo um nó no estômago.

Finalmente, após o que pareceram horas, os cinco minutos se passaram. Ana respirou fundo e olhou para os testes. Todos mostravam o mesmo resultado: positivo.

Por um instante, ela ficou paralisada. A confirmação de que estava grávida caiu sobre ela como um peso esmagador. Mil pensamentos inundaram sua mente ao mesmo tempo: Como isso aconteceu? Como vou contar para as meninas? E o meu trabalho? E os meus projetos? Eu estou pronta para isso?

Ana se sentou na beirada da banheira, ainda segurando um dos testes, sentindo as lágrimas escorrerem silenciosamente por seu rosto. Não era tristeza, exatamente, mas um misto de medo, incerteza e confusão. Ela sempre foi a pessoa que estava no controle de tudo, que fazia planos, que pensava em cada detalhe antes de tomar qualquer decisão importante. Mas agora, algo tão grande e inesperado surgia em sua vida, e ela não sabia o que fazer.

Ela sabia que, de alguma forma, suas amigas a apoiariam. Jess, Mirella, Joana, Gabi... elas eram como irmãs para ela. Porém, a ideia de contar a elas sobre a gravidez a deixava ansiosa. Não queria preocupar ninguém antes de ter certeza sobre sua situação. Precisava ir ao médico, fazer exames, entender melhor o que estava acontecendo antes de falar qualquer coisa.

Depois de alguns minutos tentando se recompor, Ana tomou uma decisão: guardaria esse segredo por enquanto. Precisava de tempo para processar tudo antes de compartilhar a notícia com as meninas. E, mais do que isso, precisava ter certeza de que estava pronta para o que viria pela frente.

Ela pegou o celular e marcou uma consulta com o ginecologista para o final daquela semana. Só depois de ouvir o médico, entender melhor sua condição e refletir sobre suas opções é que tomaria a decisão de contar ou não às amigas.

Naquela noite, enquanto tentava dormir, Ana se sentia envolta em um turbilhão de emoções. Estava apavorada com o futuro, mas também sabia, em algum lugar profundo dentro de si, que poderia enfrentar isso. Ela só precisava de tempo, de clareza e de coragem.

O desafio agora era conciliar esse segredo com o convívio diário com as meninas, que a conheciam tão bem que poderiam perceber que algo estava diferente. Ana sabia que o dia em que teria de contar chegaria, mas até lá, ela tentaria agir como se tudo estivesse normal, mesmo que, por dentro, nada estivesse.

Nos dias seguintes, ela se esforçou ao máximo para manter a rotina sem levantar suspeitas. Mas a verdade era que as amigas já começavam a notar pequenas mudanças. Joana, sempre atenta, perguntou em um almoço se Ana estava bem, comentando que ela parecia um pouco distante.

“Estou só cansada, o trabalho está me sugando”, respondeu Ana, com um sorriso forçado. Joana pareceu aceitar a resposta, mas Ana sabia que não poderia manter essa fachada por muito tempo.

O final de semana se aproximava, e com ele, a tão aguardada consulta médica. Ana estava ansiosa para ouvir do médico que tudo estava bem e, ao mesmo tempo, com medo das novas responsabilidades que vinham com a gravidez. Ela nunca havia planejado ser mãe naquele momento da vida, mas agora a realidade estava ali, diante dela, exigindo decisões.

Na manhã da consulta, Ana acordou com o coração acelerado. Tentou manter a calma e focar no que precisava fazer. Tomou café da manhã, respirou fundo e saiu de casa. O caminho até o consultório parecia mais longo do que de costume, como se cada passo a aproximasse de um novo capítulo da sua vida.

Quando chegou, o médico foi direto e gentil. Fez algumas perguntas, pediu exames e, finalmente, confirmou o que Ana já sabia: ela estava grávida, de cerca de seis semanas.

“Agora precisamos fazer um ultrassom nas próximas semanas para verificarmos se está tudo bem com o bebê”, disse o médico, enquanto anotava as recomendações. Ana ouviu atentamente, mas sua mente estava a mil.

Ao sair do consultório, Ana sentiu um alívio por finalmente ter uma resposta concreta, mas também uma enorme responsabilidade sobre seus ombros. Ela caminhou pela rua, tentando digerir todas as informações.

E agora, o que eu vou fazer? — pensava.

Sabia que em breve teria que encarar as amigas, contar sobre a gravidez e lidar com o apoio e as preocupações que viriam. Mas por enquanto, precisava de um momento para si, para processar o que aquilo significava e se preparar para o que viria.

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