Capítulo 16 BÔNUS

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VINCE

Dizem que, quando convivemos com alguém por muito tempo, acabamos absorvendo parte da personalidade dessa pessoa. No meu caso, nos últimos anos, sinto que fui moldado pela personalidade de cada membro da banda. Praticamente fui criado por eles, então é natural que isso acontecesse. No entanto, ainda assim, mantenho minha própria identidade. Sei diferenciar o que é meu e o que é influência deles.

Se tivesse que me descrever, diria que sou uma pessoa extremamente racional. Sou do tipo que precisa de respostas claras e concretas para que as coisas façam sentido. Gosto de manter tudo organizado na minha mente. Sou reservado, valorizo meu espaço pessoal, e isso às vezes leva as pessoas a pensarem que sou frio ou desapegado.

Elas acham que não demonstro sentimentos com facilidade. Como nunca tive um relacionamento sério, muitos acabam juntando uma coisa à outra. É o que mais vejo nos sites e jornais, quando surgem fofocas sobre nós. Já me acostumei com isso. Não dou mais importância ao que falam quando não é verdade.

Nos últimos anos, sofri muito com a mídia. A distorção dos fatos me fez ter medo de tudo. Mas, com o tempo e a ajuda certa, aprendi a lidar melhor com essas situações, sempre preservando meu espaço pessoal. Ao contrário dos outros caras, sou mais reservado e não sou de demonstrar meus sentimentos facilmente, exceto com eles, que considero minha família. Não tenho problema em dizer o quanto eles são importantes na minha vida, e sou muito apegado a todos.

Quanto à minha vida amorosa, o que posso dizer? Como estamos sempre na mídia, fazendo shows e rodeados de fama, seria hipocrisia negar que as mulheres estão sempre por perto. Já fiquei com muitas, mas nunca senti algo além de uma atração passageira.

Isso até o momento em que a vi.

Ela é simplesmente incrível. Seu sorriso ilumina tudo ao redor, e me fascina a maneira como ela é tão confiante, mas ao mesmo tempo, cora com um simples elogio. Sua alegria e espontaneidade são cativantes. Desde a primeira vez que a vi, não consegui mais tirá-la da cabeça. Ela é um misto de emoções. Talvez nem saiba o poder que tem. Sua presença chama atenção onde quer que vá. Seu rosto é perfeito, e seu corpo... é como se tivesse sido feito para tirar qualquer um do sério.

A primeira vez que a vi foi um dos dias mais inesperados da minha vida. Uma desconhecida chegar e me roubar um beijo? Isso não acontece todos os dias. Mas havia algo nos olhos dela, uma urgência que me fez aceitar o que estava acontecendo, sem pensar nas possíveis consequências, mesmo sabendo que, se a mídia descobrisse, poderia virar uma confusão.

Parte de mim, por um instante, quis que isso vazasse, só para ter uma desculpa para encontrá-la de novo. Seus olhos ficaram na minha mente por semanas, e eu estava enlouquecendo sem saber nada sobre ela. Me senti um idiota, obsessivo até, por pensar tanto em alguém que nem conhecia. Mas então, como um milagre, ela reapareceu do nada, da mesma forma que surgiu pela primeira vez. Ainda não sei se ela lembra de mim, nunca mencionou nada, e eu também nunca tive coragem de perguntar. Não quero parecer patético, mas confesso que minha curiosidade sobre aquele dia é imensa.

Só o fato de tê-la visto novamente já me faz feliz. Quando ela está por perto, tento agir naturalmente, mas é impossível. Sua presença faz tudo ficar mais difícil.

Porra, hoje, ela me destruiu com aquela dança. Já vi várias apresentações, de todos os tipos que você possa imaginar, mas o que ela fez hoje foi diferente. Foi como se só nós dois estivéssemos ali. Cada movimento dela era hipnotizante, e eu não conseguia desviar o olhar. O calor que tomou conta de mim foi insuportável. Quando tudo acabou, eu precisei sair. Meu corpo reagiu de uma forma que não pude controlar, e eu precisava me acalmar. Não podia deixá-la me ver daquele jeito.

Agora, estou aqui, a poucos metros do apartamento dela. Ela acabou de subir, mas eu ainda não consigo ir embora. Seu cheiro está impregnado no carro, tornando impossível esquecê-la.

Dou uma risada sozinho, lembrando do momento em que quase a beijei mais cedo. Tive que inventar uma desculpa esfarrapada sobre o molho nos lábios dela. Controlei-me ao máximo para não agir impulsivamente e assustar. Não sei o que aconteceu comigo. Por pouco, não fiz uma besteira. Talvez ela já tenha alguém, e eu poderia ter estragado tudo.

A simples ideia de imaginar ela com outra pessoa me enlouquece. Não sei o que está acontecendo comigo, mas estou completamente instável.

Com a cabeça cheia de pensamentos e o coração acelerado, volto para casa. Preciso dormir, mas sei que, mesmo de olhos fechados, ela vai continuar ocupando minha mente.

— Até que enfim te achei, pensei que já tinha ido direto pra casa — diz Trey assim que entro na cozinha.

— A Ayla chegou bem? — Pergunta Adam, casualmente.

— Por que você quer saber? — Respondo, meio desconfiado.

— Nossa, olha só como ele está sendo educado hoje — Adam debocha, rindo da minha reação.

— Tá com ciúmes, é? — Provoca Trey, entrando na conversa.

— O quê? De quem?

— Você sabe que a gente se conhece desde a infância, né? — Dimin comenta ao entrar na cozinha.

— Não sei do que vocês estão falando — tento desviar, sem sucesso.

— Você está só se enganando, só digo isso — Dimin responde, enigmático, antes de ir para o quarto. Trey, Nilan e Adam me encaram e caem na gargalhada.

— A Lauren já foi? — Pergunto, mudando de assunto, já que esse assunto nunca cheguei a comentar com eles, muito menos sobre o aeroporto.

— Sim, acabou de sair — responde Adam.

— Certo. Já vou indo, preciso dormir. Alguém quer carona?

— Eu vou com você — Adam responde de imediato.

— Vou dormir por aqui mesmo, depois vou pra casa — avisa Trey, jogando-se no sofá.

— Eu também vou ficar — Nilan diz, desaparecendo em um dos quartos.

— Beleza, vamos, Adam.

— Sim, capitão! — Ele brinca, se jogando nas minhas costas. — Você sabe que sou mais velho que você, né?

— Ah, é? Nem parece.

— Você tem que me respeitar, praticamente criei você! — Adam ri, bêbado. Não que ele esteja totalmente errado. Quando começamos na banda, éramos muito jovens, e ele foi quem cuidou de todos nós, especialmente de mim, que sou o mais novo, mesmo que só por alguns meses.

Começo a rir também, lembrando dos velhos tempos.

Depois de deixar o Adam em casa — mais precisamente, jogado na cama dele — venho direto para o meu apartamento.

A noite foi longa, e tudo o que eu quero é descansar, mas meu corpo e minha mente parecem não colaborar. Assim que entro no quarto, vou direto para o chuveiro, na esperança de que a água quente alivie o cansaço e me ajude a desligar.

O banho me relaxa um pouco, mas assim que deito na cama, percebo que dormir será mais difícil do que imaginei.

Fecho os olhos, tentando me forçar a descansar, mas o rosto dela aparece instantaneamente na minha mente. O sorriso da Ayla, aquele sorriso... Ele toma conta de todos os meus pensamentos. Tem sido assim desde que a vi.

É quase impossível ignorar a imagem dela. Pior ainda, é como se o perfume dela estivesse impregnado no meu corpo, na minha pele, na minha roupa, fazendo com que ela pareça estar ali, mesmo quando não está. Respiro fundo, tentando afastar essas sensações, mas quanto mais luto contra isso, mais forte fica a lembrança dela.

E então, como se estivesse assistindo a um filme, a cena dela dançando volta à minha mente. Cada movimento, cada passo que ela deu, perfeitamente gravado. A maneira como ela se movia... era hipnotizante. Meu corpo começa a reagir de novo, da mesma forma que aconteceu quando a vi dançando. O calor, a tensão, tudo volta com uma intensidade quase sufocante. Tentei controlar isso antes, mas agora, sozinho no meu quarto, sinto que é impossível lutar contra essas sensações.

Suspiro, frustrado, e viro de um lado para o outro na cama, sem encontrar uma posição confortável. A voz dela, a risada, o jeito que ela corava quando era elogiada... Tudo isso me deixa completamente perturbado.

— Ayla, Ayla... o que você fez comigo? — Murmuro para mim mesmo, com um misto de desejo e confusão, ainda incapaz de entender como ela conseguiu bagunçar tanto a minha cabeça em tão pouco tempo.

O sono escapa, e a única coisa que me resta é aceitar que, por mais que eu queira ignorar, ela já ocupou um espaço enorme dentro de mim.

Quando é pra serOnde histórias criam vida. Descubra agora