5 de janeiro de 1916
Paris, França.
Jennie Ruby JanvierO relógio na parede de seu quarto marcava pouco mais de seis horas quando Jennie se aproximou do espelho, o silêncio da casa envolvia seus movimentos com uma serenidade quase melancólica. A luz fraca de uma lâmpada de gás iluminava o ambiente de maneira suave, refletindo seu semblante concentrado. Ela observava seu próprio reflexo com uma seriedade que raramente lhe pertencia, como se aquela noite exigisse uma versão de si mesma que até então permanecera oculta. Seus dedos finos traçavam o contorno do colar de pérolas que ela havia escolhido com cuidado. As pequenas esferas, dispostas em perfeita harmonia, repousavam em seu pescoço com a delicadeza de uma herança que atravessava gerações, evocando uma elegância silenciosa que Jennie buscava desesperadamente alcançar.
O vestido azul-marinho que agora envolvia seu corpo tinha um ar de solenidade. O tecido de seda caía em camadas fluídas e discretas, abraçando suas curvas de maneira modesta, mas impecável. O decote sutil, adornado apenas pelas pérolas que reluziam suavemente à luz fraca, conferia uma aura de refinamento à sua figura. O azul profundo contrastava com a palidez de sua pele, criando uma imagem etérea, quase irreal, como se ela mesma fosse uma figura saída de um quadro impressionista.
Enquanto terminava de ajeitar os cabelos, Jennie prendeu-os em um coque baixo, com uma precisão quase cirúrgica. As mãos habilidosas, treinadas nas teclas de um piano, agora trabalhavam com igual precisão na construção de sua aparência. Os fios negros, cuidadosamente enrolados, mantinham-se firmes, com exceção da franja solta que caía suavemente sobre sua testa, emoldurando seu rosto com um toque de suavidade juvenil. A franja, que escapava deliberadamente do penteado, parecia um símbolo de sua resistência à rigidez que aquela noite parecia demandar.
Jennie suspirou baixinho, ajustando os últimos detalhes. A noite que a aguardava trazia consigo uma mistura de expectativas e incertezas, principalmente por conta do convite de Lalisa, feito de maneira tão casual e inesperada durante o encontro no Jardim de Luxemburgo. A lembrança daquele momento invadia seus pensamentos enquanto ela alisava o vestido. Lalisa tinha o dom de aparecer nos momentos mais imprevisíveis, sempre cercada por uma aura de mistério, uma frieza que, paradoxalmente, atraía Jennie de maneira irresistível. A pergunta pairava em sua mente: por que aquele convite? O que Lalisa desejava ao chamá-la para o teatro?
Jennie passou as mãos sobre o vestido, tentando suavizar qualquer dobra imaginária no tecido. O toque fresco da seda em seus dedos trouxe um raro momento de calma em meio ao turbilhão de emoções que crescia dentro de si. O teatro... Seria apenas um convite para uma noite entre conhecidas ou havia algo mais oculto nas intenções de Lalisa? O silêncio do quarto era interrompido apenas pelo som de seus passos lentos e meticulosos enquanto caminhava de um lado para o outro, perdida em pensamentos. A lua já começava a despontar no horizonte, espalhando uma luz pálida pela janela, e Jennie sabia que era hora de partir.
Ela ajeitou o casaco pesado sobre os ombros, sentindo o frio do inverno parisiense que a esperava do lado de fora. O toque do colar de pérolas contra sua pele exposta serviu como um lembrete sutil de que, apesar de sua aparência meticulosamente construída, havia uma vulnerabilidade inerente àquela noite. Jennie se olhou uma última vez no espelho, como se buscasse alguma confirmação de que estava pronta para o que quer que fosse.
Quando Jennie Ruby Janvier deixou a segurança de seu lar, a noite parisiense a acolheu com um misto de mistério e expectativa. O céu estava coberto por um manto de nuvens espessas, que pareciam sussurrar segredos enquanto a neblina envolvia a cidade em um véu quase etéreo. À medida que caminhava pelas ruas tranquilas, seu vestido azul-marinho desenhava uma silhueta graciosa contra o cenário sombrio, enquanto o colar de pérolas, que cintilava à luz bruxuleante das lamparinas, refletia a riqueza da Belle Époque.
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On the Last Day, Jenlisa
רומנטיקהUma jovem, perdida na solidão, busca significado em sua existência. A verdadeira essência da vida. Amor e dor entrelaçam-se na fragilidade do adeus.