Manu rolou preguiçosamente para o lado da cama. Moveu as pernas lentamente e sentiu o lençol de algodão egípcio, o colchão firme na medida certa, o travesseiro macio de penas de ganso, as cobertas perfumadas e macias. Esticou o braço para alcançar o iPhone no criado-mudo. Apertou o botão central e se espantou com o horário: meio-dia e meia. Havia dormido nove horas seguidas.
Não era raro isso acontecer depois das longas noites de trabalho dos fins de semana. O corpo e a mente imploravam por descanso após dezenas de horas seguidas de ralação na cozinha do Carmona. O que surpreendeu Manu, portanto, não foi a quantidade de horas que ela dormiu. Foi a profundidade do sono. Sentia como se houvesse acabado de fechar os olhos e, de repente haviam se passado nove horas. Mas tudo bem, essa era a beleza de ser chef às segundas-feiras.
O mundo inteiro praguejando contra a rotina e você morgando entre as cobertas depois de.... meu Deus! Aquilo havia realmente acontecido... A noite passada tinha sido real... Sawada, hotel Fasano, Massimo Pastore e não apenas um, mas dois inacreditáveis orgasmos.
Manu se ergueu na cama e olhou ao redor. Delicadas cortinas brancas filtravam a luz do sol. O quarto era mesmo real. Quanto a Massimo, havia dúvidas. Ele não estava na cama, não estava na poltrona de couro, nem no banheiro com a porta aberta e as luzes apagadas. Ela levantou um pouco as cobertas e constatou o que já suspeitava. Estava completamente nua.
Enrolou mais um pouco virando de um lado para o outro, até tomar coragem e se sentar na cama. Estava dolorida. O corpo inteiro, como se tivesse corrido uma maratona. Mas era uma dor agradável, como se partes desconhecidas de seu corpo tivessem subitamente tomado vida.
Levantou-se e caminhou lentamente até o banheiro. Estava molhada, encharcada do seu próprio gozo e do de Massimo. Entrou no chuveiro e deixou água quente escorrer pelo corpo enquanto lembrava os acontecimentos da noite anterior. Ficou por ali uns dez ou quinze minutos, depois saiu do boxe, enxugou-se, escovou os dentes com a única escova disponível, a escova de Massimo Pastore... Usou o secador apenas para tirar o excesso de água dos cabelos, fez um coque, vestiu o roupão branco do hotel e foi até a janela.
Era um claro e ensolarado dia de outono. Olhou as árvores do bairro dos Jardins, que se estendiam como um tapete felpudo com centenas de tons de verde, pontuados pelo alaranjado de algumas copas que logo perderiam as folhas. Lembrou novamente da noite anterior. De Massimo na sua boca, de Massimo a penetrando no salão do Carmona, de Massimo beijando seu sexo, do olhar de Massimo cravado nela enquanto a fazia gozar descontroladamente.
Sentia falta dele. Queria mais. Estava cheia de desejo e seria mentira dizer que não havia algum fogo queimando dentro dela. Algo, contudo, havia mudado. A origem e a forma desse desejo haviam se transformado. A chama, que na noite anterior a fazia ansiar desesperadamente por Massimo, tinha sido apagada. Agora havia outra, acesa pela saudade e pela vontade de ter mais, de ser apagada outra vez.
Mas afinal onde ele está?, Manu se perguntou voltando a examinar o quarto. Só então notou que, no lugar do champanhe e dos morangos, havia uma bandeja de prata com café da manhã. Dois pequenos bules de café e leite, uma taça de suco de laranja, uma tigelinha de morangos, dois croissants, três tipos de geleia e manteiga. Ao lado, um singelo vasinho com uma rosa espetada. E, encostado na xícara de porcelana com detalhes dourados, ela notou um pequeno envelope creme.
Então é isso. Um bilhete de despedida. Que grande surpresa!... O conquistador internacional. Seduz, leva pra cama, depois dispensa com um café da manhã que ainda por cima já deve ter esfriado. Manu sentiu um gelo no estômago enquanto pensava tudo isso, abria o envelope e tirava o pequeno cartão lá de dentro.
"Bom dia, senhorita Carmona.
Não morra de saudade pois em breve estarei de volta.
Não vejo a hora de usar minhas duas tentativas restantes.
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Fogo Alto
Roman d'amourE se fosse possível reunir sexo, comida e literatura em um único lugar?