Sob o Peso do Nome - Yeonbin

Pés no chão

Na manhã seguinte, Soobin acordou mais cedo que o normal, o peito apertado com uma inquietação que ele não conseguia ignorar. A cartinha de Yeonjun e os doces estavam escondidos na sua mochila, mas, ao contrário da noite anterior, agora o presente parecia pesar. Por mais que tivesse sido um gesto de carinho, ele sabia que mantê-lo era arriscado demais. A ideia de sua mãe descobrir aquilo o enchia de medo, e ele já conseguia imaginar os gritos e a raiva que se seguiriam.

Suspirando, Soobin vestiu o uniforme e colocou a mochila no ombro, saindo para a escola. Durante o caminho, tentava encontrar as palavras certas para dizer a Yeonjun. A gratidão era genuína, mas o medo era ainda maior. Precisava devolver o presente antes que algo pior acontecesse.

Ao chegar ao colégio, Soobin encontrou Yeonjun encostado no corredor, perto da sala de aula, mexendo no celular com o semblante descontraído. Soobin parou por um instante, observando-o à distância. Ele sabia que aquele gesto havia sido a coisa mais gentil que alguém tinha feito por ele em muito tempo, e devolver o presente parecia errado. Mas ele sabia que precisava.

Yeonjun notou sua presença e abriu um sorriso ao vê-lo se aproximar, mas logo o sorriso se desfez ao notar a expressão séria de Soobin. Soobin se aproximou, pegando o presente de dentro da mochila e o estendendo de volta para Yeonjun, com a mão ligeiramente trêmula.

— Eu... eu agradeço, Yeonjun — murmurou Soobin, com a voz baixa.

Ele tentou encontrar as palavras certas, mas seu tom de voz saiu hesitante e quase tímido.

— Foi muito gentil da sua parte e... eu realmente gostei.

Fez uma pausa, tomando coragem para continuar. Baixou o olhar, fixando-se no chão, e respirou fundo antes de terminar.

— Mas... você nunca me viu sorrir para dizer que ama meu sorriso.

Yeonjun franziu a testa, claramente surpreso com a resposta. Ele olhou de volta para o presente em sua mão e, em seguida, para o rosto de Soobin. O sorriso que normalmente o iluminava estava tingido de algo que Soobin não conseguia decifrar — talvez decepção, talvez compreensão.

— Soobin... você não precisa devolver. Eu só queria te ver feliz — respondeu Yeonjun, a voz suave e carinhosa.

As palavras de Yeonjun pareciam carregar uma simplicidade e uma sinceridade que faziam o nó na garganta de Soobin apertar ainda mais. Ele queria aceitar, queria confiar, mas sabia que não podia.

Soobin engoliu em seco, tentando manter a calma, mas sentindo os olhos ardendo com a pressão das emoções que lutavam para escapar.

— Eu sei... mas não posso ficar com isso.

Sem esperar mais resposta, ele deu um passo para trás, tentando evitar o olhar de Yeonjun, que parecia triste, mas também compreensivo. Soobin sabia que aquela era a escolha certa para se proteger, mas, ao mesmo tempo, a sensação de perder algo precioso o corroía por dentro.

Após devolver o presente a Yeonjun, Soobin virou-se rapidamente e saiu pelo corredor, tentando ignorar o aperto no peito que parecia aumentar a cada passo. Sentia um nó que não se desfazia, uma sensação amarga de ter rejeitado algo tão sincero. Mas ele repetia para si mesmo que não tinha escolha. Era o único jeito de manter uma distância segura daquilo que poderia complicar sua vida.

Enquanto caminhava até a sala, cada passo parecia uma luta. Sentia uma mistura de culpa e vazio, mas sabia que, se olhasse para trás, veria o olhar de Yeonjun — e temia que aquilo o quebrasse de vez. Precisava se manter forte, mesmo que esse "forte" fosse apenas um disfarce para não desmoronar.

Ao entrar na sala de aula, Soobin escolheu um lugar no fundo, longe das janelas e do foco dos outros alunos. Sentou-se com o corpo rígido, quase como se estivesse se protegendo. Soltou o ar lentamente, tentando controlar a tensão que ainda percorria cada músculo. Olhou para os livros sobre a mesa, mas a mente vagava longe, revivendo as palavras de Yeonjun e a imagem do presente que ele acabara de devolver.

Ficar longe de qualquer laço, qualquer gesto de carinho, era sua única forma de autoproteção. Sabia que, se baixasse a guarda, poderia se apegar a algo que, no fundo, sabia que não poderia ter.

Apesar de todo o conflito interno, sentia-se, de algum modo, aliviado. Era uma dor conhecida, uma que ele podia suportar, pois sabia como lidar com ela. E enquanto se acomodava no fundo da sala, sozinho com seus próprios pensamentos, a única certeza que tinha era de que esse sacrifício era o único jeito de manter os pés no chão, de não se deixar levar por sonhos que não cabiam em sua realidade.