11 de novembro de 2012
Paris, França.
Jennie Ruby JaneParis, envolta em sua melancolia outonal, estendia-se diante de Jennie Ruby Jane como uma pintura antiga, cujas cores haviam começado a desbotar com o tempo. As árvores do Jardin des Tuileries tremulavam ao vento, suas folhas douradas caindo lentamente, como se até mesmo a natureza estivesse cansada. Jennie caminhava sozinha, seu olhar distante, perdido entre os contornos imprecisos da cidade. Os sons da metrópole, o eco distante de conversas, o ruído suave dos carros passando nas ruas próximas eram abafados por um manto invisível de solidão.
Ela havia aprendido, desde cedo, a amar a arte, a música, e a delicadeza dos gestos simples. Crescera cercada pelo romantismo dos pais, Marie e George Ruby Jane, um casal que parecia viver em outro tempo, em uma bolha de encanto que poucos compreendiam. Para eles, a vida era uma celebração das pequenas coisas: a melodia suave de uma canção antiga, o café fumegante nas manhãs silenciosas, o brilho suave de uma lua cheia. Era fácil para seus pais, sempre foi. Mas para Jennie, esse mundo de delicadezas e de um passado idealizado agora parecia distante, inalcançável, uma fantasia que não mais lhe tocava.
Jennie amava seus pais, mas não conseguia se deixar levar pela mesma magia que os envolvia. Marie, sempre com um sorriso afetuoso, dedicava horas a tocar piano, suas mãos dançando sobre as teclas enquanto as notas de Billie Holiday ou Frank Sinatra enchiam a casa com um ar de nostalgia. George, seu pai, era um músico apaixonado, que costumava tocar contrabaixo em orquestras locais, mas para Jennie, esses momentos, que outrora a encantavam, agora a faziam sentir-se vazia. Era como se ela observasse a vida de fora, sem nunca poder realmente vivê-la.
Ela tinha 17 anos, mas a alma parecia já desgastada, como se o peso da existência a tivesse alcançado cedo demais. Paris, com sua beleza e história, era um lugar de contrastes. Para muitos, as luzes e o encanto da cidade ofereciam um consolo, uma promessa de algo mais. Para Jennie, entretanto, a cidade apenas refletia sua própria solidão. O brilho das luzes nos cafés, o riso dos turistas caminhando nas margens do Sena, tudo isso lhe parecia superficial, um espetáculo do qual não fazia parte.
Mesmo Rosé e Jisoo, suas amigas mais próximas, que tentavam envolvê-la em suas vidas, não conseguiam alcançar a profundidade do vazio que ela sentia. Rosé, com sua alegria contagiante, sempre ria, sempre falava sobre o futuro, sobre sonhos e possibilidades. Jisoo, por outro lado, era calma, uma presença constante, segura. Elas faziam o possível para trazer Jennie de volta à vida, conversas longas sobre arte, música, e sobre os mistérios da existência. Mas Jennie, mesmo nesses momentos, sentia-se isolada, como se houvesse uma parede invisível entre ela e o resto do mundo.
Seus dias seguiam com uma monotonia amarga. Ela passava horas no quarto, cercada por pinturas, discos antigos e livros que antes a confortavam, mas que agora não eram mais do que objetos silenciosos. O canto de Julie London, sua cantora favorita, que antes ressoava profundamente em sua alma, agora soava como um eco distante de uma época em que ela ainda acreditava na beleza das coisas simples. As notas suaves, que já a faziam sonhar, hoje pareciam incapazes de atravessar o muro de apatia que se formava em seu peito.
Naquela manhã, Paris estava coberta por uma neblina fina, e o frio cortante do outono abraçava as ruas estreitas e os edifícios antigos com uma frieza que Jennie sentia no fundo da alma. Ela havia saído de casa sem rumo, como tantas outras vezes, caminhando pela cidade na esperança de que o movimento pudesse preencher o vazio que sentia. Mas Paris, em toda a sua grandiosidade, era indiferente ao seu sofrimento. As pontes sobre o Sena, as estátuas nos jardins, os rostos dos transeuntes, tudo parecia seguir um curso natural e alheio à dor que Jennie carregava.
Ela parou diante do rio, observando as águas escuras fluírem lentamente. As folhas caíam silenciosas, flutuando na superfície antes de serem levadas pela correnteza, e Jennie se perguntou por que não conseguia sentir o mesmo. A natureza, em sua sabedoria, sabia quando deixar ir. Mas Jennie, presa em seus pensamentos, não conseguia encontrar esse alívio. A dor dentro dela era silenciosa, mas constante, uma presença que a acompanhava em cada passo, em cada olhar.
As lembranças de sua infância, que um dia haviam sido fonte de alegria, agora vinham com uma ponta de tristeza. Ela se lembrava das tardes ensolaradas com Rosé e Jisoo, de correr pelos campos fora da cidade, o som do riso enchendo o ar como música. Onde estava aquela alegria agora? Onde estavam os sonhos que um dia tivera? Jennie não sabia dizer quando havia começado a se afastar, quando o mundo ao seu redor deixara de ser um lugar de promessas e se tornara apenas um palco de partidas silenciosas.
Mesmo seus pais, sempre tão ternos e presentes, não conseguiam alcançá-la. Havia algo na forma como eles viviam, na sua doçura quase inabalável, na sua maneira de sempre ver o lado bonito das coisas que fazia Jennie sentir-se ainda mais desconectada. Eles tinham algo que ela não possuía, e isso a fazia sentir-se mais sozinha. O que seus pais viam no mundo que ela não conseguia enxergar?
Enquanto observava as águas escuras do Sena, Jennie sentiu uma lágrima escorrer lentamente pelo rosto, fria como o vento que soprava sobre a cidade. Não havia motivo claro para aquele choro, apenas uma sensação de perda irreparável, um luto por algo que ela nem sabia o que era. O vazio, que antes parecia uma presença vaga, agora parecia mais real, mais concreto, apertando seu peito com uma força sufocante.
Ela sabia que algo dentro dela estava morrendo, mas não conseguia compreender o que era. Talvez fosse a juventude, a inocência, ou talvez fosse a crença de que, de alguma forma, tudo faria sentido no final. Jennie já não acreditava em finais felizes, nem mesmo em finais tristes. Para ela, agora, tudo parecia um constante desenrolar de dias cinzentos, sem promessa de mudança ou redenção.
Paris continuava a girar ao redor dela, tão cheia de vida, tão indiferente. Ela queria gritar, queria que alguém a ouvisse, que entendesse o que estava passando, mas não havia palavras. Não havia som que pudesse traduzir o que ela sentia. Havia apenas o silêncio, pesado e imutável, e a sensação de que o tempo estava escorrendo por entre seus dedos.
Enquanto o dia chegava ao fim, Jennie sabia que aquela escuridão, aquela ausência de luz dentro dela, não seria preenchida tão cedo. Talvez nunca fosse. E, por mais que o sol ainda brilhasse timidamente por entre as nuvens, ela sabia que não o sentiria. Não naquele dia. Não enquanto o vazio fosse a única constante em sua vida.
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Espero muito que tenham gostado desse primeiro capítulo, amores! Não se esqueçam de deixar pelo menos um coração pra ajudar a história a subir.
Com carinho, Amélia!
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On the Last Day, Jenlisa
RomanceUma jovem, perdida na solidão, busca significado em sua existência. A verdadeira essência da vida. Amor e dor entrelaçam-se na fragilidade do adeus.