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Narrado por Lorran

Era engraçado como, mesmo com todas as mudanças, a Isa ainda era a pessoa que mais me entendia. Muita coisa tinha mudado: eu agora jogava pelo Flamengo e ela tinha virado uma influencer. Mas no fundo, nossa amizade continuava a mesma.

Depois de um treino cansativo, a primeira coisa que fiz foi mandar uma mensagem pra ela. Às vezes, não sabia se queria desabafar ou apenas me distrair, mas com a Isa, sempre acabávamos rindo no final. Combinei de nos encontrarmos na pracinha de sempre, o lugar onde a gente jogava bola e fazia tudo quando éramos crianças. Ali, eu não era o jogador Lorran, e ela não era a influencer Isabela. Éramos só... a gente.

Cheguei primeiro e me sentei em um banco velho debaixo de uma árvore. Do meu lugar, dava pra ver os balanços enferrujados que usávamos na infância. Lembrava bem de como a Isa sempre queria balançar mais alto, mesmo quando eu falava pra ela não se arriscar. Mas ela nunca levava a sério, e isso era uma das coisas que eu adorava nela.

Minutos depois, ela apareceu, com aquele jeito despreocupado e um sorriso no rosto. Saiu do carro e caminhou até mim, toda ofegante.
-Se eu soubesse que ia pegar trânsito, tinha mandado você me buscar, famoso!

Revirei os olhos, tentando bancar o indignado.

-Engraçadinha. Como se você não tivesse um carro próprio agora.

Ela riu, e a paz que eu sentia sempre que estávamos juntos me envolveu.

A conversa fluiu naturalmente. Ela me contou dos planos pra gravar um novo vídeo e sobre uma parceria que estava fechando. Era incrível ver como ela tinha crescido e se tornado uma influenciadora de verdade. Mas claro, logo voltamos a falar das coisas da infância, quando o "conteúdo" dela era só as bobagens que a gente fazia no colégio.

-Lembra daquela vez em que pegamos chuva aqui na pracinha?

Ela começou a rir, e a imagem daquela tarde surgiu na minha mente. Eu e ela, tentando nos esconder debaixo de uma árvore minúscula, sem sucesso.

-Acho que nunca corremos tanto na vida- completei, rindo também.

-Só porque você disse que não ia chover. ela se fez de ofendida, mas estava claramente se divertindo. -Eu só queria me divertir!

-Dizer que você 'se divertiu' não é bem o que eu chamaria daquilo, mas tudo bem- eu disse, dando um leve empurrão nela.

As risadas continuaram, e conforme falávamos de outras memórias, como os dias na praia, como a vez em que tentamos construir uma cabana com cobertores e quase derrubamos a casa da minha avó.

-Por que a gente parou de se ver tanto? Isabela perguntou, seu tom agora mais sério. -Com a vida corrida, é fácil deixar essas coisas de lado.

Eu suspirei, pensando na verdade que aquela pergunta trazia.
-Eu sinto falta disso, sabe? A vida muda, as prioridades mudam... mas eu não quero que isso aconteça com a gente.

Ela me olhou com sinceridade, e por um momento, a conversa parecia mais profunda do que o habitual.
-É, eu também não. Mesmo com toda essa loucura, eu gosto de saber que você está por perto. É reconfortante.

Era estranho sentir isso, a intensidade da amizade crescendo, mas ao mesmo tempo, algo mais. Não era apenas uma amizade comum, e eu percebia que talvez, lá no fundo, eu quisesse algo diferente. Mas agora não era o momento de explorar isso.

-Então vamos fazer um pacto,eu disse, tentando aliviar a tensão no ar. -Toda vez que pudermos, a gente se encontra. Sem desculpas. Apenas nós dois.

Isabela sorriu, aliviada. - Tá bom, combinado.

O sol já estava quase se pondo, e eu sabia que estava na hora de ir, mas não queria que aquele momento acabasse.
-Quer ir ao jogo no próximo fim de semana?

-Você vai jogar, né?
Ela perguntou, um brilho de empolgação nos olhos.

-Vou! Quero que você esteja lá. A torcida do Flamengo vai ficar muito mais feliz com você assistindo, eu disse, piscando.

-E a torcida do Vasco vai ficar chateada kkkkkkk, mas vou tá lá!

Ela respondeu, e a maneira como ela se referiu ao seu time me fez rir. Era engraçado pensar que a rivalidade que sempre existiu entre nós era apenas uma parte do que nos tornava nós.

Nos levantamos e começamos a caminhar até o carro dela, lado a lado. Enquanto andávamos, a conversa continuava leve, mas eu não conseguia evitar de olhar para ela de vez em quando, admirando seu jeito de ser, a alegria que irradiava.

A noite estava começando a cair, e as luzes da pracinha começaram a se acender, criando uma atmosfera mágica. Lembro de como as estrelas começaram a aparecer no céu, e, por um momento, tudo parecia perfeito.

-Olha aquelas estrelas, Isabela disse, apontando para o céu. -Elas sempre me lembram de que há algo maior lá fora.

Eu concordei, mas, ao mesmo tempo, não conseguia deixar de pensar que, naquele momento, ela era o que mais importava pra mim.

-Sabe, Isa, quando olho pra elas, não consigo evitar de pensar que, de alguma forma, elas sempre estiveram ali, mesmo quando não as víamos. Assim como nós.

Ela me lançou um olhar curioso. -O que você quer dizer com isso?

-Quero dizer que, mesmo que a vida mude e a gente tenha menos tempo um para o outro, ainda somos amigos. Sempre seremos.

Eu parei e olhei em seus olhos, tentando transmitir o que sentia.

A expressão dela suavizou, e percebi que as palavras tinham ressoado de alguma forma. - Sempre, espero que a gente nunca perca isso.

Antes que eu pudesse responder, ela me surpreendeu ao se aproximar e me dar um abraço apertado. Eu fiquei paralisado por um segundo, surpreso com a proximidade, mas logo correspondi, envolvendo-a em meus braços. O cheiro dela, aquele perfume suave, me envolveu, e foi como se o tempo parasse novamente.

Quando nos separamos, o sorriso dela estava mais radiante do que nunca.
-Vamos fazer isso mais vezes, tá? Afinal, nossa infância compartilhada merece um espaço especial nas nossas vidas.

-Com certeza.
eu concordei, sentindo uma alegria inesperada por ter essa amizade tão forte e real. Sabia que, enquanto estivesse ao lado dela, tudo ficaria bem.

Enquanto ela abria a porta do carro, percebi que a amizade de infância não era apenas uma parte do nosso passado. Era a base do que estávamos construindo juntos.

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Infância Compartilhada- Lorran.Onde histórias criam vida. Descubra agora