"QUEE?! Eu morri? Morri do que eu tava vivo? Isso é o céu?!"
Pensamentos como esse passavam pela minha cabeça, quando tudo o que eu via na minha frente, agora, era um lugar branco sem nada. Era vazio, simplesmente vazio...nada estava presente naquele lugar, não havia formas de vida, era como se aquilo não existisse e nem eu fosse real.
Havia um som fraco que penetrava o ambiente. Ele foi se graduando ao poucos, até ficar totalmente audível. A sirene de uma ambulância que não parava de tocar. O som foi se transformando em imagens, de uma rua movimentada. Prédios grandes cobertos por Outdoors brilhantes cheios de informação sobre maquiagem e publicidades. Podia ver as pessoas andando apressadas e os carros passando em grande quantidade. O som alto da cidade e as luzes piscantes começaram a me deixar tonto. Minha cabeça girava tentando encontrar alguma informação que eu pudesse identificar com clareza. A visão estava acelerada, só podendo enxergar vultos na minha frente. Eu só conseguia distinguir um som em meio as de Tokyo, o som da ambulância que ouvi naquele sala branca.
"Tokyo, o que eu tou fazendo em Tokyo? Eu não vim pra Tokyo. Kushiro...Hokkaido... Era lá que eu devia ter, na casa da Srta. Yamamoto... A Srta. Yamamoto! Onde...onde?!"
Esses pensamentos tomavam conta de mim enquanto procurava por algo familiar...Foi quando eu olho para trás e vi os médicos tirando uma maca de dentro da ambulância da sala branca. Meu corpo se encheu de um arrepio que eu gostaria de nunca ter sentido. Era frio e assustador, minhas pernas lutavam para se manter em pé, o mundo começou a desaparecer ao me redor, consumido por um vazio de cor nenhuma. Minha respiração estava descompensada e as lágrimas banhavam meu rosto de uma maneira fria e mortífera, minha mão agarrava com força meu peito. Meu corpo estava em desespero, meu coração acelerado, eu podia ouvir ele batendo todas as vezes, como se dissesse: "você falhou" a cada batida. "Preciso me mover" "Preciso chegar até ela"...
Minhas pernas deram o primeiro passo com dificuldade, mas pararam, não só ela, como o tempo ao meu redor. Um homem com mais ou menos 30 anos de idade saía de trás da ambulância da sala branca e acompanhava a maca, junto de uma garotinha de quatro anos, que apontava e gritava: "Mamãe! Mamãe!" com lágrimas que partiram o coração de qualquer um que visse aquela cena.
Nessa hora eu entendi porque a batida do meu coração dizia: "Você falhou". Eu falhei em protege-la. Fiz com que ela perdesse o brilho radiante de sempre e se transformasse em algo sem vida, clamando para que pudesse voltar a brilhar, algo velho e frágil, empoeirado por causa do tempo, com qualquer toque se tornado algo que fique em mil pedaços diferentes sendo impossível de ser concertado. Eu falhei como namorado dela. Não era eu quem estava do seu lado naquela hora. Eu estava assistindo ela perder seu brilho ao lado de outra pessoa. Meu corpo começou a clamar por uma segunda chance e eu podia ouvi-la clamando por ajuda. As lágrimas já não eram geladas, mas queimavam meu rosto a cada uma que caía. Tomadas por ódio e raiva, tristeza e desespero, minhas pernas clamavam por poder estar ao lado dela. Eu ia alcançar ela, eu vou alcançar ela, eu preciso alcança-la.
Por mais que eu corresse com a força de um coração partido pelo amor e pela tragédia, eu não conseguia chegar nela, era como se ela não quisesse que eu a alcança-se. Eu podia ouvir ela pedindo por socorro, então por que ela não me deixava ajudar? Por que?
Essa vida não era minha, essa "lembrança" não me pertencia...parou. Elas não se movem mais em direção ao hospital. Tá "tudo bem"... Tá "tudo bem"...Tá...Levantei no susto da minha cama, ofegante e suando. Permaneci sentado procurando uma maneira de recuperar o fôlego perdido. O edredom cobria somente minhas pernas, eu consegui sentir as gotas de suor se formando e escorrendo pelo meu rosto, queimando cada parte dele. Eu olho para o lado buscando identificar alguma coisa familiar...Tsukasa...Ele estava dormindo tão tranquilamente esparramado na cama, praticamente metade do seu corpo estava fora do edredom. O suor havia parado de escorrer pelo meu rosto e meu fôlego havia se restaurado. Eu suspiro levemente, dizendo com aquilo que agora...eu tava b...
"SAKI!?"
Na pressa de me levantar da cama, eu prendi meu pé em alguma parte daquele edredom, o que fez com que eu caísse da cama. Me levantei com pressa, e ainda meio agachado corri até a porta do quarto e abri ela com força. Quando saí do quarto com pressa, fui pego de surpresa pela luz do sol às seis da manhã qua entrava pelas grandes janelas de vidro da sala. Coloquei a mão na frente do meu rosto afim de tampar a luz que chegava até mim, com todo aquele seu brilho da manhã " oii! acorda que você tem que trabalhar querido empregado! ".
Acostumado com a luz, comecei a correr e abrir todas as portas da casa, gritando Saki em todos os cômodos que eu abria.
"Sa...Saki..."
Eu coloquei as mãos no joelho, recuperando o fôlego depois que eu a havia encontrado. Levantei minha cabeça para observa-lá. Meus olhos se arregalaram de admiração. A luz do sol iluminava cada traço dela. A tela que ela estava pintando dava acrescentava um toque a mais de...humm...como é que tá mesmo?! asthethic?!
Ela vira a cabeça lentamente e me olha nos olhos... A luz havia deixado eles mais esverdeados do que azul. Em uma das mãos ela segurava um pincel, e na outra, uma palheta de madeira, que já havia sido muito usada. Tinha resquícios de tinta azul na sua mão e no nariz dela. A blusa branca que ela usava estava manchada com as cores da pintura. A franja dela estava lesa com uma presilha no topo da cabeça, com o resto do cabelo curto solto, balançando levemente com o pouco de vento que havia naquela manhã.
Ela sorriu quando me viu, aquele sorriso radiante de sempre, que faz vc esquecer de tudo quando olha para ele. Senti minhas bochechas cortarem levemente:
-"Good Morning, Darling!"
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23 e 25
RomanceSe soubéssemos que duraria tão pouco, teríamos aproveitado mais. O amanhã de nossas vidas nunca chegou. A lembrança daqueles dias parece mais um borrão, um sonho que eu tive. Muitas vezes, a realidade é difícil de aceitar, e muitas vezes, recusamos...