Última Noite | Kathryn Hahn & Aubrey Plaza

Capítulo 1: Início.

"Quer se casar comigo?"

Fazia quase 3 meses que Kathryn ouvira essas palavras saírem da boca de Ethan, seu namorado — agora, noivo. Ainda estava assimilando o impacto da pergunta. Parecia surreal que aquele momento finalmente tivesse chegado. Casamento sempre fora um conceito distante para ela, algo que acontecia aos outros, mas agora estava diante dela como um passo gigantesco à sua frente. Ela, uma mulher tão reservada, com uma vida discreta, estava prestes a mergulhar nesse novo capítulo. E não era qualquer capítulo — era o maior de todos.

Nunca foi de expor sua vida pessoal nas redes sociais, algo que, vez ou outra, criava uma tensão no mundo competitivo de arquitetura. Mesmo assim, Kathryn mantinha seu foco no trabalho, orgulhosa de ser uma das melhores arquitetas de San Diego. Mas quando Ethan se ajoelhou e fez a pergunta, ela não hesitou nem por um segundo. É claro que aceitou. Ethan era o homem com quem sempre imaginara passar a vida. Eles se conheciam desde a adolescência — amigos antes de tudo —, e essa conexão profunda só havia se fortalecido ao longo dos anos.

Ethan agora era um jornalista renomado, e Kathryn sentia uma pontada de orgulho toda vez que o via na tela da TV. Era um daqueles momentos cotidianos que ela adorava: estar em casa, as pernas esticadas sobre a mesinha de centro, vestindo seu pijama preferido, e o telejornal passando. Ela pouco se importava com as manchetes pesadas e as notícias ruins; sua atenção estava totalmente voltada para Ethan, que, mesmo através da tela, ainda conseguia fazê-la sorrir. Saber que ele logo estaria ao seu lado como seu marido trazia uma sensação de segurança e conforto.

A casa nova era grande demais para ela sozinha. Caixas de papelão estavam espalhadas por todos os cantos, dando um ar de mudança inacabada, mas Kathryn não se importava. Toda noite ela ficava ali, rodeada pelo silêncio acolhedor, às vezes acompanhada por uma taça de vinho, desfazendo uma ou outra caixa. O lugar ainda não parecia um lar completo, mas cada caixa esvaziada a aproximava um pouco mais dessa sensação. As paredes brancas ainda ecoavam o som de seus passos, e o cheiro de tinta fresca ainda pairava no ar, misturado ao perfume amadeirado do piso novo.

À noite, sozinha na imensidão da sala de estar, Kathryn se permitia relaxar. As luzes amareladas davam um tom suave ao ambiente, e ela se perguntava como seria quando todas as caixas estivessem finalmente desfeitas, quando o espaço fosse preenchido com a vida que ela e Ethan estavam prestes a construir juntos.

— Oi, mãe? — Kathryn atendeu o telefone fixo, já com um suspiro, enquanto olhava para a mesinha ao lado do sofá, onde o aparelho estava sempre esperando pela próxima ligação inevitável.

— Kathryn? Filha! Como vocês estão? Estou morrendo de saudades.

— Mãe... — Ela suspirou, revirando os olhos de leve. — Essa é literalmente a quarta vez que a senhora liga hoje. E olha só, já está de noite! A minha casa fica a dois quarteirões da sua, não é como se eu tivesse me mudado pra outro estado. — Kathryn pegou um punhado de pipoca e enfiou na boca, o olhar fixo na TV, onde qualquer coisa minimamente interessante passava.

— Ah, claro, de nada! Não custa nada agradecer a preocupação de sua velha mãe, né? Agora que está noiva, ficou toda cheia de si.

— Cheia de mim, mãe? — Kathryn riu, meio sarcástica. — Se eu fiquei cheia de mim, então a senhora deve estar transbordando de si mesma. — Ela jogou outra pipoca na boca e sorriu, satisfeita com a provocação. — Mas sério, se sentir tanto a minha falta, vem aqui. Só cuidado, a casa ainda está cheia de caixas e você sabe que não vai encontrar o sofá perfeito que a senhora tanto adora.

— Ainda não arrumou essa casa, Kathryn Marie Hahn? Já faz o quê, duas semanas que você se mudou? — A voz da mãe ecoava do outro lado da linha, com aquele tom crítico que Kathryn conhecia tão bem.