Capítulo 9 - Um Telefonema

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Enquanto isso, em algum lugar do universo, um telefone tocou.

Fato absolutamente irrelevante à primeira vista, dado que telefones fazem isso com frequência. Mas, naquele caso, foi algo bem estranho.

A mesa era longa. Todo tipo de meio de comunicação já inventado, vindo de todos os lugares, repousava sobre ela. Um pequeno telefone roxo estava lá, empoeirando timidamente, entre hologramas, aparelhos de fax, mensagens em garrafas, chips de comunicação.

E foi ele quem tocou.

Ligando seu tradutor universal, o atendente se apressou a responder:

- Banco Universal Nebulosa, boa - a calculadora de tempo referencial demorou a funcionar - ... noite.

A voz do outro lado era fraca e gaguejava um pouco.

- B-boa noite... eu estou interessado em fazer uma negociação.

- Pois não, senhor. Vou encaminhar sua ligação para o departamento de--

- Não, não... me transfira para a gerência geral.

- Senhor, temo que a gerência geral não seja a encarregada pelas negociações com clientes. Posso transferi-lo para a central de ajuda, se assim desejar.

- Não... apenas a gerência geral.

- Senhor...

Fez-se um pequeno silêncio.

- Quais são os seus negócios aqui com o Banco Universal?

Outro pequeno silêncio.

- Eu desejo comprar o banco.

- Senhor, se isso for algum tipo de brincadeira...

- Falo sério. Posso entregar o valor que o gerente geral quiser, quando ele quiser.

- Senhor, temo que isso realmente não possa ser levado a sério.

- V-você sabe com quem está falando?

Naquele instante, em todas as telas, em todos os hologramas, em tudo surgiu uma mesma imagem. Uma imagem ao vivo do sujeito que falava ao telefone. 

- Senhor, creio que não há nada que possa provar a autenticidade de tudo isso, posso transferi-lo par--

Nesse instante, como se para se certificar de que o jovem estava entendendo bem a mensagem, um pequeno círculo formado por bolinhas de luz azuis foi projetado sobre seu peito, e seu raio diminuía a cada instante. Não havia erro: aquilo era a mira de uma arma a laser. E de uma arma bem específica, na verdade. Da arma mais cara, rara e potente conhecida até então. Sabia-se do paradeiro de apenas uma unidade daquelas: notoriamente, ela fazia parte do arsenal de defesa pessoal de... céus, só poderia ser ele, mesmo. 

O rapaz não conseguiu ver ninguém apontando a arma para ele: era como se aquela luz surgisse do nada. Mas sequer pensou muito no assunto. Se aquilo era uma brincadeira, ele não queria dar a vida para testar.

- Por favor, essa noite pode acabar em tragédia para você.

O jovem se viu sem escolha.

- Oh... me desculpe, e-eu não fazia ideia de que--

- Está tudo bem. Só transfira essa chamada, certo?

- C-certo... boa noite, o Banco Universal Nebulosa agradece a sua p-p-preferência.

O círculo sumiu.

- Claro, claro. Boa noite.

O jovem atendente transferiu a chamada e ficou lá, estupefato, com o telefone reproduzindo a musiquinha de espera em seu ouvido. Mais tarde, quando contou aos seus amigos o que acontecera, todos riram da cara dele. Era impossível algo assim acontecer.

Só acreditaram na manhã seguinte, quando todos os meios de comunicação em massa do universo anunciaram as mesmas duas coisas. Primeiro, anunciaram que o Banco Universal Nebulosa tinha sido vendido.

Ainda assim, alguns permaneceram céticos.

Não tinham, entretanto, como duvidar do ocorrido quando, bem na frente de seus olhos, um agente da polícia intergaláctica jogou seu amigo, o jovem atendente, para dentro da nave de segurança máxima e decolou sem dizer mais nada. 

A questão é que o rapaz estava sendo acusado de ter causado a segunda das manchetes noticiadas por todos os meios de comunicação em massa do universo. 

O gerente geral do Banco Universal Nebulosa fora assassinado na noite anterior.


O Abismo das 1001 PortasOnde histórias criam vida. Descubra agora