Capítulo 19 | Confusão

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POV Dulce María


🧜🏻‍♀️


Na terça-feira de manhã, acordei suando frio. Um grito engasgado na garganta se tornou um gemido desesperado, na minha tentativa de não fazer barulho.

Os sonhos estavam cada vez mais frequentes. E assustadores. Eu tinha medo do que estava por vir.

Meu olhar baixou para o lado direito da cama, perto da janela, onde Christopher ainda dormia profundamente em seu colchão de ar. Olhei para o relógio-despertador e vi que ainda tinha 30 minutos antes que tivesse que me arrumar para ir à escola com Christopher. Não que eu tivesse noção de quanto tempo eram 30 minutos. O tempo era muito esquisito aqui na superfície.

Meus pensamentos derivaram de volta para o meu primeiro dia de escola. Não tinha sido de todo ruim. Apenas os humanos homens que não paravam de me rodear, e não havia nada que eu pudesse fazer sobre isso. Pelo menos Christopher os espantou.

Me lembrei de como eu usara meu charme para afastar suspeitas e ganhar a confiança dos humanos. Nenhum deles podia saber quem eu era. Mesmo com as notícias circulando. Não era seguro pra ninguém que eles soubessem.

Então eu tinha usado meu charme. Coisa que eu tinha jurado que nunca usaria.

A voz da minha mãe ecoou nos meus ouvidos, como uma lembrança distante. Não adianta, Dulce María. O charme faz parte de você. Mais cedo ou mais tarde, você irá usá-lo. E vai adorar cada minuto disso.

E ela estava certa.

Mesmo que eu tivesse usado o charme como uma tática de autopreservação, eu tinha adorado usá-lo. Ter pessoas à sua mercê, acreditando em cada palavra que você dizia, era um sentimento poderoso. Eu poderia ter facilmente mandado alguém fazer algo por mim e tinha certeza que seria atendida.

Suspirei. Era exatamente por isso que eu não gostava da história do charme.

Olhei para Christopher de novo, que agora estava virado de barriga para cima, a boca levemente aberta. Uma mão repousava em sua barriga e outra estava solta do seu lado. Ele ainda estava profundamente adormecido.

Eu me levantei, fazendo o mínimo de barulho possível, e segui para o banheiro. Lavei o rosto com a água fria da torneira, que não era nem de longe tão boa como a água salgada do mar, mas me revigorava.

Me olhei no reflexo do que os humanos chamavam de espelho e vi meus olhos um pouco fundos, com menos brilho, minhas bochechas mais magras e uma expressão cansada.

Eu só não sabia se isso era por causa do pesadelo ou pelo tempo que eu já tinha passado fora d'água.

Balancei a cabeça para espantar os pensamentos ruins e me despi, entrando debaixo do chuveiro e começando meu banho. Eu tomava mais do que a maioria dos humanos, eu presumia.

Mas, bem... Era água. Eu precisava dela como os humanos precisavam de oxigênio.

Lavei meu cabelo com cuidado, usando o shampoo de Christopher. Maite tinha me ensinado a fazer isso da última vez que ela tinha vindo aqui, ontem à noite. Mesmo que eu fosse usar o cabelo falso, eu não queria maltratar meu próprio cabelo. Ele já estava menos macio do que o normal, e eu não sabia se era porque a textura dele era naturalmente diferente longe da água.

Depois do cabelo, foi a vez do meu corpo. Enquanto estava nas minhas pernas, eu as admirei. Eu tinha as desejado por tanto tempo... E agora, aqui estavam elas, e eu já estava mais acostumada com a visão dos dois membros ao invés da minha longa cauda brilhante.

O canto da SereiaOnde histórias criam vida. Descubra agora