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❝ I gots a taste for men who are older
It's always been, so it's no surprise❞
— Cola, Lana Del Rey
────────────────────POV: ALICE
18:24.
- Um minuto para o fim do turno -
Soltei um suspiro quando observei o relógio na parede, os segundos passando enquanto meus músculos relaxavam ao soltar o fuzil que carregava dentro do batalhão. Todos os dias eu vestia a farda preta e saia para trabalhar, sem saber se voltaria ou não. Todos os homens daquele batalhão tinham a mesma vida que eu, a mesma rotina, o mesmo medo.
Eu era Sargento das Forças Táticas, sub equipe do BOPE; Carioca, embora nascida no interior; Fã de MPB e tragédias da literatura, como Hamlet.
— "Sargento." - Um dos aspirantes, Netto, chamou minha atenção enquanto eu ajeitava as mangas da farda. - "Vamos comemorar o sucesso da última missão no bar hoje, me pediram para te avisar."
Com um breve aceno de cabeça, respondi ao rapaz, que logo bateu continência e saiu dali em direção aos outros homens que começavam a formação para serem dispensados. Quando todos se alinharam, me pus ao lado do Tenente Garcia e logo ele desceu as escadas, com sua prepotência aumentando a cada degrau que ele descia.
Capitão Nascimento se colocou em frente a formação dos homens, rapidamente começando o seu discurso de encerramento. Em uma revirada de olhos discreta, observei os homens de farda preta saindo um por um após serem dispensados.
Eu havia ingressado no BOPE alguns anos atrás, dois anos depois de me formar bacharel em direito na UFRJ. Minha mãe queria que eu advogasse e o sonho do meu pai era eu me tornar juíza, pude ver a frustração no rosto deles quando contei que havia passado no curso do BOPE. Ainda me lembro do gosto do bolo de cenoura que minha mãe fez aquele dia, tentando me fazer mudar de ideia.
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- É muito perigoso, minha filha.
- Tudo na vida é, pai.
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All he wants to do is party with his pretty baby, yeah.
────────────────────O bar estava uma mistura de sons: Copos de cerveja batendo em um brinde; Sertanejo ruim tocando ao fundo; Conversas e risadas de todas as mesas.
Quando cheguei, de cara avistei a mesa com os homens de camiseta preta e uma caveira cravada no peito. Me sentei na ponta da mesa, com meus colegas mais próximos, e a conversa se iniciou. Entre um copo de cerveja e outro, cantava o sertanejo que, conforme a bebida ia fazendo efeito, ele ia melhorando.
Não sei ao certo quando os superiores chegaram, acho que já estavam lá quando eu cheguei. Tinha raiva da maioria, talvez essa fosse a intenção deles. Nascimento se destacava muitas vezes, era o mais atraente de todos na minha visão. Péssimo gosto.
A música no bar estava alta demais, a falta de comida no meu estômago começando a dar problema. Resolvi tomar um ar, sai para respirar na pequena varanda do lugar. Quando esperava sentir o ar puro da noite, oque veio ao meu nariz foi a fumaça carregando um cheiro forte de cigarro. Não me lembro quando exatamente, provavelmente no auge da minha adolescência, desenvolvi o vício em cigarros. Minha mãe odiava isso, tinha perdido meu pai para o câncer de pulmão e tinha medo de me perder também. "Eu sou forte, Dona Ângela" eu mentia para ela, e me odiava por isso.
Ao notar quem era o dono daquele cigarro, a única pessoa presente na varanda, pensei se ficaria ali ou se sairia o mais rápido possível. Seus olhos demoraram para parar em mim, mesmo que ele tivesse percebido minha presença muito antes. Caminhei até o lado dele, o vi virar a cabeça no sentindo contrário.
— "Tem outro?" - Apontei para o cigarro em sua mão. O rosto dele se franziu um pouco, negando com a cabeça e me esticando o cigarro que ele fumava.
Peguei e traguei, sentindo a fumaça invadir meus pulmões. O gosto forte marcando aquele momento.
O silêncio parecia não ter fim; Eu não queria conversar e ele, também não. Porém, algo me pareceu incerto, quando reuni coragem para começar a falar, ele me interrompeu.
— "Aprecio o silêncio, Sargento." - Disse curto e grosso, como sempre. Por um instante, me lembrei que era Capitão Nascimento que estava ali. Sua figura autoritária e prepotente tomando conta da pequena varanda, me sufocando.
O silêncio não demorou para se instalar no lugar novamente e antes que eu pudesse tragar o cigarro mais uma vez, senti os dedos grandes e firmes de Nascimento tocarem a pele da minha mão. Seu toque foi rápido, tirando o cigarro da minha mão, mas o suficiente para um fio de eletricidade pesar pelo meu corpo. Suspirei, frustrada.
— "Não é bom para a reputação de uma Sargento fumar." - Ouvi ele dizer, me fazendo rir. Hipócrita como sempre.
— "Também aprecio o silêncio, Capitão." - Repeti sua frase, observando seu rosto relaxar em um sorriso. Nunca tinha visto ele sorrir. Anotei mentalmente como seu sorriso se parecia, sem saber exatamente o porquê havia ficado satisfeita com aquilo.
— "Ótimo." - Ele disse, um ar de satisfação escapando de seus pulmões. O cigarro fora apagado no cinzeiro e as mãos grandes e fortes dele retornaram para os bolsos da jaqueta. - "Ficamos em silêncio, então."
Sorri de canto, sem que ele percebesse, e cruzei os braços, admirando a vista. Nascimento pareceu me acompanhar, apreciando a vista com a mesma admiração que eu. Pude perceber seu olhar em mim algumas vezes, tão indiscretamente como se quisesse que eu percebesse. E eu não só percebi que ele me encarava, como percebi o jeito que ele me olhava, como se me visse com outros olhos.
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Notas:Espero que tenham gostado do primeiro capítulo. Ficou curto, porém, ainda tem MUITA coisa pela frente, acreditem. Estou meio enferrujada pois faz anos que não escrevo, espero que tenha ficado bom ;)
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Sob o comando || CAPITÃO NASCIMENTO
FanfictionNo BOPE, onde disciplina e respeito às hierarquias são essenciais, o Capitão Nascimento e a Sargento Oliveira formam uma dupla imbatível no campo de batalha. No entanto, fora das operações, seu relacionamento é um campo minado. O que começou como um...