Garoto do Rio

Epílogo - A Última Cartada

Londres amanhecia, e a névoa começava a dissipar-se lentamente, revelando a cidade em sua majestade cinzenta. Para Clara, Miguel e Luísa, o novo dia não trazia alívio, mas a certeza de que o futuro era incerto. Depois de tudo que descobriram, sabiam que a batalha estava longe de acabar.

De volta ao hotel, o trio estava em silêncio, tentando processar os últimos acontecimentos. Clara, especialmente, estava imersa em pensamentos profundos. A revelação de que Rafael estava envolvido com Os Bastidores a perturbava profundamente. O irmão que ela sempre acreditou estar em perigo, na verdade, havia manipulado toda a situação desde o início. Mas a questão que persistia em sua mente era: por quê?

Ela sabia que havia mais por trás daquela história, e seu coração, dividido entre a lealdade a Rafael e a verdade cruel que descobrira, estava em conflito. Mesmo que ele estivesse envolvido com aquela organização sombria, ela ainda acreditava que havia uma explicação. Ela se recusava a acreditar que o irmão que ela tanto amava havia se tornado completamente corrupto.

— O que faremos agora? — Miguel perguntou, quebrando o silêncio. — Não podemos simplesmente fugir. Eles sabem que estamos aqui, e Rafael está lá fora.

— Precisamos encontrá-lo. — Clara respondeu, com uma determinação que surpreendeu os dois. — Eu preciso falar com ele, cara a cara. Não posso sair daqui sem entender o que aconteceu.

— Isso é muito arriscado, Clara. — Luísa alertou. — Ele está profundamente envolvido com Os Bastidores. Não sabemos o que ele pode fazer.

— Ele ainda é meu irmão. — Clara insistiu. — E eu vou descobrir a verdade, custe o que custar.

Miguel suspirou, sabendo que não conseguiria demovê-la. Clara estava determinada, e quando ela tomava uma decisão, era quase impossível convencê-la do contrário.

— Certo. Então, como faremos isso? — ele perguntou, já se preparando mentalmente para o próximo passo.

Clara se levantou, pegando o celular. Ela tinha uma pista — uma última mensagem deixada por Rafael nos arquivos que conseguiram acessar antes de apagá-los. Um local marcado fora de Londres, uma antiga fábrica abandonada que parecia ser o ponto de encontro dele.

— Vamos até ele. Eu sei onde ele está. — Clara disse com firmeza.

Horas depois, o trio chegou ao local indicado. A fábrica abandonada, com suas janelas quebradas e paredes corroídas pelo tempo, parecia um cenário perfeito para o confronto final. Clara respirou fundo antes de entrar, sentindo uma mistura de ansiedade e esperança. Ela não sabia o que a esperava, mas estava pronta para enfrentar a verdade.

Dentro da fábrica, a atmosfera era pesada, e os passos ecoavam nas paredes vazias. Clara liderava o grupo, avançando lentamente até uma sala no fundo do edifício. Ali, no centro, sob a luz fraca que entrava pelas janelas, estava Rafael.

Ele parecia diferente. Seu rosto estava marcado pelo cansaço, seus olhos carregavam um peso que Clara nunca havia visto antes. Não era o mesmo garoto que ela lembrava. Algo nele havia mudado profundamente.

— Clara. — Rafael disse, com a voz rouca. — Sabia que você viria.

— Claro que eu viria. — Clara respondeu, seu tom firme, mas repleto de emoção. — Preciso entender, Rafael. Preciso saber por que você fez tudo isso.

Rafael suspirou e passou as mãos pelo rosto. Ele parecia cansado, como se carregasse o peso do mundo sobre os ombros.

— Não é tão simples, Clara. — ele começou. — Eu me envolvi com Os Bastidores porque achei que poderia controlá-los, usar o poder deles para nos proteger. Mas eu estava errado. Eles me consumiram, me transformaram em algo que eu nunca quis ser.

— Então por que nos envolveu nisso? — Miguel perguntou, a voz tensa.

— Porque vocês são a minha única chance de sair disso. — Rafael respondeu, olhando diretamente para Clara. — Eu sabia que, se vocês chegassem até aqui, seria a prova de que ainda posso ser salvo. Mas agora é tarde demais.

Clara sentiu uma pontada de dor no peito. Ela queria acreditar que ainda havia uma maneira de salvar Rafael, mas ele mesmo parecia resignado ao destino que havia escolhido.

— Não é tarde demais. — ela disse, aproximando-se. — Podemos acabar com isso juntos. Podemos derrubar Os Bastidores e sair daqui.

Rafael riu amargamente.

— Você não entende. Eles estão em toda parte, Clara. Não há como fugir. Eles têm controle sobre tudo. Eu os decepcionei, e agora, só há um caminho para mim.

Antes que Clara pudesse responder, o som de passos ecoou pelo corredor. As portas da fábrica se abriram, revelando várias figuras encapuzadas — membros de Os Bastidores.

— Clara, vá embora! — Rafael gritou, se colocando entre ela e os capangas. — Eu vou segurá-los.

— Não! — Clara gritou, estendendo a mão para ele, mas Rafael já havia tomado sua decisão.

Em um movimento rápido, Rafael ativou um dispositivo no chão, uma explosão de luz e som que atordoou os capangas por alguns segundos, o suficiente para Clara, Miguel e Luísa correrem em direção à saída.

— Rafael, venha conosco! — Clara gritou novamente, mas ele não respondeu. Em vez disso, ele olhou para ela uma última vez, com um sorriso triste, antes de desaparecer nas sombras.

Clara sabia que não poderia salvá-lo naquele momento, mas sua luta ainda não havia terminado. Ela, Miguel e Luísa correram pela fábrica, escapando dos capangas que começavam a se recuperar da explosão.

Quando finalmente chegaram ao lado de fora, o ar fresco da manhã os envolveu, e por um momento, houve silêncio.

— Ele... ele ficou para trás. — Clara disse, com os olhos marejados. — Mas eu vou encontrá-lo novamente. Eu vou trazê-lo de volta.

Miguel colocou a mão no ombro dela.

— Vamos acabar com Os Bastidores. É a única maneira de salvar Rafael de verdade.

Clara assentiu. Ela sabia que a luta contra aquela organização sombria ainda estava apenas começando, e a jornada para salvar Rafael seria longa e perigosa. Mas ela estava pronta.

Enquanto o sol começava a subir no horizonte de Londres, Clara fez uma promessa silenciosa: não descansaria até que tivesse trazido seu irmão de volta, não importava o que fosse preciso.

FIM – DE VERDADE AGORA

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