04 ̶ ̶ ̶ E agora?

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❝ Everytime I close my eyes
It's like a dark paradise ❞
- Dark Paradise, Lana Del Rey
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- "Complicado sempre foi. Agora é diferente."

Foi a última coisa que Nascimento disse antes de um farol nos lembrar onde estávamos. Antes que a luz nos atingisse, Roberto deu dois ou três passos para trás, se afastando de mim. Se eu não estivesse tão paralisada sobre oque havia acontecido, talvez teria tido alguma reação também.

A única coisa que fiz foi franzir o cenho quando ele saiu dali, sem dizer ou fazer nada, subindo as escadas sem nem sequer olhar para mim. Meus olhos o acompanharam até que ele entrasse de volta do batalhão, soltando o ar que mantinha preso sem perceber. 

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Havia tido o fim de semana mais estranho da minha vida, talvez é isso que acontece quando você e seu superior se beijam na sexta à noite. Torcia que cada minuto demorasse o dobro para passar, não queria que chegasse segunda de manhã para encontrar Nascimento.

Saí para correr e tentei me distrair ao colocar uma música alta em casa, mas a cada instante, era como se eu fosse puxada de volta para a memória daquele beijo. Quando sentei em um restaurante em pleno domingo para almoçar, meu olhar acabou caindo nas mãos de um estranho, e não pude evitar lembrar das mãos dele, firmes, seguras. Em qualquer lugar que eu olhasse, via algo que me lembrava dele — os casais na rua, o som abafado dos passos no calçadão. Meu dedo chegou a pairar sobre o telefone, quase como se quisesse digitar algo para ele, mas logo joguei o celular longe. Era um absurdo. Mesmo assim, a sensação persistia. 

Na segunda-feira, ao chegar ao batalhão, tentei me convencer de que nada havia mudado. Levantei o queixo, ajustei o uniforme e adotei o rosto impassível de sempre. Mas, ao encontrar ele na frente do batalhão, senti um misto de sentimentos no peito. Ele estava cercado por outros oficiais, e sua postura rígida e autoritária não me dava espaço para adivinhar se ele sequer pensava no que tinha acontecido. Quando nossos olhares se cruzaram por um segundo, eu mantive a expressão firme, controlando cada músculo do meu rosto para não demonstrar nada. Afinal, ele era só mais um colega de trabalho. Era o que eu precisava que todos — e ele, principalmente — acreditassem.

Tentei seguir o dia normalmente, em alerta para qualquer possível missão que a pm falhasse e o BOPE precisasse intervir.  Meu dia pareceu melhorar quando vi Alves na porta do meu escritório, de braços cruzados e um sorriso aberto no rosto.

— "Achei que nunca ia me notar aqui." - Ele disse com seu típico ar divertido, me fazendo pensar se estava tão distraída assim.

— "Foi mal. Veio explicar o plano?" - Perguntei, sem querer parecer incomodada.

— "Não soube?" - Reparei em suas sobrancelhas quase se juntando em sua testa, desconfiado. - "Nascimento te deixou encarregada disso, alguma coisa deve ter feito ele mudar de ideia."

Alguma coisa. 

— "Ele não me avisou..." - Murmurei, os pensamentos invadindo minha mente. Logo balancei a cabeça, tentando expulsa-los. - "Vou fazer isso após o almoço, então. Obrigada por me avisar."

Disse enquanto me levantava e colocava uma jaqueta por cima da farda, o clima não estava dos melhores. Alves suspirou e me assistiu caminhar até ele, parecendo aliviado.

Sob o comando || CAPITÃO NASCIMENTOOnde histórias criam vida. Descubra agora