capítulo 1

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Recomeço

Angel D'Luca acordou com o sol da manhã batendo suavemente nas cortinas brancas do pequeno apartamento em Turim. O som de risadas infantis preencheu o quarto, trazendo um leve sorriso aos seus lábios antes mesmo de seus olhos se abrirem completamente. Aslan, seu filho de três anos, já estava acordado, como sempre, cheio de energia.

— Mamãe! Acorda! — ele disse, enquanto pulava na cama, tentando chamar a atenção dela.

Angel olhou para o rosto sorridente de Aslan e, por um momento, todos os seus medos e preocupações desapareceram. Ele era a razão pela qual ela continuava, mesmo depois de tudo que tinha passado. Com um suspiro, ela se levantou e pegou o filho nos braços, abraçando-o apertado.

— Bom dia, meu amor — disse ela, beijando a testa do garoto.

— Vamos comer cereais? — ele perguntou, os olhos brilhando de entusiasmo.

— Claro, campeão — respondeu Angel, tentando esconder a exaustão que sentia. Suas noites de sono nunca eram completas. Os pesadelos voltavam frequentemente, lembrando-a do que aconteceu quando tinha 18 anos.

Há três anos, sua vida mudou drasticamente. Um evento que ela nunca esqueceria e que a deixou com marcas profundas, tanto físicas quanto emocionais. Mas Aslan, fruto desse trauma, era o que a mantinha em pé. Ele era sua luz, sua esperança, e ela faria qualquer coisa para garantir que ele tivesse uma vida melhor do que a que ela havia tido até então.

Depois de preparar o café da manhã, Angel se sentou à mesa observando Aslan comer, seu rosto sujo de leite e cereais. Ele era tão inocente, tão alheio ao que havia acontecido antes de seu nascimento. Ela tentava manter a leveza no ar, mas, às vezes, o peso de suas memórias parecia quase insuportável. O passado estava sempre à espreita, lembrando-a de que sua vida nunca seria a mesma.

Depois do café, era hora de se preparar para o trabalho. Angel trabalhava em um pequeno café no centro de Turim. Não era o emprego dos sonhos, mas pagava as contas e permitia que ela passasse mais tempo com Aslan, o que era o mais importante para ela. Deixava o filho com sua vizinha, Dona Teresa, uma senhora de idade que adorava cuidar dele enquanto Angel trabalhava.

Ao sair do apartamento com Aslan pela mão, ela tentou afastar os pensamentos negativos. O dia estava bonito, o céu azul sem nuvens, e a cidade começava a se movimentar. As ruas estreitas de Turim tinham um charme único, e Angel sempre gostava de observar a vida que pulsava ao redor.

No caminho até a casa de Dona Teresa, Aslan corria à frente, rindo e apontando para os pombos que se amontoavam nas calçadas. Angel sorriu, o coração aquecido pela alegria simples de seu filho. A pureza de Aslan era algo que ela jurou proteger, custasse o que custasse.

— Vamos, mamãe! — Aslan gritou enquanto corria à frente.

Angel acelerou o passo, tentando acompanhar o garoto cheio de energia. Quando chegaram à porta da vizinha, Dona Teresa já estava à espera, com um sorriso caloroso no rosto.

— Bom dia, Angel. Como está o meu pequeno furacão hoje? — disse Dona Teresa, abrindo os braços para Aslan.

— Cheio de energia, como sempre — respondeu Angel, entregando a mochila do filho. — Muito obrigada por cuidar dele, Dona Teresa.

— Você sabe que eu adoro isso. Ele ilumina meu dia — disse a senhora, dando um abraço em Aslan.

Angel se despediu com um beijo rápido no filho e saiu em direção ao trabalho. O trajeto até o café não era longo, mas era tempo suficiente para ela mergulhar nos próprios pensamentos. Muitas vezes, ela se perguntava como teria sido sua vida se o que aconteceu há três anos nunca tivesse ocorrido. E se ela tivesse tido uma juventude normal, sem aquele momento que mudara tudo?

Esses pensamentos pesavam em sua mente, mas Angel tinha aprendido a seguir em frente, a se concentrar no presente, por mais difícil que fosse. Ela não podia se dar ao luxo de ficar presa no passado. Aslan precisava dela.

Ao chegar ao café, o ambiente acolhedor e o cheiro de café fresco a envolveram, trazendo uma sensação de normalidade. Angel vestiu o avental e começou sua rotina. O café sempre estava movimentado pela manhã, com moradores e turistas ansiosos por uma xícara quente e um pedaço de torta.

Angel gostava desse ritmo frenético. Manter-se ocupada era uma forma de afastar os pensamentos. Ela atendia os clientes com um sorriso no rosto, enchendo as xícaras e servindo bolos com a destreza de quem já estava acostumada com a correria.

— Angel, tem um novo cliente na mesa 5. Parece importante — disse Sofia, sua colega de trabalho, com um sorriso travesso. — Ele é famoso.

— Famoso? — Angel perguntou, erguendo uma sobrancelha, sem muito interesse. Turim era uma cidade grande, sempre cheia de pessoas novas, algumas até famosas. Mas Angel não ligava muito para isso. Para ela, todos eram iguais quando estavam em seu café.

Com a bandeja em mãos, ela caminhou até a mesa indicada. Quando chegou, viu um homem sentado de costas para ela, com uma postura relaxada, usando óculos escuros. Ele estava lendo algo no celular, completamente alheio ao movimento ao seu redor.

— Bom dia, posso ajudar? — Angel disse de forma educada, sem tirar o olhar da bandeja.

O homem ergueu a cabeça e tirou os óculos de sol, revelando olhos penetrantes e um sorriso tranquilo.

— Um expresso, por favor — respondeu ele com uma voz suave, mas com uma presença que parecia preencher o espaço ao redor.

Angel assentiu e se virou para preparar o pedido, sem prestar muita atenção nele. No entanto, sentiu um leve arrepio ao se afastar. Algo naquele homem parecia diferente, mas ela não conseguia identificar o quê.

Ao voltar com o expresso, Angel notou que algumas pessoas no café estavam olhando discretamente para ele, cochichando entre si. Sofia, do balcão, fazia gestos exagerados com as mãos, tentando indicar que ele era alguém famoso.

— Aqui está, senhor — Angel disse, colocando o café na mesa.

— Obrigado — respondeu ele com um sorriso fácil, antes de voltar a olhar para o celular.

Angel voltou para o balcão, sem entender por que tanto alvoroço. Para ela, ele era apenas mais um cliente. Mas Sofia logo a puxou para o canto, sussurrando animada.

— Você sabe quem é ele? — perguntou Sofia, com os olhos arregalados.

— Não faço ideia — respondeu Angel, dando de ombros.

— Leonardo Navarro! O novo jogador da Juventus! Ele acabou de ser contratado! — Sofia quase gritou.

Angel olhou de volta para o homem na mesa, agora com uma nova percepção. Ele realmente parecia familiar, mas Angel nunca tinha se interessado muito por futebol. Para ela, ele era apenas outro cliente, alguém que vinha e ia, como todos os outros.

No entanto, algo lhe dizia que aquele não seria o último encontro entre eles.

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