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Narração de Lorran

Narração de Lorran

A semana passou como um borrão. Entre treinos, compromissos e a correria de sempre, tudo parecia girar ao redor de um só pensamento: Isabela. Desde a comemoração do último jogo, me pegava lembrando cada detalhe de quando ela estava no estádio, torcendo por mim. O jeito dela, o sorriso que ela me deu ao final, e, principalmente, o abraço apertado que trocamos depois da partida. Aquele abraço ficou na minha cabeça, ressoando como um sinal de que havia algo mais entre a gente.

O engraçado é que eu sempre soube que Isa era especial. Desde que éramos crianças, ela era a primeira pessoa para quem eu contava tudo, a amiga que estava lá nas derrotas e nas conquistas. Mas, dessa vez, algo era diferente. Era como se a nossa amizade estivesse tomando outro caminho, e, pela primeira vez, não me assustava a ideia de descobrir o que isso significava.

Depois de um treino puxado na sexta-feira, mandei uma mensagem para ela, chamando-a para sair. Não pensei muito no que dizer, só senti que precisava vê-la, passar mais um tempo ao lado dela, entender melhor o que estava sentindo. A resposta dela veio em segundos, como se estivesse esperando:

Isabela:
“Pizza? Tô dentro. Chega aqui em casa às 20h!”

Era uma sensação engraçada, uma mistura de ansiedade com empolgação, como se fosse um encontro de verdade. Passei na pizzaria que ela gostava e escolhi o sabor de sempre. Mesmo conhecendo cada detalhe dela, agora, cada gesto parecia ter um significado novo. Quando finalmente cheguei na casa dela, me surpreendi com a rapidez com que abriu a porta, o sorriso radiante de sempre no rosto.

— E aí, jogador! — Ela brincou, enquanto me puxava pra dentro. — Trouxe a pizza?

— Claro, né. Não ia correr o risco de aparecer sem comida aqui — brinquei, me sentindo mais à vontade com ela.

Nos acomodamos no sofá, com a pizza entre nós, como fazíamos desde sempre. Ela riu ao pegar um pedaço e comentar sobre meu jeito desleixado de servir. Por fora, era tudo normal, mas por dentro eu estava tentando controlar uma onda de nervosismo, como se estivesse em uma final de campeonato.

— E aí, como foi a semana? — perguntei, pegando um pedaço e tentando disfarçar o quanto estava ansioso.

— A mesma correria de sempre — ela respondeu, dando de ombros. — Vídeos, faculdade, compromissos... Nada comparado à sua rotina de jogador.

Enquanto ela falava, fui percebendo o quanto gostava de ouvi-la, de estar ali, no meio das conversas que sempre foram tão naturais entre a gente. Mas, ao mesmo tempo, eu sentia que o silêncio entre as frases trazia uma tensão nova, algo que nunca esteve ali antes. Era como se cada segundo de conversa fosse carregado por uma vontade de dizer algo mais, de abrir o jogo sobre o que eu realmente sentia.

— E você? Preparado pro próximo jogo? — perguntou ela, como quem tenta manter a leveza, mas eu percebi que ela também estava inquieta.

— Tentando, né. Mas, sei lá, tem sido diferente ultimamente… — comecei, hesitante.

Ela me olhou com curiosidade, e eu soube que era a hora de ser sincero, de uma vez por todas. Não dava pra continuar guardando isso.

— Isa, você já se pegou pensando… se nossa amizade poderia ser mais? — falei, finalmente, soltando o que estava preso dentro de mim.

Ela ficou em silêncio, a expressão meio surpresa, mas também não parecia exatamente chocada. Era como se, de alguma forma, ela já soubesse que esse momento estava por vir.

— Ah, Lorran… — Ela riu, um pouco nervosa. — A gente sempre foi assim, né? Só amigos, nada demais…

— É, eu sei. Mas, sei lá, às vezes eu sinto que as coisas mudaram — continuei, agora sem medo de ser direto. — Parece que tudo o que a gente sempre teve tá crescendo, ficando mais intenso. E… tô tentando entender se você sente o mesmo.

O silêncio entre a gente foi um dos mais intensos que já experimentei. Ela me olhava, e eu não desviava o olhar, esperando alguma resposta, qualquer coisa que me desse uma direção. Finalmente, ela deu um longo suspiro, soltando as palavras com cuidado.

— Lorran… — ela disse, mais séria agora. — Acho que… sim, de certa forma, eu também sinto algo diferente. Mas, ao mesmo tempo, fico pensando no que isso pode fazer com a gente, sabe? E se complicar tudo?

Eu entendi o medo dela, e sabia que era um medo real. Ninguém quer perder uma amizade como a nossa, ainda mais por causa de um sentimento novo e incerto. Mas também sabia que eu preferia enfrentar essa incerteza a nunca saber o que realmente significava esse sentimento.

— Sinceramente? Prefiro saber o que isso significa do que continuar me questionando. A gente já passou por tanta coisa junto, Isa. E se não formos nós dois pra entender, quem vai? — respondi, tentando ser o mais sincero possível.

Ela sorriu, e naquele momento percebi que, apesar de todas as dúvidas, havia uma parte dela que compartilhava esse sentimento comigo. Com cuidado, segurei sua mão. A mão dela estava quente, e o toque era suave, mas carregava uma intensidade que eu nunca tinha sentido antes. Ela não afastou, ao contrário, apertou de volta, e ficamos assim, em silêncio, sentindo o peso de tudo aquilo.

Ficamos ali, lado a lado, por mais algum tempo, sem precisar de palavras. O simples fato de ter aberto meu coração e de ela não ter recuado já era o suficiente para mim. Senti que, pela primeira vez, tínhamos dado um passo além, mesmo que não soubéssemos onde isso nos levaria.

Quando finalmente nos despedimos, ela me deu um abraço apertado, e eu senti que não era só o Lorran, amigo dela, que estava ali. Era alguém que poderia significar algo mais. Eu saí de lá com o coração leve, como se tivesse deixado uma parte de mim com ela, e soubesse que, de agora em diante, nada mais seria igual.

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