Triangulo

2 0 0
                                    

Acordei sem ressaca naquela manhã e nitidamente de péssimo humor. Gostava de emoção, sim, mas não gostava de imprevistos canônicos que podiam facilmente acabar com meus planos. Precisava manter minha mente sã e focada, porque agora além de prosseguir com minha missão, precisava caçar outro serial killer. O lado positivo é que auxiliando Amanda eu teria acesso a valiosas informações, mas mesmo assim, mais uma vez, estávamos lutando em lados opostos, porque ela queria prendê-lo e eu, mata-lo.

Como se não fosse o bastante todo o caos que esgueirava minha vida paralela, em minha vida convencional precisava trabalhar. O único lado bom é que a aula que eu ministraria naquela manhã detestável era para a turma de Perícia Criminal a qual Amanda fazia parte. Antropologia fazia parte da grade de muitos cursos da universidade o que me permitia ver muitos rostos distintos, ah e é claro, também veria o rosto de Samuel, mais um ponto pro azar.

Cheguei as 8:08, atrasada como sempre, os alunos já haviam se acostumado, pontualidade não era meu forte, mas a quantidade de artigos que eu havia produzido e meu reconhecimento social compensavam com certeza. Entrei na sala em silencio sem olhar para ninguém, como de costume, a um tempo atrás já amei lecionar, sempre achei que eu tinha conhecimento suficiente para passar para outras pessoas, mas de uns anos para cá tudo havia mudado. Não era só o fato de eu me tornar uma assassina, a sociedade também havia mudado, as pessoas perderem a curiosidade, a vontade de aprender. As gerações se tornam cada dia mais superficiais e o verdadeiro conhecimento perdeu seu valor. Não é por acaso que algumas das pessoas mais bem sucedidas do país hoje são produtoras de conteúdo digital, é disso que a juventude se alimenta.

Joguei minha bolsa sobre a mesa juntamente com meu sobretudo preto e todos se calaram e olharam em minha direção aguardando. Passei os olhos pela classe rapidamente, procurando-a, ela estava na primeira fileira, como sempre. Seu olhar era sério e concentrado como de costume, Yara era uma excelente aluna e aprender era uma prioridade para ela, diferente dos demais da sua idade. Mantive contato visual com ela por alguns segundos, mas logo encarei seu colega sentado ao seu lado. Samuel era um rapaz incrivelmente insosso e comum, branco, corpo de quem começara academia a pouco tempo, cabelo preto levemente ondulado e cara de idiota. Peço desculpas leitores, por não poder dar uma descrição melhor, fiz o melhor que pude.

_Morte. – Eu disse sem delongas, sem bom dia, sem aviso prévio. – morte é que trouxe vocês aqui hoje, lidar com a morte é o futuro que escolheram para si, tudo bem, não se sintam estranhos, a morte é tão natural quanto a vida. – Caminhava pela sala, os olhares me acompanhavam em silencio, inertes às minhas palavras. – e infelizmente para nós, mortais, nem sempre esta morte é natural. A natureza tem uma forma sábia de se manter funcionando, seres da mesma espécie tendem a proteger uns aos outros para preservação de si mesmo, mas não é sempre que isto acontece. Animais podem matar, assassinar, por território, busca por fêmeas, machos que matam filhotes de outros machos e até mães que comem seus próprios filhos pois sabem que não irão sobreviver. Parece frio quando olhamos de fora, mas dentro da natureza, sempre há um motivo. – Me encostei na mesa, via os olhares dos rapazes e algumas garotas passeando sobre meu corpo. – Mas e com seres humanos, há um motivo? É isso que vocês vão me dizer hoje. Formem grupos de cinco pessoas vocês tem vinte minutos para formular as teorias de porque matamos seres de nossa própria espécie. Quais são os motivos que nos levam a eliminarmos uns aos outros, mesmo quando todo nosso histórico antropológico nos diz que vivemos melhor quando estamos em sociedade. Quando acabarem cada grupo terá cinco minutos para me apresentar suas teorias.

Observei os olhares abobalhados daqueles jovens me encarando perdidos, não conseguiam fazer uma tarefa simples sem serem ordenados como vacas em um rebanho. Era trágico.

_O que estão esperando? – Perguntei ríspida.

Notando minha falta de paciência os alunos rapidamente se reuniram em grupos, Samuel obviamente sentou-se no mesmo grupo de Yara junto com outros três alunos que nunca me preocupei em saber o nome. Aproveitei os minutos extra para verificar se haviam noticias do novo caso na internet e sim, o corpo já havia sido descoberto, ainda me espantava com a forma rápida que as coisas se espalhavam. Finalizando o tempo chamei um grupo aleatório para expor suas teorias.

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: a day ago ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

A Dama de Vermelho - O olhar de uma assassinaOnde histórias criam vida. Descubra agora