Acordando de um pesadelo

27 7 6
                                    

O frio da madrugada parecia infiltrar-se em cada uma das marcas em seu corpo, cada hematoma uma lembrança viva da noite anterior. Soobin abriu os olhos lentamente, oscilando entre o torpor e a dor, e a visão ainda embaçada o impediu de enxergar o quarto ao redor. Ele mal conseguiu se lembrar como havia chegado ali, os acontecimentos da noite anterior relampejando em sua mente como um filme distorcido, deixando-o atordoado e nauseado. Sua cabeça latejava, e o peso em seus pensamentos era tão insuportável quanto a dor física que percorria seu corpo enfraquecido.

Ao tentar se mover, Soobin sentiu algo deslizando de sua coxa. Era um bilhete. Ele o segurou, a visão ainda borrada, mas as palavras marcadas com a caligrafia fria de sua mãe eram claras o suficiente para fazê-lo estremecer:

"Seu celular, computador, seus livros estão confiscados. Joguei fora parte das suas roupas, porque são muito femininas. E você vai passar a arrumar a casa. Se você não conseguir ser forte lá fora, pelo menos será útil aqui."

Cada frase foi um golpe novo, um lembrete cruel da humilhação. Ele piscou, incrédulo, como se esperasse que as palavras desaparecessem, que tudo aquilo fosse um pesadelo. Mas o bilhete continuava ali, sólido e real, confirmando tudo o que ele desejava esquecer.

"Por quê... por que isso tinha que ser comigo?" murmurou, e a voz soou rouca, quase um eco de seu próprio desespero.

Ele ajudou a levantar-se, apoiando-se nas mãos, mas seu corpo fraquejou, suas pernas tremiam como se fossem cedidas a qualquer momento. Após algumas tentativas desajeitadas, forçou-se a ficar de pé, e cada passo para fora do colchão era uma luta para manter o equilíbrio. As costelas doíam, cada respiração era como uma lâmina cortando sua pele, e ao se ver diante das escadas, ele hesitou.

Soobin começou a subir, seus movimentos lentos e desajeitados, como um animal ferido tentando se mover sem chamar a atenção. Cada degrau parecia uma eternidade, e ele precisou engolir o impulso de gritar de dor, mantendo-se em silêncio, escondendo-se das sombras daquela casa que deveria lhe oferecer abrigo. Quando finalmente alcançou seu quarto, ele cambaleou até o banheiro e se apoiou na pia, olhando o reflexo no espelho.

Seu rosto estava marcado, as bochechas e lábios ainda inchados. As olheiras acentuavam seu olhar vazio e derrotado, e ele mal se reconhecia na figura que o espelho devolvia.

"Por que eu acreditei nela? Por que eu achei que, se eu fosse melhor... ela me ama?"

Aquelas perguntas ecoavam em sua mente, enquanto ele deslizava para o chão, os ombros cedendo sob o peso do desespero. No chão frio, ele se sentiu sujo, um estranho na própria pele, e o cansaço logo o vencido. Com um último suspiro, ele se aninhou sobre o azulejo do banheiro, dormindo ali mesmo, com o peso da dor e da humilhação esmagando seus últimos resquícios de esperança.

O cochilo de Soobin foi breve, interrompido por algo inesperado. Ele sentiu uma umidade gelada escorrer pelo rosto e acordou com um sobressalto, encontrando-se coberto por pequenas gotas que pingavam do teto. A chuva que caía lá fora parecia ter encontrado um caminho por alguma fissura no telhado, e agora gotejava sem piedade em seu banheiro, salpicando-o com água gelada.

Soobin atrai o olhar para o teto, os olhos cansados ​​observando as gotas caindo uma a uma, como lágrimas que o mundo derramava em sintonia com as suas. Cada gota que o tocava parecia intensificar a sensação de que ele estava preso em uma tempestade interminável, sem abrigo, sem paz. Ele sentiu um frio cortante, aquele tipo de frio que vinha de dentro, agravado pela umidade que se infiltrava em sua pele machucada, fazendo-o estremecer.

Suspirando, Soobin apoiou-se na pia novamente .

"Nem o mundo me deixa em paz", murmurou amargamente.

Soobin mal conseguia se mover ao finalmente repousar na cama. A dor tomava conta de cada centímetro de seu corpo, e ele se sentia quebrado, física e emocionalmente. Quando finalmente conseguiu puxar seu bloquinho, suas mãos tremiam tanto que mal conseguia segurar a caneta. Mas ele precisava registrar aquilo — de alguma forma, precisava soltar para fora aquela agonia que parecia que iria sufocá-lo.

Sob o Peso do Nome - YeonbinOnde histórias criam vida. Descubra agora