02 ̶ ̶ ̶ ̶ Ressaca

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❝ Maybe then I'll fade away
And not have to face the facts ❞
Paint it, Black. - The Rolling Stones. 
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POV: ALICE

— "Sargento Oliveira? Sargento Oliveira? Alice." - A voz do Coronel logo me abateu, fazendo com que eu balance a cabeça e sentisse uma pontada de dor. - Tá dormindo, minha filha? - Ele riu alto, claramente debochando.

Minha cabeça parecia começar a explodir, meus olhos estavam mais pesados que qualquer arma que precisasse carregar. Além da ressaca devido a bebedeira da noite anterior, estava sendo obrigada a ouvir o Coronel falar por 30 minutos da vinda do Papa para o Brasil - Mesmo sem entender a insistência desse velho em se instalar por uns dias em cima da favela. 

- "Me desculpe, senhor. Estava distraída." - Respondi ao homem, que apenas assentiu e ignorou, como sempre. Mais 15 minutos foram desperdiçados pelo Coronel, que nos instruía a apaziguar a situação entre o BOPE e os abrigados no Morro do Turano. Nem que entrássemos de blindado, helicóptero, nave espacial ou até foguete conseguiríamos apaziguar a situação em dois meses, acorda Coronel.

Após a longa - e torturante - reunião logo pela manhã, sai da sala com os superiores e não demorei para ir até o banheiro. Necessitava de água, necessitava que aquela dor de cabeça passasse.

O gosto amargo que dominava minha garganta me fazia querer beber apenas água para o resto da vida.

Não me lembrava quando havia ficado tão irresponsável ao ponto de beber em plena quinta feira, provavelmente no momento que os aspirantes me desafiaram a virar uma dose de Tequila. Eu nunca negava um bom desafio.

Joguei uma água no rosto e me certifiquei que meu rabo de cavalo estava firme. Ajeitei a farda e sai do banheiro, dando de cara com a realidade mais uma vez. Precisava conversar com a mãe de uma vítima do BOPE que havia sido brutalmente assasinado na última missão do Batalhão de Operações Especiais.

Andei pelos corredores do batalhão em direção a sala de interrogatório, onde a mulher me esperava. Ao passar por um dos corredores, a porta do escritório de Nascimento estava entre aberta e ouvi um assobio assim que passou, chamando minha atenção.

— "Pois não?" - Disse quando parei na porta e a empurrei, tendo uma visão mais clara do cômodo. Nascimento fez um gesto para que me aproximasse, sem me olhar diretamente.

— "Se eu soubesse que ia estar caindo aos pedaços hoje, não teria mandado te convidarem."

Sua voz curta e grossa me atingiu em cheio. Ele não parecia o mesmo homem que havia admirado o céu comigo na noite anterior, sua carranca de Capitão deveria vir com a farda.

- "Não estou caindo aos pedaços." - Rebati. Um riso sarcástico escapou dos seus lábios, finalmente o olhar dele parou em mim. E eu senti como se fosse a primeira vez.

- "Claro. Já falou com a mãe do moleque?"

- "Estava indo fazer isso agora."

Seu olhar me analisou por completa, tão hipnotizante que quase não percebi quando ele deslizou uma pasta de documentos sobre a mesa.

— "Depois da uma olhada nisso aí." - Ele disse contragosto e voltou a olhar o computador, claramente ordenando para eu sair dali. Sem hesitar,  me retirei da sala dele e soltei um suspiro quando fechei a porta, parecia ter segurado a respiração desde que entrei lá. 

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It's not easy facin' up
When your whole world is black.
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Eu detestava conversar com as mães dos jovens mortos pelo BOPE. Cada encontro parecia uma sentença que eu carregava por todas as mortes causadas pela violência no mundo. Mas não era assim — a polícia não puxava esse gatilho sozinha.

Me aproximei da mulher sentada em uma cadeira de plástico no canto da sala, as mãos tremendo sobre o colo. Era a mãe de Lucas, um jovem morto em uma operação recente do BOPE. Senti o peso de cada passo enquanto me aproximava.

— "Dona Maria?" - Perguntei com a voz baixa. A mulher levantou o rosto marcado pela dor e pelos olhos vermelhos de choro. Senti a mágoa e o cansaço naquele olhar, e em preparei para o que sabia que viria.

— "Por que meu filho, Sargento? Ele não era um criminoso..." - A mãe murmurou, quase sem voz. Respirei fundo, sentindo o peso da culpa e da obrigação.

— "Eu... eu sinto muito, Dona Maria. Sei que palavras não vão trazer o Lucas de volta. Nossa intenção nunca foi... nunca foi machucar inocentes."

A mãe a olhou, apertando as mãos com força.

— "Você sabe o que é perder um filho?"

A pergunta me atingiu como um golpe. Eu sabia que não havia resposta certa, e tudo o que podia fazer era suportar o olhar da mulher.

— "Não, senhora... não sei. Mas entendo sua dor, e sinto muito. Não vou deixar que isso seja ignorado."

A mãe suspirou, desviando o olhar, cansada de qualquer explicação. Eu sabia que aquele momento não curaria a dor dela. Sabia que, por mais que desejasse, não poderia aliviar o sofrimento daquela mãe.
...

Saí da sala com o peso da conversa ainda grudado em mim. Cada passo parecia mais difícil, como se as palavras daquela mãe tivessem se tornado um fardo que eu agora carregava. Foi quando vi Nascimento encostado na parede, braços cruzados, esperando por mim.

— "Como foi?" - Ele perguntou, direto, sem rodeios, como sempre.

Desviei o olhar, tentando controlar o nó que insistia em subir pela garganta. — "Como sempre... doloroso."

Ele assentiu, firme, como se a dor que eu sentia fosse só um detalhe, algo com o qual ele já estava acostumado. "

— "Não esqueça por que estamos aqui, Oliveira," disse, num tom quase automático, como se fosse um mantra.

Levantei o rosto, e as palavras saíram antes que eu pudesse me conter. 

— "Eu sei por que estamos aqui, Capitão. Só não sei se isso justifica tudo."

Ele me olhou por um segundo a mais, e naquele instante vi algo diferente, um traço de dúvida ou talvez de cansaço. Mas, como sempre, ele guardou para si. Virou as costas e saiu, deixando-me sozinha naquele corredor vazio, com as perguntas que nem ele parecia querer responder.

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Mais um capítulo cheio de tensão pra vocês, acalmem os ânimos que o "romance" está por vir!!
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@dark_.lia no ttk!! 

Sob o comando || CAPITÃO NASCIMENTOOnde histórias criam vida. Descubra agora