Capítulo 6

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Olá, meus coraçãaaao! Vcs tão boas? Espero que sim. Chegando com capítulo pré final de semana pra vcs:

*

Dafni

— Querida, não fique assim. Nós vamos dar um jeito. Sempre demos. — Vovó esfregou as minhas costas com carinho e beijou o meu rosto.

Funguei e sequei as lágrimas. Olhei para ela, em sua roupa humilde e os tamancos estalando enquanto ia até o fogão para mexer a comida que estava quase queimando. Só queria dar uma vida melhor a eles, roupas novas, mais comida na mesa. Sabia o quanto estavam fartos de ter sempre a mesma coisa, mas nunca reclamavam. Não me importava nem um pouco de cuidar deles, ser a responsável, porque a pequena aposentadoria não dava para nada, mas me sentia péssima quando a instabilidade financeira me deixava com medo daquela forma.

— Sua avó tem razão. Não há motivo para choro. Já passamos por coisa muito pior. Você é boa, logo conseguirá outra oportunidade.

Meu avô terminou de colocar a mesa, puxou uma cadeira e se sentou ao meu lado. Ele não me deixou ajudar, porque eu não conseguia parar de chorar. Eles sempre dizem que não é o fim do mundo, mas eu sinto como se fosse.

— Está tão difícil arranjar um emprego na Grécia. Eu tenho medo de não conseguir e ter que ir embora para...

Vovó se virou de lado para a sua panela, ergueu uma colher de pau no ar e falou com firmeza, mas baixo, como se fosse uma continuar um assunto impronunciável:

— Nem pense nisso, Dafni. Você é uma grega, não precisa correr para aquele lugar, para perto dela, quando as coisas ficam difíceis.

— Ela ainda precisa de mim, vocês precisam de mim, e ser irlandesa me dá mais oportunidades, mesmo que eu não queira deixar a Grécia nunca — falei a última frase baixinho.

— E não vai. Eu vou fazer uma promessa para que não precise se preocupar e arranje um trabalho logo, mas você não vai voltar para perto de Keira, jurei pelo meu filho morto que isto nunca aconteceria.

— Não posso ficar perto dela, a senhora sabe disto.

Ninguém podia, na verdade, porque Keira O'Sullivan estava na ala de isolamento da instituição psiquiátrica para onde tinha sido enviada depois da morte do meu pai. Nunca foi provado se ela o empurrou do penhasco, e tampouco voltamos a ouvir a sua voz. Com tudo o que aconteceu, meus avós sempre me mantiveram longe dela, por garantia, desde os meus três anos de idade.

— Ainda bem, porque ninguém merece ficar perto daquela mulher.

— Agora chega deste assunto. — Vovô levantou a mão, e nós nos calamos, em respeito ao pedido dele, que não conseguia suportar quando falávamos de seu querido e único filho, Geórgios Aggelidaki, que se apaixonou perdidamente por uma irlandesa quando foi para o país em busca de trabalho.

Eu nasci, as brigas começaram, ele morreu, e eu fui trazida para a Grécia, recebendo minha nacionalidade e tomando o lugar do meu pai como o grande amor dos meus avós.

— Só queria dar uma vida boa para vocês — choraminguei, enterrando a cabeça entre as mãos.

— Temos uma vida ótima. Dinheiro vem, dinheiro vai. O amor é sempre estável — respondeu, me deixando angustiada.

Abri os braços e apontei para a cortina puída, que vovó Cibele havia costurado incontáveis vezes.

— Olhe para isso. — Levante o prato lascado na minha frente. — E isso.

Olhei para a pilha de contas de luz presas umas sobre as outras sob um imã de geladeira com a torre de Telassônica.

Senti a mão fria e enrugada do vovô sobre o meu braço, baixando-o.

O Bebê do GregoOnde histórias criam vida. Descubra agora