Capítulo 13: Entre Sombras e Silêncios

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04 de janeiro de 1916
Paris, França.
Jennie Ruby Janvier

O inverno em Paris apresentava-se em sua forma mais implacável, um frio penetrante que se infiltrava nas artérias da cidade, tornando cada esquina e cada praça um lembrete da solidão que a guerra impunha à vida cotidiana. As ruas, antes vibrantes, agora se viam despojadas da animação dos habitantes, mergulhando em uma melancolia que pareciam partilhar com o céu, cinzento e carregado de nuvens pesadas que prometiam mais neve.

Para Jennie Ruby Janvier, a severidade do clima não era apenas um reflexo do estado da cidade, mas também um espelho da sua própria inquietação emocional, uma sensação de estagnação que se agravava com a ausência de respostas que a perturbavam desde o último encontro. Desde o último toque de fogos de artifício que celebrara a passagem do Ano Novo, uma onda de perguntas sem resposta invadia sua mente, uma busca incessante por compreensão que se tornara um fardo quase insuportável.

Os primeiros dias de sua chegada a Paris, poucos e preciosos, foram marcados por um encanto efêmero, um encantamento que parecia flutuar no ar e se dissipar rapidamente com a realidade sombria que a cercava. Em uma noite ensolarada de outono, quando as folhas dançavam ao sabor da brisa, Jennie, em sua busca por uma conexão com a nova cidade, decidiu se aventurar em um café que reverberava com as notas suaves do jazz e do blues. O local, uma pequena joia escondida em uma rua pavimentada, estava repleto de almas em busca de consolo nas melodias que enchiam o ar, onde músicos talentosos faziam os corações dos presentes vibrar com suas canções de amor e saudade. Foi ali, entre os acordes cativantes e o aroma do café fresco, que Jennie conheceu Jisoo. A jovem, com seu olhar brilhante e uma risada contagiante, atraía a atenção de todos ao seu redor, e, em meio a uma conversa casual sobre música, surgiu uma amizade instantânea, um laço que se fortalecia a cada encontro nas noites parisienses. As duas garotas, cada uma em busca de sua própria identidade em meio ao caos da guerra, encontraram um refúgio nas palavras e nas canções que compartilhavam, formando uma conexão que logo se tornaria essencial em suas vidas.

Em um ímpeto de resistência contra a atmosfera opressora que as cercava, Jennie decidiu, ao lado de sua amiga Jisoo, adentrar os encantos do Jardim de Luxemburgo, um oásis de tranquilidade no coração da capital francesa. As folhas secas estalavam sob os passos das duas jovens, que buscavam a companhia da natureza como um alívio momentâneo às sombras que se projetavam em suas vidas. Jisoo, com seu espírito vibrante e seu jeito encantador, falava animadamente sobre uma peça teatral que a havia fascinado recentemente, suas mãos gesticulando em uma dança expressiva que tentava transmitir a beleza da experiência. Porém, por mais que a animação de Jisoo tentasse preencher o ar com alegria, Jennie encontrava-se distante, sua mente errante, absorvida pela figura enigmática de Lalisa, que persistia em seus pensamentos como uma melodia insistente, doce e amarga ao mesmo tempo.

"A peça foi verdadeiramente cativante, Jennie," exclamou Jisoo, seus olhos cintilando com a lembrança da experiência vivida no teatro. "A profundidade dos diálogos e a sutileza da interpretação tocavam o coração de qualquer um que tivesse a sorte de estar presente. Cada cena parecia uma pincelada de emoção, e eu não pude deixar de me sentir transportada para um mundo onde a vida e a arte se entrelaçam de forma tão sublime." Jennie, embora tocada pela eloquência da amiga, não conseguia mais do que uma resposta tímida, seu tom suave e distante refletindo a confusão interna que a dominava. "Parece uma experiência notável," murmurou, seu olhar se perdendo na vastidão do jardim, onde as árvores pareciam sussurrar segredos antigos, seus galhos desnudos balançando suavemente ao sabor do vento.

Foi nesse cenário de serenidade perturbada, em que os ecos da vida cotidiana se mesclavam à quietude da natureza, que os olhos de Jennie finalmente se depararam com uma figura familiar ao longe. Lalisa Monreau, envolta em um casaco escuro que a resguardava das intempéries, estava sentada em um banco sob a sombra de uma árvore, sua silhueta imponente quase indiferente ao frio que a cercava. O perfil de Lalisa, parcialmente iluminado pelo suave toque do sol poente, estava quase oculto, um enigma a ser decifrado, e, mesmo assim, o coração de Jennie disparou instantaneamente, como se cada batida ecoasse a urgência de uma verdade que esperava ser revelada. A imagem de Lalisa, com sua presença magnética e aura de mistério, despertou em Jennie um turbilhão de emoções, uma dança de ansiedade e expectativa que a impelia a se aproximar, mesmo diante da frieza que sempre caracterizara suas interações.

On the Last Day, JenlisaOnde histórias criam vida. Descubra agora