Manu cruzou as pernas numa pose de femme fatale. O vestido preto e o sapato vermelho combinavam pouco com o sol que agora entrava pela janela e enchia o quarto de claridade. Mas não havia alternativa, não havia como trocar de roupa, muito menos transformar o dia em noite de uma hora pra outra. Então ela aproveitava e fazia poses na poltrona de couro enquanto observava Massimo se trocar. O corpo dele continuava lindo e perfeito mesmo na luz inclemente do começo da tarde.
Ele vestiu outra cueca boxer preta, depois um jeans escuro.
- Você só usa um tipo de cueca? – Manu perguntou enquanto ele abotoava a calça.
- Sim. Economia de tempo. Pense que podia ser pior se eu repetisse sempre o figurino completo, como o Steve Jobs.
Manu não disse nada. Era completamente a favor das boxers pretas. Ainda mais naquele corpo. Massimo sentou-se na cama para colocar as meias cinza-escuras e as mesmas botas de couro da noite anterior. Gastou algum tempo amarrando os cadarços com os braços numa posição que evidenciava os ombros musculosos. Depois ergueu-se novamente, e olhou para Manu com aquele sorriso constante nos lábios:
- Como hoje é seu dia de folga, pensei em cozinhar algo pra você... – disse enquanto vestia uma camiseta preta.
Manu encarou aquele homem em pé diante dela. Certo... Massimo Pastore me levou pra jantar, Massimo Pastore me comeu, Massimo Pastore me levou ao primeiro (e ao segundo) orgasmo da minha vida, Massimo Pastore gozou na minha garganta, agora Massimo Pastore vai cozinhar pra mim? Acho justo!
- Você quer cozinhar pra mim? – perguntou para se convencer de que aquilo estava realmente acontecendo.
- Sim. Não sei se você tem algum compromisso, mas podíamos ir às compras.
- Compras?
- É, gosto muito do mercado municipal. Deve estar vazio a essa hora...
- Mas eu... – Manu pensou em dizer algo sobre sua roupa, um tanto imprópria para compras no mercadão, mas achou que não valia a pena se apegar a detalhes àquela altura do campeonato.
- Só tem uma questão... – Massimo exclamou enquanto pegava a carteira na gaveta da mesinha ao lado da entrada.
Manu não respondeu, apenas observou-o ainda sentada na poltrona de canto, com as pernas elegantemente cruzadas.
- Eu não tenho onde cozinhar. Será que você...
- A cozinha do Carmona está a sua total disposição, senhor Pastore – Manu exclamou num tom de voz grave e cinematográfico, cruzando e descruzando as pernas feito Sharon Stone em Instinto Selvagem.
- Ótimo – ele disse batendo as mãos – então você me acompanharia durante as compras?
- Seria um prazer, senhor Pastore – Manu respondeu sorrindo e aceitando a mão que ele lhe estendia.
***
O Mercado Municipal de São Paulo está longe de ser o melhor lugar para se fazer compras na cidade. Os ingredientes são de primeira, mas os preços raramente compensam. Mesmo assim, Manu costumava passar ali ao menos uma vez por semana. Gostava de olhar o pé direito altíssimo de arquitetura clássica, a luz filtrada pelos vitrais coloridos. Gostava de conversar com os vendedores, de descobrir os ingredientes frescos que automaticamente lhe traziam ideias para novos pratos.
Suas visitas, contudo, costumavam ser bem diferentes daquela. Geralmente ela ia de manhã bem cedo, quando os melhores produtos ainda não haviam sido vendidos. Em vez de vestidos longos e sensuais, costumava usar jeans e camiseta. E raramente ia acompanhada. Muito menos por estrelas de primeira grandeza da gastronomia mundial.
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Fogo Alto
RomanceE se fosse possível reunir sexo, comida e literatura em um único lugar?