Capítulo 04

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João Campos abre a porta do carro, suas mãos firmes enontram a minha cintura, me guiando para o interior da festa. Tudo estava perfeitamente iluminado com luzes amarelas, balões transparentes e copos de bebidas vermelhos. Havia uma energia americana no ar, logo notei que outras escolas também se misturavam á festa. João me deixou ao lado de um balanço ornamentado com flores, enquanto pegava uma bebida para nós. Eu estava animada, mas com receio de chegar muito tarde e não conseguir estudar no dia seguinte.

— Tatá, você por aqui... — Lucas, o aluno mais festeiro da sala, me comprimenta.

— Sim, me distrair um pouco. — dou um sorriso amarelo.

— Estamos loucos para ver você se divertir hoje, todo mundo aqui estava te esperando. — Lucas solta uma piscadela, indo em direção aos garotos ao lado do ponche.

A forma como ele havia falado me deixou desconfortável. Eu nunca socializei com os meninos da sala para serem tão informais comigo ou esperarem algo vindo de mim. Me encolhi ainda mais no cantinho perto do balanço, sentindo os olhares em mim.

— Voltei, trouxe uma coca gelada com limão para você. — João me entrega o copo vermelho — Não quis pegar nada alcoólico no momento, até você se soltar.

Encaro o interior do copo, o limão boiando entre as bolhas da bebida. Meu sexto sentido queria desconfiar das intenções daquelas pessoas, mesmo eu não fazendo nada para despertar as suas curiosidade. Levo o copo até a boca, fingindo beber o refrigerante, enquanto sorrio tentando atuar alguma empolgação.

— E aí, está curtindo a festa? — João sorri, se balançando ao ritmo da música.

Tento parecer confortável, mesmo meu corpo entrando dez vezes mais em alerta.

— Sim, está muito animada. Não reconheço metade de quem está aqui, mas parecem ser bem legais.

Antes que João pudesse me responder, uma garota loira o puxa rapidamente pelo braço. Ela parecia estar levemente drogada, o que me assustou um pouco.

— Campos, os meninos estão te chamando na cozinha. Querem repssar o plano com você. — finaliza, olhando diretamente para mim.

Sinto o desconforto de João com esta frase, o que me faz desejar profundamente ir embora daquele lugar o mais rápido possível.

— Vá, vou ficar aqui te esperando — minto, planejando a minha fuga.

Viro em direção a porta de entrada, me embralhando entre a multidão de adolescentes revirando garrafas de cerveja garganta abaixo. O caminho seria longo, agradeci mentalmente por estar calçando tênis. Pego o caminho oposto em que cheguei, torcendo para que ninguém conhecido me avistasse.  Talvez eu estivesse sendo paranóica, vendo filmes de ficção demais onde adolescentes juntos em uma festa costumam fazer muita merda com os outros. Mas eu não poderia correr nenhum risco, eu nunca me perdoaria se magoasse os meus pais. 

Avisto uma trilha que leva ao parque próximo ao meu bairro. Decido seguir a estrada, assim ninguém me veria e eu poderia chegar mais rápido em casa.  Durante o caminho, não pude deixar em pensar nas palavras do João e em como sua declaração me afetou profundamente. Deveria eu dar uma chance a ele? E o mais importante, estaria ele falando a verdade sobre estes sentimentos?

Eu estava tão absorta em meus pensamentos, que não havia notado passos ao meu lado. Dou um pulo, assustada, enquanto analiso uma silhueta vagamente conhecida em minha frente. Tento acalmar o meu coração que estava quase saindo pela boca.

— Me desculpe se eu te assustei, não foi minha intenção. 

Essa voz, como eu imaginei esta voz diretamente para mim, naquele tom. Um tom suave, despreocupado, livre. Aperto mais os olhos, tentando enxergar o seu rosto na neblina escura e sombra das árvores.

— Pablo? — pergunto, mesmo sabendo que ele estava ali.

Ele dá um passo em minha direção, ficando frente a frente comigo. Suas mãos leves acariciam o meu cabelo, que repousavam entre os seus dedos. Sinto o meu corpo congelar,  minhas pernas pareciam ter criado raízes e não me permitia movimentar.

— Você está namorando com ele, não está — ele me pergunta sério, mas com a voz aveludada.

Meus olhos encaram os dele, quase negros. Eu queria me beliscar e provar que aquilo era um sonho, que nada disso era real.

— Me desculpe, pode fazer o que quiser comigo depois. Mas eu nunca me perdoaria se eu não fizesse isso hoje.

Ele se aproxima lentamente, fechando os olhos.  Minha respiração trava completamente, uma energia estranhamente agradável invade o meu corpo. Nossos lábios se tocam, devagar, me fazendo esquecer tudo ao meu redor.

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⏰ Última atualização: 4 days ago ⏰

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Todas as Cartas Que Eu Nunca Enviei | Pablo Marçal e Tábata AmaralOnde histórias criam vida. Descubra agora