A presa

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Mais tarde naquele mesmo dia voltei à cidade. Nunca me pareceu natural sair de um habitat tão lindo e voltar à insanidade da civilização, mas infelizmente uma mulher tem contas a pagar. Eu precisava ministrar uma aula cedo no dia seguinte e acordar cedo nunca foi meu forte, considerando que da roça/meu recanto de paz era quase uma hora de distancia precisei simplificar e dormir na cidade.

Chegando tomei um bom banho, ainda não havia mexido no celular desde que conversara com Matheus de manhã, acreditava que àquela altura, a taça deixada por Matheus já havia sido descoberta, se sim, a internet já estaria em chamas, post, vídeos, reacts... Esta é a era em que vivemos, pessoas levam vidas tão patéticas que precisam desesperadamente de quaisquer novidades que façam com que elas se sintam vivas e nada torna alguém mais vivo do que a sensação eminente da morte.

Confesso que gosto da atenção, não exporia meu trabalho se não gostasse. Obviamente que sou considerada um demônio para muitos, já fui mandada para o inferno tantas vezes no último ano que até Satanás me daria boas-vindas, não que eu e ele já não tivéssemos uma boa relação. Mas as coisas tem mudado desde o caso do padre Inácio.

A investigação de Amanda começara a trazer os resultados que eu esperava, desde que ela interpretou o motivo pela qual eu assassinei o padre pedófilo ela começou a pesquisar o passado das outras vítimas. Muitas é claro não foram identificadas, um pênis em um cálice não é exatamente um meio muito fácil de identificar alguém, principalmente se esta pessoa é alguém que não faz falta a ninguém, porém Amanda não teve dificuldades em descobrir que todos os homens assassinados eram de alguma forma agressores e isto chacoalhou o país.

"Vilã ou heroína? Justiceira ou criminosa? Assassina a sangue frio ou vingadora?"

Estas eram apenas algumas das postagens que víamos espalhadas por toda a internet, sem contar que depois da aparição de Amanda muitas pessoas acolheram a ideia de termos uma assassina ao invés de um assassino. Tudo isso dividia opiniões, divida pessoas, dividia o país. Não que a população precisasse de muitos motivos para se repartir. Com tantas opiniões ao meu respeito eu mesma muitas vezes me pus a me perguntar, o que de fato eu sou, quem de fato eu sou, mas sempre chego à mesma conclusão, eu sou muitas, eu sou o tudo e o nada. Sou boa e sou ruim, sou vilã e sou heroína, sou fogo ou gelo, paixão ou morte, tudo depende dos olhos de quem me lê.

De toda forma, eu não podia fugir de quem eu era e quem eu era, naquele momento, era o que as pessoas decidiam que eu era. Por isso fui ao Red Lougue meu bar favorito, era próximo à faculdade, nada muito extravagante, mas não continha os bêbados dos bares que eu frequentava antigamente e era pouco frequentado pelos alunos que preferiam lugares mais alegres.

Sentei me no lugar de sempre, um cantinho na área dos fumantes com uma janela enorme que me permitia ver a rua escura e movimentada, pedi a cerveja de sempre, coloquei a mão no meu bolso para criar coragem e ligar meu celular, mas algo mais interessante chamou imediatamente minha atenção. Ela não parecia pertencer àquele lugar, honestamente me perguntava se pertencia de fato a algum lugar. Ela se sentou no balcão, parecia confiante como sempre, mas era nítido seu desconforto. A vi atendendo uma ligação, não fui capaz de ouvi-la, mas seu olhar era... triste? Não... cansado ou conformado.

_Segunda vez em menos de uma semana investigadora, as pessoas dirão que está rolando um clima. – Disse brincalhona me sentando ao seu lado, pensei que assim como da primeira vez ela levaria à mão até a cintura em direção a arma, mas ela não se assustou, parecia que me esperava, ou que previa minha chegada.

 – Disse brincalhona me sentando ao seu lado, pensei que assim como da primeira vez ela levaria à mão até a cintura em direção a arma, mas ela não se assustou, parecia que me esperava, ou que previa minha chegada

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A Dama de Vermelho - O olhar de uma assassinaOnde histórias criam vida. Descubra agora