capítulo 12

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Nos dias que se seguiram àquela noite, a vida de Ana entrou em um ritmo frenético. Ela dividia seu tempo entre consultas médicas, reuniões de trabalho, e os preparativos para a mudança definitiva a Nova York. As amigas, sempre presentes, faziam o possível para garantir que ela se sentisse amparada, especialmente agora que seu segredo estava finalmente à tona. Apesar da leveza que sentia ao ter compartilhado tudo com elas, uma nova preocupação surgia a cada dia. O futuro, embora empolgante, também era assustador.

Ana sabia que ser mãe solteira em uma cidade como Nova York seria um desafio imenso, mas, ao mesmo tempo, algo dentro dela acreditava que estava pronta para isso. A cada nova etapa, a ansiedade era acompanhada de uma sensação de força renovada. Afinal, ela havia superado obstáculos tão grandes na vida, que aquele, apesar de complexo, seria mais um a vencer.

No dia seguinte, Ana fez questão de caminhar pelo Central Park. A cidade, mesmo no inverno rigoroso, tinha uma energia vibrante, e ela se deixou levar pelas ruas movimentadas, pela cultura diversa que transbordava a cada esquina. Sabia que havia muito o que descobrir, não apenas na cidade, mas também sobre si mesma.

A barriga de Ana já começava a aparecer mais visivelmente, e, enquanto caminhava, sentia um misto de orgulho e nervosismo. Seria uma longa jornada, sem dúvida, mas ela estava pronta para encarar cada etapa, sabendo que, não importa o que acontecesse, ela não estava sozinha.

Com o passar do tempo, Ana e suas amigas se ajustaram à vida em Nova York. Elas se reuniam sempre que podiam, equilibrando o trabalho, a vida pessoal e, claro, os preparativos para a chegada do bebê. Havia ainda muitas incertezas quanto ao futuro, especialmente sobre o papel do pai na vida da criança, mas Ana, com a força que sempre carregou consigo, decidiu que enfrentaria esses desafios conforme eles surgissem.

Com Jess

Jess estava sentada no sofá da sala de Ana, as mãos inquietas no colo enquanto seus olhos vagavam pela janela. A vista de Nova York à noite era vibrante, iluminada por milhares de luzes que refletiam a vida acelerada da cidade. Era difícil acreditar que já estavam ali há dois meses. E, para Jess, Nova York tinha sido uma mistura de emoções. Ela era a mais retraída do grupo, sempre preferindo ficar em seu próprio espaço, observando de longe enquanto as amigas se jogavam em novas experiências. Mas algo dentro dela havia mudado nos últimos tempos, e ela sabia exatamente o porquê.

— Jess, tudo bem? — perguntou Ana, sentando-se ao lado dela. — Você está meio quieta hoje.

Jess sorriu de leve, tentando esconder a confusão que sentia. Há semanas, ela vinha conversando com uma pessoa que conheceu por acaso em uma noite que decidiu sair sozinha, algo raro para ela. Naquele dia, sentiu a necessidade de esfriar a cabeça, escapar da rotina e, quem sabe, se permitir um pouco de diversão. Foi num barzinho local que conheceu Augusto, um homem com quem, sem querer, começou a compartilhar mais do que uma simples conversa.

Desde então, eles estavam se vendo com frequência, ficando juntos, mas Jess havia escolhido manter tudo em segredo. Ela não queria lidar com as perguntas ou a curiosidade das amigas, pelo menos não ainda. Mas, nos últimos dias, algo estava diferente. Ela se sentia estranha, uma mistura de ansiedade e desconforto que não conseguia explicar completamente. Sabia que precisava conversar com alguém, e Ana parecia a pessoa certa.

— Ana, eu preciso falar uma coisa com você, mas é meio... complicado — disse Jess, seu tom hesitante.

Ana virou-se para ela, seu rosto relaxado em uma expressão de compreensão.

— Claro, Jess. O que foi?

Jess respirou fundo, seus dedos ainda torcendo a barra da blusa de maneira nervosa.

— Eu... eu conheci alguém há algum tempo, e tenho ficado com essa pessoa. Não contei para ninguém, porque... eu queria manter isso só para mim por enquanto. Sabe, sem expectativas ou pressão. Mas agora eu não sei. Estou me sentindo estranha ultimamente.

Ana sorriu suavemente, não surpresa pelo fato de Jess estar envolvida com alguém, mas compreendendo por que ela não havia compartilhado isso antes.

— Estranha como? — perguntou Ana, mantendo o tom calmo e encorajador.

— Não sei bem explicar. Eu estava tão bem, tão feliz. Você e as meninas até comentaram que eu estava diferente, mais alegre, e era verdade. Augusto tem sido ótimo, sabe? Mas, nos últimos dias, me sinto meio perdida, como se algo estivesse errado comigo.

Ana ficou em silêncio por um momento, refletindo. Ela sabia que, para Jess, se abrir desse jeito era um grande passo, então escolheu suas palavras com cuidado.

— Jess, eu entendo por que você quis manter isso só para você. Às vezes, a gente só quer algo que seja só nosso, sem as expectativas dos outros. Mas, essa sensação estranha... você acha que tem a ver com Augusto? Ou é algo mais pessoal?

Jess olhou para o chão, considerando a pergunta.

— Eu realmente gosto de Augusto, ele me faz sentir bem. Mas acho que tem algo mais. É como se... não sei, eu tivesse medo de me envolver de verdade. Como se estar feliz me deixasse vulnerável, sabe? Eu fico pensando que, se eu contar para vocês, de alguma forma, vou perder esse controle que eu acho que tenho.

Ana assentiu, entendendo perfeitamente o medo que Jess descrevia. Ela também já havia se sentido assim em alguns momentos de sua vida, quando a vulnerabilidade parecia mais assustadora do que qualquer outra coisa.

— Jess, você não precisa ter pressa para contar nada para ninguém. Isso é seu, e só você sabe o momento certo para compartilhar. Mas, se você está se sentindo mal, talvez seja porque está carregando isso sozinha por muito tempo. Às vezes, falar com alguém pode ajudar a aliviar esse peso.

Jess sorriu, um sorriso tímido, mas agradecido.

— Eu sabia que você ia entender. Acho que, no fundo, eu estava precisando mesmo falar sobre isso, nem que fosse para organizar meus pensamentos. Mas, honestamente, eu não sei se estou pronta para contar para as outras ainda. Preciso ter certeza de como me sinto antes de deixar todo mundo saber.

Ana concordou.

— Claro. E você não precisa contar até se sentir totalmente pronta. Mas, Jess, se você está se sentindo estranha, talvez seja bom conversar com Augusto também. Quem sabe ele pode te ajudar a entender melhor o que está acontecendo? Às vezes, o problema não é só nosso, sabe? E, se ele é importante para você, vai querer estar ao seu lado, não importa o que for.

Jess pensou nisso por um momento. Talvez Ana tivesse razão. Talvez conversar com Augusto a ajudasse a lidar com esses sentimentos confusos.

— Você está certa. Eu vou falar com ele. Eu só... estava com medo de estragar tudo, de fazer as coisas ficarem complicadas demais. Mas acho que é melhor do que ficar carregando isso sozinha.

Ana colocou a mão no ombro de Jess, oferecendo conforto.

— Vai ficar tudo bem, Jess. E, qualquer coisa, eu estou aqui, tá? Você não está sozinha nisso.

Jess assentiu, sentindo-se um pouco mais leve. Ela sabia que ainda havia muito a resolver, tanto com Augusto quanto com seus próprios sentimentos, mas agora, com o apoio de Ana, sentia que poderia enfrentar isso com mais clareza. O que ela mais temia era abrir mão da felicidade que finalmente havia encontrado, mas, ao mesmo tempo, sabia que precisava confrontar seus medos para poder seguir em frente.

Nos dias que se seguiram, Jess refletiu sobre a conversa com Ana e, finalmente, decidiu que era hora de falar com Augusto. Eles marcaram um encontro em um café tranquilo, e Jess sentiu seu coração acelerar enquanto se aproximava da mesa onde ele já a esperava. Hoje seria o dia em que ela enfrentaria seus receios, na esperança de que, ao abrir seu coração, encontraria respostas  e quem sabe, paz.




Estou na correria,mas prometo que sexta feira eu recompenso vocês ☺️🥰

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