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Narração de Lorran

Ver a Isa no meio da minha família, no churrasco, rindo e se divertindo como se aquele fosse o lugar dela, me trouxe uma paz que eu nem sabia que estava buscando. Depois do jogo, toda a agitação foi se acalmando aos poucos. Já passava da meia-noite, e a galera foi indo embora, um a um. Agora éramos só nós dois, sentados lado a lado na varanda, enquanto as luzes da casa se apagavam e o silêncio da madrugada tomava conta.

Eu olhei para ela de lado, com aquele sorriso fácil no rosto e o olhar perdido nas estrelas. A camisa dela estava levemente amassada, o cabelo um pouco bagunçado, e, de algum jeito, tudo isso a fazia parecer ainda mais bonita. Sentia o cansaço do jogo, mas o simples fato de estar ali com ela tornava o momento especial. Eu sabia que precisava dizer alguma coisa, mas as palavras pareciam ter travado na garganta.

— Tá pensativo, hein? — Ela quebrou o silêncio, me olhando de lado.

Sorri, tentando disfarçar o nervosismo.

— Acho que tô, né? Foi um dia intenso — respondi, dando de ombros. — E, sei lá, ver você lá na torcida… Isso foi especial.

Ela abaixou o olhar por um instante, mas logo deu aquele sorriso tímido, que eu conhecia bem.

— Não ia perder por nada, Lorran. Afinal, não é todo dia que posso ver meu melhor amigo jogando tão bem assim.

Ela usou a palavra "melhor amigo", e eu senti uma pontada estranha no peito. Era como se a palavra estivesse fora de lugar, sabe? Como se algo a mais estivesse querendo emergir ali, mas eu não sabia exatamente o que. Então, arrisquei.

— Às vezes, parece que a gente voltou no tempo. Eu e você, juntos, rindo de bobeira… Só que agora você cresceu, virou influencer e tudo mais. — A última frase saiu meio enrolada, como se eu estivesse tentando dizer algo além.

Ela me olhou, inclinando a cabeça, e deu um suspiro leve.

— E você virou um jogador de futebol famoso, Lorran. Mas ainda é o mesmo menino de sempre. A diferença é que, agora, eu sinto que cada vez que te vejo, você tá um pouco mais longe.

Aquelas palavras mexeram comigo. Ela não tinha ideia de quanto eu tentava ficar por perto, mesmo quando tudo parecia conspirar pra me afastar.

— Eu também sinto isso — confessei, mais sério do que queria. — Só que eu não quero que seja assim. Não com a gente.

Ela sorriu de leve e, por um momento, achei que ia se aproximar. Mas ela apenas desviou o olhar para o céu, como se tentasse encontrar as palavras certas.

— Lembra daquela vez que você me disse que sempre que olhássemos pras estrelas, poderíamos pensar um no outro?

Eu concordei, lembrando daquele momento da nossa infância. E foi ali, enquanto ela olhava as estrelas, que uma ideia começou a surgir na minha cabeça. O que se passava entre nós ia além de amizade, e talvez eu estivesse finalmente pronto pra admitir isso.

— Isa, sabe quando você tem a sensação de que algo sempre esteve com você, mas você só percebe o quanto é importante quando está prestes a perder?

Ela virou o rosto pra mim, surpresa, e, pela primeira vez, senti que a verdade estava ali, estampada nos meus olhos.

— Tá falando de mim, Lorran?

Engoli em seco, tentando reunir a coragem que faltava. Então, me aproximei um pouco mais, quase sentindo o perfume dela no ar, e falei baixinho:

— Tô, sim. Porque acho que tô começando a perceber que, sem você, nada faz tanto sentido.

Ela ficou em silêncio por um tempo, e eu podia ouvir nossos corações batendo, cada vez mais rápido. Aquela era a primeira vez que colocávamos em palavras o que, talvez, sempre esteve ali.

Apenas quando ela pegou minha mão, senti que estava no caminho certo. Então, ali, sob a luz suave das estrelas, senti que algo estava mudando entre nós.

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