Talvez...

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Soobin encarava o teto, em silêncio, enquanto o tempo parecia se arrastar. Mesmo depois de algumas semanas, os hematomas no corpo finalmente começaram a diminuir. A dor física estava, aos poucos, desaparecendo, mas, estranhamente, ele não sentia que as coisas estavam realmente melhorando. A cada manhã, a sensação de peso em seu peito parecia aumentar, como se a felicidade ou o descanso fossem peculiares destinados a outros – e não a ele.

Nos últimos dias, ele tinha tentado ignorar as marcas roxas que ainda restavam, mas eram difíceis de esquecer. Cada movimento brusco lembrava-o das últimas discussões, das palavras duras e das mãos pesadas de sua mãe. Soobin se perguntou quando as palavras dela também se tornaram mais simples de ignorar. Afinal, as marcas do corpo poderiam sumir, mas as cicatrizes que ela deixava em sua mente ainda o atormentavam.

Ele fechou os olhos por um momento, tentando se concentrar no som fraco do silêncio ao seu redor, uma última tentativa de encontrar calma antes que o alarme tocasse. Contudo, a paz não vinha.

De repente, o barulho do despertador preencheu o quarto, estridente. Soobin se falou rapidamente e caminhou até o banheiro, onde o ambiente frio parecia relembrar seu próprio estado emocional. Ele ligou o chuveiro, deixando a água morna cair sobre sua pele, esperando que aquele momento o ajudasse a esquecer as dores, nem que fosse por alguns minutos.

Após o banho, Soobin pegou uma toalha e secou o cabelo platinado, tentando evitar os pensamentos que normalmente surgiam quando se olhavam no espelho. Ele vestiu sua camiseta, calça e suspendeu os cadarços do tênis. Estava amarrando o último nó quando seu celular vibrou em cima da cama.

Olhou para a tela e viu que era uma ligação de Yeonjun. Aquele pequeno gesto, tão simples, fez algo dentro dele se rir. O contato com alguém como Yeonjun parecia até irreal – como se ele estivesse vivendo um lampejo de normalidade em meio à sua vida turbulenta.

– Alô? – Soobin atendeu, a voz baixa.

– Ei, Soobin! Só queria confirmar o nosso encontro à tarde, para finalizarmos o trabalho. Você esperou na cafeteria e não esqueceu de levar as anotações, hein? – disse Yeonjun, com uma leveza que deixava transparecer o sorriso dele do outro lado da linha.

Soobin murmurou um "vou levar" um pouco sem jeito, antes de desligar e se apressar em descer as escadas. Para sua surpresa, a casa estava silenciosa e vazia. Sem o olhar vigilante de sua mãe, ele respirou aliviado. Pegou uma maçã da cozinha e saiu, comendo rapidamente enquanto caminhava até o ponto de ônibus.

Como de costume, a trajetória estava repleta de adolescentes rindo e conversando alto, mas ele conseguiu ignorá-los. Ao chegar na escola, foi estudado por uma notícia inesperada: o colégio ofereceria uma viagem de intercâmbio de duas semanas, paga para os alunos selecionados. Soobin sentiu uma felicidade sincera, algo raro, ao pensar na oportunidade de ficar longe de casa e de sua rotina exaustiva.

Mas logo o sinal tocou, e ele bateu para a primeira aula. O professor Hwang, de artes, estava mais uma vez dando sua aula monótona, enquanto a maioria dos alunos o observava com admiração, atraídos pelo seu visual. Ele era conhecido como o "irmão  bonito" da treinadora Hwang, e o comentário estava sempre presente nas conversas dos alunos. Soobin, no entanto, não se deixa envolver; apenas anotava o essencial enquanto o professor falava sobre estilos de pintura com uma voz que soava entediante para ele.

O intervalo passou sem grandes eventos. Ele observou, distante, alguns colegas trocando carícias nos corredores, enquanto ele se mantinha isolado. As últimas aulas seguiram o mesmo ritmo, sem nada de interessante, e o dia escolar finalmente chegou ao fim.

Mesmo exausto, Soobin pegou seus livros e saiu do colégio, sabendo que teria que enfrentar o cansaço para o encontro com Yeonjun na cafeteria. E, ainda que cansado, uma pequena esperança parecia pulsar ali.

Sob o Peso do Nome - YeonbinOnde histórias criam vida. Descubra agora