Acordei bem mais cedo do que costumo, geralmente não durmo bem se não estou no meu quarto, ainda preciso me acostumar. Tomo um banho rápido, desço com a intenção de ver um filme antes de todos acordarem para o café da manhã e me deparo com meu pai preparando panquecas e assistindo ao jornal da manhã.
O andar de baixo é todo em conceito aberto, a cozinha é grande com armários bem claros e uma grande ilha, os sofás são claros e com almofadas coloridas velhas. Decido ver o jornal quando escuto meu pai me dar bom dia, retribuo e me deito no sofá assistindo ele fritar as panquecas.
— Vocês brasileiros e essa mania de andar pra cima e pra baixo de cabelo molhado— diz ele fritando a última panqueca.
—Não tenho paciência de usar o secador.
— Você não tem paciência pra maioria das coisas, desde pequenininha.
Ele pousa a travessa de panquecas na ilha e me encara esperando que eu responda. Me pareceu uma alfinetada, não tenho plena certeza, mas mesmo se for não pretendo entrar nesse jogo.
— Eu quero fazer tudo certo dessa vez filha, sei que não confia em mim e quero reconquistar sua confiança, mas isso leva tempo e você precisa me dar abertura— continua ele ao ver minha reação e me serve uma panqueca e a calda de caramelo.
Não gosto de ter conversas profundas pela manhã, na verdade não gosto de conversas profundas e ponto. Sento-me na mesa, elogio a panqueca.
— Eu vou me esforçar— resmungo e meu pai me beija na têmpora direita.
— É só o que eu peço.
Instantes depois, desce minha mãe e Jeremy, e cerca de meia hora depois vem Jamie toda produzida. Pergunto o porquê e ela me diz que vamos ao shopping.
— Querem uma carona?— pergunta meu pai.
— A gente tá acostumada a ir a pé, assim da pra gente ver a cidade— respondo.
—Não seja boba, o shopping mais próximo daqui tem uns 10 quilômetros de distância— minha mãe entra na conversa.
Eu havia me vestido para ficar em casa, então subo para me trocar. Quando termino, minha mãe já está buzinando para que eu me apresse. Tenho a quem puxar, não sou a única impaciente da família.
— Não sabe que é falta de educação chamar uma dama na buzina?— digo para ela assim que entro no carro.
Ela me responde revirando os olhos e dizendo que não tenho nada de dama. Meu pai está ao seu lado no banco do passageiro, ele me explica que precisa conversar com o arquiteto do novo restaurante. Me atenho a não fazer perguntas, pois sei que não terei boas respostas e soarei desconfiada e negativa. Tínhamos um restaurante no Rio de Janeiro chamado Prates. Do dia para noite quando meus pais reataram o relacionamento, minha mãe resolveu vende-lo para investir em um restaurante com meu pai aqui em Saint Frances Cabrini.
Meu pai é cozinheiro como minha mãe, há poucos dias atrás ele pediu as contas do restaurante que trabalhava como chef de cozinha para que investisse nesse tal restaurante. Não posso sequer mentalizar alguma desconfiança dos motivos pelos quais depois de tantos anos meu pai teve esse súbito desejo de reatar com minha mãe. Desconfio que meu pai que não tinha dinheiro o suficiente enxergou uma vantagem na ex esposa com o restaurante bem sucedido para montar o seu próprio.
Não posso sequer imaginar uma coisa dessas sem ser acusada de estar agourando nossa nova vida, tenho que ficar na beira do precipício com braços abertos e olhos fechados sem ter sequer o direito de ter o benefício da dúvida se meu pai irá nos empurrar ou não.
Ao estacionar na portaria do shopping, nossos pais se despedem, entregam o cartão de crédito para Jamie e pedem para não extrapolarmos. Adentramos o shopping meio sem rumo até encontrarmos uma loja de móveis aleatória.
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Gracie's Place
Teen FictionApós seus pais de repente reatarem o casamento após anos de separação, Joy Lott se muda do Brasil para Saint Frances Cabrini, cidade que seu pai ainda reside e a qual nasceu e foi criada por alguns anos com seus irmãos Jamie e Jeremy. O que deveri...