Capítulo 1: Sonho Sobre Rodas

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Simone, desde que se entendia por gente, sonhava em conquistar o mundo com suas próprias mãos. Ela cresceu em uma pequena cidade, cercada por colinas e estradas que pareciam não ter fim, e sempre que via um motoqueiro passar, sentia um arrepio de emoção e curiosidade. Aquela liberdade pura, o vento no rosto, o ronco do motor ecoando nas ruas — eram imagens que acendiam nela um desejo profundo e uma necessidade de fazer parte daquele mundo.

Aos 19 anos, Simone estava à procura de um rumo para sua vida. Embora fosse jovem, seu coração já guardava aspirações e sonhos de uma vida cheia de aventuras, e não queria se prender a uma rotina comum. Um dia, enquanto caminhava pelo centro da cidade, observou uma loja diferente de todas as outras: uma espécie de oficina e museu ao mesmo tempo, cheia de motos antigas e exóticas que pareciam pertencer a outra era. Lá dentro, encontrou Jofre, o dono daquele espaço quase mágico. Ele era um homem de idade, de olhar profundo e roupas de couro desgastadas pelo tempo, mas carregava uma energia jovial, e seu jeito simpático encantou Simone.

Jofre era um colecionador de motos antigas e um restaurador habilidoso. Ele falava sobre as motos com um amor e uma paixão que Simone nunca havia visto em ninguém antes. "Essas máquinas," dizia ele, acariciando com carinho o tanque de uma motocicleta cromada, "são como almas que viajam pelo mundo, com histórias que precisam ser contadas." E Simone ficou fascinada. Passou horas ouvindo suas histórias sobre viagens longas, aventuras que enfrentara sozinho pelas estradas e sobre cada moto ali na oficina, todas com suas marcas, cicatrizes e lembranças de tempos passados.

Entre aquelas motos, havia algumas que chamavam mais a atenção de Simone: coloridas, com adesivos, pinturas e detalhes personalizados que faziam com que cada uma tivesse uma personalidade própria. Uma das motos tinha um dragão vermelho pintado no tanque, representando proteção e força; outra era azul com estrelas amarelas, lembrando o céu noturno sob o qual tantos motoqueiros viajavam. Simone se perdeu em pensamentos e, ao voltar a si, percebeu que Jofre a observava.

"Aposto que você quer uma moto dessas, não é?" perguntou Jofre com um sorriso maroto, e Simone não conseguiu esconder o sorriso empolgado. "Mais que qualquer coisa!", respondeu, sem hesitar.

Foi ali, naquela oficina cheia de poeira e encanto, que Simone percebeu que queria fazer parte daquele universo. Passou a visitar Jofre com frequência, escutando suas histórias e ajudando-o a polir as motos ou arrumar pequenos detalhes. Em troca, Jofre ensinava um pouco sobre o mundo das motocicletas e a importância de respeitar a estrada, os outros viajantes e a própria máquina. "Uma moto é mais do que metal e motor," dizia ele. "Ela é a expressão de quem a guia. Precisa ser cuidada e compreendida."

Certa vez, Jofre mostrou a ela um álbum de fotos de suas viagens. Eram imagens de desertos infinitos, florestas densas, cidades antigas e praias deslumbrantes. Em cada foto, ele estava ao lado de uma moto diferente, e cada moto parecia ter sido especialmente preparada para aquela viagem em particular. Simone podia ver a alegria em seus olhos enquanto ele relembrava aquelas aventuras. "A estrada é o lugar onde realmente conhecemos a nós mesmos," ele disse, com um olhar pensativo. "E cada moto que montei teve um propósito, uma missão única."

Essa frase ficou ecoando na mente de Simone. Ela queria encontrar esse tipo de propósito. Sentia que, assim como Jofre, também tinha uma missão e que, de alguma forma, a resposta estava ali, na estrada, esperando por ela. Cada vez mais determinada, ela começou a sonhar com uma moto que fosse só dela, algo único que representasse a pessoa que era e o caminho que queria trilhar.

Um Novo Amigo e Mentor

Com o passar dos meses, Simone e Jofre criaram um vínculo que ia além do comum. Ele a tratava como uma filha e, ao mesmo tempo, como uma amiga com quem podia compartilhar seus pensamentos e segredos. Jofre sentia que Simone tinha um espírito diferente dos outros jovens que conhecia — ela era aventureira, mas também sensível e atenta aos detalhes. Isso o encantava, pois via nela um pouco de si mesmo em sua juventude.

Certo dia, enquanto estavam em um café próximo da oficina, Jofre revelou algo especial para Simone. "Sabe," disse ele, tomando um gole de seu café, "eu já pensei em construir uma moto que fosse a combinação perfeita de delicadeza e força. Algo que refletisse a coragem e a suavidade das mulheres, mas que fosse também uma verdadeira fera nas estradas." Simone o olhou, intrigada e empolgada ao mesmo tempo. Ele continuou: "Estou pensando em criar essa moto para você, Simone. Seria minha obra-prima e seu passaporte para o mundo."

As palavras de Jofre encheram o coração de Simone de alegria e excitação. Ela mal conseguia acreditar que, em breve, teria uma moto especialmente feita para ela. "Você realmente faria isso por mim?", perguntou, com lágrimas de felicidade brilhando em seus olhos. Jofre assentiu, sorrindo. "Mas será um segredo nosso. Vou trabalhar nela aos poucos, e quando estiver pronta, você será a primeira a ver."

O Nascimento da Rosa-Choque

Os meses que se seguiram foram repletos de expectativa e ansiedade. Simone não via a hora de ver a moto pronta, mas Jofre trabalhava pacientemente, cuidando de cada detalhe como se estivesse moldando uma obra de arte. E, em certo sentido, era exatamente isso que ele estava fazendo. A cada semana, Jofre permitia que Simone visse um pouco mais do processo — uma pintura aqui, um detalhe cromado ali —, mas o design final era sempre um mistério.

Certo dia, Jofre decidiu contar a Simone a origem da inspiração para a moto. "Sabe por que a cor dela é rosa-choque?", perguntou ele. "Porque acho que essa cor representa a força escondida que você tem. Ela é vibrante, intensa e impossível de ignorar. É como você: uma jovem com sonhos enormes, cheia de vontade de conquistar o mundo."

Simone ficou emocionada. Para ela, aquela moto era mais do que um veículo — era uma extensão de si mesma, um símbolo da liberdade que tanto desejava. E agora, com a moto finalmente quase pronta, ela podia sentir que seu sonho estava prestes a se realizar.

A Primeira Viagem

Finalmente, após meses de espera, o grande dia chegou. Simone foi até a oficina, mal conseguindo conter sua empolgação. Jofre a esperava, com um sorriso orgulhoso, ao lado da "Rosa-Choque". Ela era tudo o que Simone sonhara e mais. A pintura era de um rosa intenso que brilhava ao sol, e o design era arrojado, com detalhes delicados e, ao mesmo tempo, poderosos. O motor roncava alto, emitindo um som que era como música para seus ouvidos.

Jofre lhe entregou um pequeno sino pendurado ao lado da moto. "Esse é o Sino Guardião", explicou ele, com um olhar sério. "Ele é um amuleto. Diz a lenda que seu tilintar afasta perigos e protege quem está na estrada. Sempre que precisar de ajuda, toque o sino. Estarei com você, onde quer que vá."

Simone não conseguiu segurar as lágrimas. Abraçou Jofre com força, grata por tudo o que ele fizera. Aquele momento era o início de uma nova vida, e ela sabia que nada seria mais importante do que essa primeira viagem. Colocou o capacete, ajustou as luvas e subiu na Rosa-Choque, sentindo uma mistura de empolgação e medo. Mas o sorriso em seu rosto revelava que nada poderia impedir seu sonho.

Seguindo em Frente

A primeira vez que acelerou a Rosa-Choque foi como se estivesse voando. O vento batia em seu rosto, e ela sentia o ronco da moto reverberar em seu peito. As árvores passavam rapidamente, e o horizonte se desenhava à sua frente como uma promessa de liberdade. Simone estava, finalmente, vivendo seu sonho, e isso era mais poderoso do que qualquer coisa que poderia ter imaginado.

Ela sabia que essa era apenas a primeira de muitas aventuras que a aguardavam. Agora, com sua Rosa-Choque, seu coração estava livre para explorar o mundo, uma estrada de cada vez.

A  Garota da Moto Rosa -ChoqueOnde histórias criam vida. Descubra agora